sábado, 24 de setembro de 2011

TERMOGÊNICOS E DEFINIÇÃO MUSCULAR – PARTE 2

Olá Pessoal! Dando continuidade ao estudo dos termogênicos ou "queimadores de gordura" para definição muscular, principalmente em relação à definição de abdome, pretendo abordar agora a combinação de efedrina, cafeína e aspirina (ECA). De qualquer forma, minha discussão começa pelos fármacos e, futuramente, abordarei a suplementação nesta área. Mais adiante também irei passar algumas dicas importantíssimas para obter o abdome espetacular, eliminando a protuberância abdominal ou barriga flácida. Para os menos informados, minha intenção continua sendo trazer informações científicas sobre algumas práticas usadas nesta área de nutrição e atividade física. Não estarei condenado ou apoiando tais práticas, estarei apenas prestando esclarecimentos através de uma compilação de informações, ou seja, reunião de obras literárias e artigos científicos mais relevantes na área. Enfim, boa leitura e não se esqueça da autodisciplina para atingir seus objetivos: “Autodisciplina é a capacidade de a pessoa se submeter às regras, opções e comportamentos escolhidos por ela mesma, mesmo diante de dificuldades” (William Douglas).

EFEDRINA

A efedrina é um dos medicamentos mais usados para emagrecimento, já que acelera o metabolismo e a queima de gordura. Contudo, como ela funciona? Qual a dosagem? Existem riscos a saúde? Calma, responderei todas estas dúvidas, mas antes vamos às considerações iniciais.


Efedrina é obtida do extrato vegetal conhecido como Ma Huang, sendo uma das práticas medicinais mais antigas do mundo. Há séculos os Chineses descobriram as aplicações terapêuticas da Ephedra (Ma Huang) no tratamento de afecções do sistema respiratório. Chineses, Japoneses e Indianos usam efedrina para fins medicinais, incluindo asma, tosse, dores articulares, gripes e resfriados. Aliás, podemos encontrar dois tipos de efedrina, a Ephedra sinica (Ma Huang) e a Ephedra viridis (Mormon tea), sendo que só a primeira contém uma concentração considerável de efedrina. Contudo, plantas da família das efedráceas existem mais de 40 espécies distribuídas em regiões de clima temperado e subtropical. Atualmente, o medicamento contendo efedrina é usado como descongestionante nasal e broncodilatador. Mas, obviamente, este fármaco também chegou ao esporte, como no fisiculturismo (bodybuilding). Em outros esportes a droga também tem sido encontrada, bem como nas mãos da população não-atleta que busca um emagrecimento rápido e, na maioria das vezes, sem acompanhamento de um profissional de saúde qualificado.


Cabe salientar que a American Medical Association (AMA, www.ama-assn.org), a Health Canada (www.hc-sc.gc.ca), a National College Athletics Association (NCAA, www.ncaa.org), o International Olympic Committee (IOC, www.olympic.org), a Food and Drug Administration (FDA, www.fda.gov) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, www.anvisa.gov.br) têm recomendado a proibição da venda e consumo de efedrina para fins de estética corporal, sendo a mesma considerada Doping entre os atletas e inúmeras publicações advertem sobre os riscos de saúde associados à droga. Se o problema com a efedrina está neste nível, então, imaginem a combinação com cafeína e aspirina? E se adicionar a combinação com clembuterol (CLEM)? E se associarmos tudo a má nutrição e falta de orientação profissional? Sua comercialização é proibida no Brasil, mas é de fácil aquisição pela internet ou em academias, então, como fica esta situação?


Mas, enfim, como funciona a efedrina? Não posso, novamente, fugir da bioquímica e fisiologia nesta discussão. E, portanto, serei detalhista, embora que buscando uma linguagem acessível a todos. Para facilitar sua leitura, gostaria de abordar cinco conceitos fundamentais inicialmente.


CONCEITO 1: Sistema Nervoso Central


O sistema nervoso coordena as funções normais (fisiológicas) do organismo humano, sendo formado por neurônios. Neurônios são células responsáveis pela transmissão do impulso nervoso. A comunicação entre dois neurônios se dá através de um pequeno espaço entre eles chamado de sinapse, ou seja, correspondem aos pontos onde determinados neurônios se encontram e se comunicam. Esta sinapse pode ser química (realizada por substâncias ou mediadores químicos conhecidos como neurotransmissores) ou elétrica (através da participação de partículas com cargas positivas e negativas). Assim, um neurônio pré-sináptico (neurônio que veio antes e transmite uma informação) se comunica com o próximo chamado de neurônio pós-sináptico (neurônio que veio depois e recebe a informação). Para facilitar o entendimento, imaginem a afiação de sua residência. A luz de sua casa só acende porque um fio se liga a outro, permitindo a transmissão deste impulso, o que permite a luz ao invés da escuridão. Da mesma forma estamos falando aqui, onde neurônios são fios ligados entre si para obter um resultado final, que neste caso não é acender a luz, mas, sim, trazer uma ação fisiológica. Ainda, o sistema nervoso pode ser dividido em Sistema Nervoso Central (SNC), formado pelo encéfalo (localizado no crânio) e medula espinhal (localizado no canal vertebral) e Sistema Nervoso Periférico (SNP), formado por gânglios nervosos (pequena coleção de células nervosas) e nervos (feixe de fibras nervosas). A efedrina é uma amina simpatomimética que age sobre o sistema nervoso central (SNC).


CONCEITO 2: Estímulo Simpatomimético


A efedrina é uma amina simpatomimética que age sobre o SNC, ou seja, estimula o encéfalo e medula espinhal. O que significa simpatomimético? Retomamos, aqui, aquele conceito abordado na postagem sobre clembuterol (CLEM). Existem estimuladores do SNC que podem ser classificados em estimulantes psicomotores (que causam excitação, euforia, diminuem a sensação de fadiga e aumentam a atividade motora) e estimuladores alucinógenos, psicotomiméticos ou simpatomiméticos (que produzem alterações de raciocínio e humor e estimulam o sistema nervoso propriamente dito). A efedrina é simpatomimética, ou seja, estimula o SNC imitando os efeitos das catecolaminas.


CONCEITO 3: Catecolaminas


A efedrina é simpatomimética, ou seja, imita as ações das catecolaminas. O que são catecolaminas? Existem três tipos básicos de catecolaminas: a adrenalina (epinefrina ou EP), a noradrenalina (norepinefrina ou NE) e a dopamina (DA). Ambas ocorrem naturalmente em nosso organismo e estimulam respostas fisiológicas. A efedrina não é uma catecolamina, mas, sim, uma amina simpatomimética. Desta forma, a efedrina imita as ações da adrenalina e noradrenalina, particularmente. A efedrina é também mencionada como sendo um alcalóide vegetal, ou seja, quimicamente são estruturas, derivadas de vegetais, que contém essencialmente nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e carbono e possuem propriedades farmacológicas usadas na formulação de medicamentos. Ainda, a efedrina pode ser produzida de maneira sintética em laboratório. Enfim, a efedrina é uma amina simpatomimética, que imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE), através de sua interação com receptores adrenérgicos no SNC.


CONCEITO 4: Receptores Adrenérgicos


A efedrina mimetiza (imita) as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC, o que ocorre pela interação com receptores adrenérgicos. O que são receptores adrenérgicos? No SNC há dois tipos de receptores adrenérgicos, ou seja, proteínas presentes nas membranas das células (neste caso, localizados em neurônios) e que interagem com determinadas substâncias. Estes receptores são denominados em receptores do tipo alfa (alfa-1 e alfa-2) e beta (beta-1 e beta-2). Qual a diferença entre os receptores alfa e beta? Vejamos abaixo os tipos de receptores:


- Receptores adrenérgicos alfa-1. Estes estão presentes nas membranas dos neurônios pós-sinápticos e interagem com norepinefrina (NE). Os receptores alfa-1 promovem a vasoconstrição, aumento da resistência periférica, aumento da pressão arterial, midríase (dilatação da pupila em função da contração do músculo dilatadora da pupila) e maior fechamento do esfíncter interno da bexiga urinária.


- Receptores adrenérgicos alfa-2. Estes se localizam nas terminações pré-sinápticas e promovem a inibição da liberação de NE e de insulina pelo pâncreas. Os receptores alfa-2, então, estão envolvidos na recaptação ou remoção de neurotransmissores em neurônios pré-sinápticos, como a remoção de NE.


- Receptores adrenérgicos beta-1. Estes se localizam nos neurônios pós-sinápticos e tem a mesma afinidade para EP e NE. Os receptores beta-1 atuam sobre a musculatura cardíaca, causando taquicardia, aumento da contratilidade do miocárdio, aumento da mobilização de gordura do tecido adiposo (lipólise) e aumento na liberação da renina. A renina é uma enzima liberada pelos rins e provoca a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, envolvidos no equilíbrio do volume de líquido extracelular e pressão arterial.


- Receptores adrenérgicos beta-2. Estes se localizam nos neurônios pós-sinápticos, tendo maior afinidade para EP. Sua ativação leva a vasodilatação da musculatura lisa, leve redução da resistência periférica, broncodilatação, aumento da degradação de glicogênio hepático e muscular, aumento na liberação do hormônio glucagon e relaxamento da musculatura uterina.

Em relação aos medicamentos, o clembuterol (CLEM) estimula os receptores adrenérgicos beta-2, enquanto que a efedrina estimula os receptores alfa-1, beta-1 e beta-2. Em outras palavras, a efedrina é um agonista adrenérgico de ação mista.


CONCEITO 5: Agonistas Adrenérgicos

Observe como você já aprendeu bastante. A efedrina é uma amina simpatomimética que mimetiza as ações das catecolaminas. Porém, ela não é uma catecolamina e apenas imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC. Isso ocorre porque a efedrina liga-se a receptores adrenérgicos do tipo alfa-1, beta-1 e beta-2. Sua grande interação com diferentes receptores garante o título de agonista adrenérgico de ação mista. O que é um agonista adrenérgico de ação mista? Agonista adrenérgico refere-se à característica de determinada substância química ou mediador químico (neste caso a efedrina), que atua sobre determinados receptores e desencadeia uma resposta celular em particular, podendo ser um aumento (ativação) ou diminuição de função (inibição). Usa-se, contudo, o termo antagonista para determinadas substâncias que atuam de forma contrária aos agonistas conhecidos, geralmente atuando como bloqueadores dos receptores envolvidos na resposta celular. Estes antagonistas também são conhecidos como inibidores competitivos ou não do encaixe do agonista-receptor. Esta reação também pode ser reversível ou irreversível. Há basicamente três tipos de agonistas.


- Agonistas de Ação Direta. A epinefrina (EP), a norepinefrina (NE) e a dopamina (DA) são agonistas de ação direta, ou seja, se ligam diretamente aos receptores pós-sinápticos sem interagir com o neurônio pré-sináptico.


- Agonistas de Ação Indireta. As anfetaminas, que discutiremos em outra postagem, são agonistas de ação indireta, ou seja, promovem a liberação de norepinefrina (NE) dos terminais pré-sinápticos.


- Agonistas de Ação Mista. A efedrina é um agonista de ação mista, ou seja, induzem a liberação de norepinefrina (NE) e ativam receptores pós-sinápticos. Isso ocorre porque a efedrina estimula a liberação de NE armazenada em vesículas dentro dos neurônios pré-sinápticos e sua interação com o receptor alfa-1, localizado no neurônio pós-sináptico. A efedrina também imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC através de sua interação com receptores beta-1 e beta-2.

Agora, sim, podemos responder aquela pergunta: Como funciona a efedrina? Com base no que foi dito, você pode entender que a efedrina é um potente fat burners (“queimador de gordura”). Seu efeito termogênico acelera o metabolismo e a geração de calor, “queimando a gordura corporal”, literalmente. Esta seria uma maneira simples de explicar, agora vamos a maneira mais complexa. A efedrina é um fármaco que atua sobre receptores (alfa e beta), promovendo uma grande variedade de efeitos ao organismo. Em relação ao emagrecimento, ele promove a mobilização de gordura do tecido adiposo uma vez que se liga aos receptores beta-1 adrenérgicos. Isso causa um aumento da lipólise (hidrólise dos triglicerídeos localizados no tecido adiposo) em uma reação catalisada pela lípase hormônio sensível (LHS), formando ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos sofrem oxidação (“queima”) na mitocôndria do tecido muscular esquelético, onde este processo é conhecido como beta-oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa. A efetiva “queima da gordura” necessita da participação de determinadas enzimas presentes na membrana da mitocôndria, particularmente a carnitina acil-transferase 1 (CAT-1) e a carnitina-aciltransferase 2 (CAT-2). A CAT-1 e CAT-2 permitem a translocação do ácido graxo para dentro da mitocôndria, local onde ocorre à beta-oxidação destes (“queima de gordura”). O resultado final é a obtenção de adenosina trifosfato (ATP, ou seja, energia) a partir de ácidos graxos, o que resulta em perda de peso à custa de lipídeos (gorduras). Além disso, a efedrina estimula os receptores beta-2 adrenérgicos, que aumentam a secreção do hormônio glucagon pelo pâncreas. O glucagon é um hormônio do estado de jejum (estado pré-absortivo), sendo responsável pela mobilização de reservas glicídicas (como o glicogênio hepático) e lipídicas (como os triglicerídeos do tecido adiposo). Neste sentido, a lipólise é novamente estimulada, embora a degradação do glicogênio hepático possa levar ao cansaço (fraqueza), fadiga (letargia) e hipoglicemia (baixos níveis de glicose no sangue). Por fim, a efedrina estimula a liberação de norepinefrina (NE), que se liga aos receptores alfa-1 adrenérgicos dos neurônios pós-sinápticos, levando a formação do segundo mensageiro conhecido como adenosina monofosfato cíclico (AMPc), que também ativa a lipólise do tecido adiposo.


Já que a cascata de efeitos da efedrina é grande, como vimos, será que existem riscos a saúde com o uso deste fármaco? Eu sempre imagino que uma tomada de decisão ou decisão inteligente deve vir de uma visão ampla por determinado assunto. Neste sentido, vou interromper nossa abordagem sobre efedrina para introduzir o seguinte pensamento: “Qual é o rei que, indo entrar em guerra com outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?” (Parábola sobre a importância do planejamento e organização). Creio que ainda não respondi a pergunta, então, continuemos nosso estudo da efedrina.


No passado, como foi dito inicialmente, a efedrina tinha uma proposta terapêutica, sendo útil nas afecções do sistema respiratório, facilitando a passagem de ar nos pulmões em pacientes com asmáticos, por exemplo. Sua ação como descongestionante nasal e broncodilatador fazem desta substância um medicamento bastante comum atualmente. Nos tempos modernos da “Era dos Espelhos”, contudo, o medicamento tem sido usado para reduzir o peso corporal, favorecendo o emagrecimento. Entre esportistas e atletas, seu uso parece ter função puramente estética.


Cabe salientar, então, alguns efeitos colaterais pela administração de efedrina. Vejamos o que diz a própria rotulagem destes produtos: “As declarações da etiqueta não são avaliadas pela Food and Drug Administration. Este produto não se destina ao diagnóstico, tratamento, cura ou prevenção de doença”. E ainda continua: “Não é recomendado para menores. Não usar se estiver grávida ou amamentando. Indivíduos que consomem cafeína com este produto pode ter graves efeitos adversos à saúde. Indivíduos que são sensíveis aos efeitos da cafeína devem consultar um profissional de saúde antes de consumir o produto. Em caso de overdose acidental, procure assistência profissional ou entre em contato com um centro de controle de intoxicação imediatamente. Evitar álcool enquanto estiver usando o produto. Não exceder a dose recomendada. Doses superiores a recomendada podem causar sérios efeitos adversos à saúde, incluindo ataques cardíacos e derrames. Descontinue o uso e chame um profissional de saúde imediatamente se tiver taquicardia, tonturas, dores de cabeça, falta de ar e outros sintomas similares. Uso indevido deste produto pode ser perigoso à saúde e dose superior a recomendada não melhora os resultados. Qualquer pessoa que tenha reação alérgica a marisco ou quitosana devem consultar um médico antes de consumir o produto”.


A literatura vai de acordo com as informações acima e ainda destaca: a efedrina aumenta a pressão arterial sistólica e diastólica por vasoconstrição e estimulação cardíaca. Ela ainda produz broncodilatação e estimula o sistema nervoso central (SNC), aumentando o estado de alerta, diminuindo a fadiga e dificultando o sono. Arritmia cardíaca, cefaléia (dor de cabeça), hiperatividade, alteração de humor, insônia, náusea e tremores das mãos são os sintomas mais comuns associados ao uso de efedrina. Alguns evoluem para arritmias, miocardite e infarto, justificado pelo estímulo dos receptores alfa e beta adrenérgicos.


Bem, você pode estar se perguntando: A efedrina parece perigosa, mas as pessoas usam e ninguém morre usando este produto? Isso não é absolutamente verdade. Foi publicado por no Arquivo Brasileiro de Cardiologia (87:179-181, 2006) o seguinte artigo científico: “Infarto do Miocárdio em Atleta Jovem Associado ao Uso de Suplemento Dietético Rico em Efedrina”, onde relata o caso de um atleta jovem (28 anos de idade), 104 kg, 1,77 metros, com grande massa muscular e pouca adiposidade, lutador de Vale-Tudo, sem fatores de risco para doença cardiovascular, que evoluiu para infarto no período em que fez uso de um suplemento rico em efedrina. O produto continha 250 mg de extrato de Ma Huang, o que equivale a 20 mg de efedrina e o atleta utilizou quatro comprimidos por dia (portanto, 80 mg/dia de efedrina). O atleta fez uso de efedrina para perder peso com relatos palpitação, tremores, insônia e dor torácica de forte intensidade em repouso. É importante destacar que não havia a presença outras complicações de saúde, tais como história pregressa de hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia ou história familiar de doença cardiovascular. O atleta negava o uso de drogas ilícitas e esteróides anabolizantes. Não havia alterações evidentes em exames laboratoriais (glicemia, perfil lipídico e creatinina). Foi verificado alterações no eletrocardiograma e cineangiocoronariografia, onde foi verificada a oclusão completa da artéria coronária. O atleta acabou falecendo sem exibir a definição muscular máxima esperada e sem atingir um pico no esporte. Agora você entende aquela Parábola do Rei em Guerra anteriormente? Ainda não? Então continue lendo.


Retomando o contexto inicial. A efedrina funciona para emagrecimento e definição corporal a fim de adquirir meu abdome reto e bem definido? Certamente que sim. A efedrina é um excelente estimulante energético que pode aumentar o rendimento atlético? Certamente que sim. Há riscos a saúde com a administração de efedrina? Certamente que sim. Qual a dosagem recomendada? E, ainda, existe alguma dose segura a fim de obter efeitos desejáveis e evitar os indesejáveis? Vamos finalizar estas colocações, portanto.


Os produtos costumam oferecer entre 20 e 25 mg de efedrina por comprimido, geralmente. A sugestão de uso é para 1 comprimido por dia (20 a 25 g/dia), embora existam pessoas que trabalhem com doses maiores (80, 100, 150, 200 ou 250 mg/dia). Não podemos, ainda, esquecer aquela história de dessensibilização dos receptores (alfa e beta) pelo uso prolongado de efedrina e outros fármacos, ou seja, perde-se sua sensibilidade para emagrecimento com o passar do tempo. Isso faz com que alguns indivíduos aumentem erroneamente a dosagem ingerida do fármaco. Este comportamento é perigoso a saúde em decorrência do aumento da temperatura corporal (hipertermia), taquicardia, aumento da pressão arterial, aumenta da freqüência cardíaca, aumento do risco de infarto ou derrame, até mesmo, conduzir ao óbito. Claro que o aumento da dosagem implica em maior capacidade em resistir ao esforço físico vigoroso em níveis muito maiores do que estaria acostumado, mas os riscos também aumentam grandemente.


Você poderia questionar as informações aqui apresentadas, pois deve conhecer indivíduos que fazem uso de efedrina em doses elevadas e nada sentem em efeitos colaterais e apenas exibem um abdome extremamente definido. Lembro, novamente, o artigo publicado em 2006 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 87:179-181, 2006) sobre o óbito de um atleta jovem usando efedrina. Você ainda poderia questionar as informações, onde pode ter um avô que fumou a vida toda e não faleceu de câncer de pulmão aos 99 anos de idade, se fossemos comparar ao tabagismo. Mas, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, www.inca.gov.br) em 90% dos casos diagnosticados de câncer de pulmão estão associados aos produtos derivados do tabaco, sendo que no Brasil o câncer de pulmão é responsável por 14.715 óbitos no ano de 2000. Lembro, também, que cada indivíduo é um indivíduo, ou seja, deveria pensar na individualidade biológica e a exceção a regra sempre existe. De qualquer forma, se você é hipertenso ou cardiopata deveria passar muito longe destes modelos de medicamentos ou suplementos contendo efedrina e pseudo-efedrina, principalmente quando associado a uma atividade física sem a orientação de um educador físico qualificado. Quer dizer, a Parábola do Rei em Guerra anteriormente citada diz que você está entrando em uma verdadeira “guerra” usando efedrina e pode ganhar (um abdome definido sem dúvidas) ou pode perder (coma e óbito, por exemplo).


Enfim, é muito engraçado, como profissional nutricionista, observar o seguinte comentário na rotulagem dos produtos contendo efedrina ou pseudo-efedrina: “Comer 5 ou 6 pequenas refeições por dia, reduzir o consumo de carboidratos e eliminar fast foods e refrigerantes da dieta”. Puxa, será que estas atitudes dietéticas, sem o uso de efedrina, já não seriam suficientes para a redução do peso e do percentual de gordura corporal? Será que não estamos subestimando o poder do treinamento físico? As pessoas levam 20 anos de sua vida ingerindo alimentos pobres do ponto de vista nutricional e parte destes anos em pleno sedentarismo, mas querem um físico esbelto do dia para a noite. Outros buscam um coquetel bastante conhecido entre fisiculturistas e pessoas que buscam resultados rápidos, que se trata da combinação de efedrina-cafeína-aspirina (ECA). Vejamos, então, a cafeína e aspirina.

CAFEÍNA

Cafeína é um alcalóide ativo da família das metilxantinas, sendo metabolizada no fígado em três metilxantinas: a paraxantina, a teofilina e a teobromina. Quer dizer, ela é rapidamente absorvida pelo intestino e atinge sua concentração máxima no sangue em 15 a 120 minutos após a ingestão, o que depende da dosagem e interação com outros alimentos na mesma refeição. Após, é metabolizada no fígado nas três metilxantinas destacadas. A quantidade total de cafeína excretada na urina depende de fatores genéticos, peso corporal, estado de hidratação e atividade física. A cafeína tem sido usada por esportistas e atletas que buscam redução da fadiga e emagrecimento.


A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central (SNC), diminuindo a percepção da fadiga. Mas, como ela funciona realmente? Seu mecanismo de ação seria igual ao clembuterol ou efedrina? Não exatamente. A cafeína aumenta as concentrações de norepinefrina (NE), o que estimula diretamente o processo lipolítico, ou seja, a “queima de gordura”. Isso se dá pela inibição da enzima chamada fosfodiesterase pela cafeína. Veja, quando a NE se liga a seu receptor (por exemplo, receptor adrenérgico alfa-1) no tecido adiposo, onde a adenosina trifosfato (ATP) é utilizada para gerar um segundo mensageiro conhecido como adenosina monofosfato cíclico (AMPc) em uma reação catalisada pela enzima adenil-ciclase. O AMPc produz uma cascata de eventos, onde a proteína quinase A (PKA) aumenta a atividade da enzima lipase hormônio sensível (LHS), que é responsável pela mobilização de gordura do tecido adiposo. Porém, depois de certo período de tempo, ocorre dessensibilização da NE ao receptor e o processo é interrompido. Neste caso, o AMPc é convertido em 5’-adenosina monofosfato (5’-AMP) pela fosfodiesterase do AMP. Segue o caminho de degradação da 5’-AMP e, como conseqüência, a interrupção do processo envolvendo a NE. Contudo, a cafeína inibe a fosfodiesterase, o que aumenta a meia-vida do AMPc intracelular e, conseqüentemente, aumenta as concentrações de NE ou permite sua interação continuada com o receptor específico. O resultado disso é a grande mobilização de gordura do tecido adiposo e o emagrecimento.


A cafeína também melhora a concentração e a capacidade de pensamento, bem como o desempenho das chamadas atividades motoras. Outros trabalhos mostram que a cafeína diminui a interação da adenosina no cérebro. Adenosina é um nucleosídeo formado pela adenina e ribose, mas não entraremos nestes detalhes. Basta dizer que a adenosina é uma substância vasodilatadora dos vasos sangüíneos, o que aumento o fluxo sangüíneo local. A adenosina também está envolvida com a sensação de sono. Todavia, a cafeína liga-se aos mesmos receptores onde se ligaria a adenosina e, desta forma, ele ocupa o lugar a adenosina. Sendo assim, a vasodilatação é substituída pela vasoconstrição promovida pela cafeína. Observem que alguns medicamentos para dor de cabeça possuem cafeína, já que a vasoconstrição tende a aliviar os sintomas. Em suma, outro mecanismo da cafeína seria antagonizar os efeitos da adenosina. Agora você consegue perceber porque algumas pessoas relatam insônia com o uso excessivo de cafeína?


Especula-se, também, que a cafeína aumente as concentrações de dopamina (DA), um importante neurotransmissor que atua sobre o sistema nervoso central (SNC). A dopamina (DA) está relacionada com as sensações de prazer e seus níveis elevados poderiam justificar um “vício da cafeína” pelos consumidores, o que representa toneladas anuais de consumo mundial de cafeína.


A cafeína é uma substância psicoativa encontrada em diversos produtos, tais como o café, o chá, o chocolate, os energéticos e os refrigerantes em doses variáveis. A cafeína tem sido encontrada também em diversos tipos de suplementos para emagrecimento e em doses bastante variáveis, podendo chegar a 200 ou 600 mg de cafeína por dose. Cabe lembrar que em 150 ml de café instantâneo contém 43,2 mg de cafeína; café filtrado tem 27 mg; café expresso tem 125 a 165 mg; café descafeinado tem 1,6 mg; bebida energética tem 82,5 mg; Ice Tea (bebida sem gás composto por chás e aromas) tem 7 a 19 mg e refrigerante tipo cola tem 17 a 30 mg de cafeína.


Muitos de vocês, caros leitores, ingerem cafeína diariamente, não é mesmo? Entretanto, será que uma dose excessiva de cafeína, como encontrada em suplementos esportivos, pode causar algum mal a saúde? Parece que sim. Os principais efeitos colaterais pelo uso excessivo de cafeína incluem a taquicardia, a dilatação da pupila, o aumento da pressão arterial e o aumenta da freqüência cardíaca, já que a cafeína permite a ação persistente da norepinefrina (NE). Claro, a cafeína também estimula o centro respiratório, responsável pelo aumento da freqüência e intensidade respiratória, bem como a broncodilatação. Seu uso também tem sido associado à contração dos músculos e a diminuição do fluxo de sangue ao estômago, bem como a estimulação da lipase hormônio sensível (LHS), responsável pela mobilização dos depósitos de gordura corporal. Para alguns indivíduos, o excesso de cafeína pode estar associado com relatos de tremores involuntários, nervosismo e dores de cabeça. Ainda, um excesso na dosagem de cafeína aumenta o volume urinário e a excreção de sódio pela urina, bem como a diminuição na reabsorção tubular renal de sódio e água. Uma vasodilatação da arteríola glomerular aferente (pequena artéria dentro dos rins) também seria responsável por um efeito diurético da cafeína que, de forma exagerada, poderia conduzir a desidratação. Sobre o sistema digestivo, a cafeína em doses superiores a 250 mg/dia estimularia a secreção de ácido clorídrico e da enzima pepsina (responsável pela digestão de proteínas) pela cavidade gástrica, o que seria contra-indicado para pacientes com gastrite ou úlcera. Por fim, pacientes sob atendimento psiquiátrico (esquizofrênicos, por exemplo) devem ser monitorados quanto ao uso de cafeína, uma vez que os sintomas podem ser agravados. Pacientes esquizofrênicos apresentam importante transtorno psicossocial e emocional com prejuízos na vida de relações interpessoais e familiares. Em 1963, os pesquisadores Carlsson & Lindqvist descreveram a teoria dopaminérgica na esquizofrenia, onde se observou que estes pacientes apresentavam uma hiperfunção dopaminérgica, ou seja, há um excesso de dopamina (DA) nestes pacientes. Todavia, a cafeína tende a aumentar os níveis de dopamina (DA), o que poderia agravar os sintomas da doença com uma sobrecarga dopaminérgica.


Entretanto, que dose de cafeína provocaria efeitos colaterais? E que dose de cafeína poderia trazer efeitos desejáveis, como emagrecimento e melhoria no pensamento? Bem, parece que os benefícios da cafeína em relação ao pensamento não devem ultrapassar 200 mg/dia, enquanto que seu efeito sobre o emagrecimento (inibição da fosfodiesterase e bloqueio da adesonina) é na ordem de 300 mg/dia. Entretanto, para pessoas não acostumadas ao uso de cafeína, 250 mg/dia de cafeína são suficientes para aumentar a freqüência cardíaca, causar palpitação e, até mesmo, aumentar a pressão arterial. Os relatos na literatura que associam o sono conturbado e insônia com o uso de cafeína são controversos. Alguns realmente apresentam insônia e mantêm-se alertas com o uso de cafeína (o que teria relação com o bloqueio da adenosina, já que este está envolvido com a sensação de sono), enquanto outros não sofrem influência alguma com doses de cafeína diárias e até mesmo, próximas à hora de dormir.


Tudo bem, parece que sensibilidade a cafeína é algo individual. Mas, homens e mulheres respondem diferentemente as distintas doses de cafeína? Bem, ainda não sabemos esta resposta, mas saiba que 3 a 6 miligramas por quilograma de peso corporal ao dia (3-6 mg/kg/dia) em cafeína já seria responsável por um ou mais relatados em alguns indivíduos. Vejamos, então, um cálculo simples: Se você é um homem de 75 kg poderia apresentar um ou mais efeitos com o uso de 225 a 450 mg de cafeína. Ainda, a dose de 8 mg/kg/dia é considerada Doping, ou seja, 600 mg de cafeína para nosso indivíduo de 75 kg. Doses de 10 a 15 mg/kg/dia podem causam toxicidade, incluindo distúrbios gastrintestinais, arritmia, ansiedade, nervosismo, alucinação, infarto e derrame (750 a 1.125 mg de cafeína para nosso indivíduo de 75 kg). Claro, se você é uma mulher de 55 kg, por exemplo, as doses seriam menores (55 kg x 6 mg = 330 mg de cafeína/dia, por exemplo).


E quanto tempo nosso organismo leva para se livrar de uma dose de cafeína? O tempo de meia-vida da cafeína é de 2 a 4 horas. Assim, se você ingeriu 125 mg de cafeína às 14 horas, um café expresso por exemplo, é provável que as 18 horas ainda restem 62,5 mg de cafeína para serem eliminadas do organismo, considerando que ele leve 4 horas de meia-vida (ou seja, o tempo que a cafeína se perde pela metade). Então, as 22 horas ainda restaram 31,3 mg de cafeína a serem eliminados, teoricamente. Isso é realmente impressionante e poderia, sim, atrapalhar o sono de alguns indivíduos mais sensíveis. Quer dizer, este indivíduo que teve um sono conturbado ou insônia buscará mais cafeína logo pela manhã e durante o dia, a fim de manter a qualidade de seu trabalho, seja um advogado, professor, engenheiro, arquiteto, analista de sistemas, etc. Observem que cria-se um verdadeiro ciclo vicioso a fim de manter o “coitado” do indivíduo sempre alerta.


Enfim, parece que o limite máximo de cafeína ao dia que não seria capaz de causar danos a saúde humana é na faixa de 500 mg/dia, o que equivale a meio litro de café em 4 doses durante o dia. Porém, em outros trabalhos, doses superiores a 350 mg/dia por 1 mês ou mais podem causar dependência e síndrome de abstinência em alguns indivíduos, que tende a desaparecer em poucos dias. Talvez seja interessante voltarmos aos cafezinhos de 60 ml após o almoço?


E quanto tem de cafeína nos suplementos esportivos oferecidos atualmente? O Red Line Ultra Hardcore da VPX, por exemplo, possui 290 mg de cafeína em 3 cápsulas. Já o Lipo 6X da Nutrex possui 200 mg de cafeína em 2 cápsulas, sendo que as pessoas ingerem 4 cápsulas ao dia (portanto, 400 mg/dia). O D4 Thermal Shock Cellucor possui 150 mg em 1 cápsula, sendo que as pessoas ingerir 4 cápsulas (600 mg/dia). Claro, estes e outros suplementos não possuem apenas cafeína em sua composição, mas uma série de substâncias completamente desconhecidas pela população leiga e que serão discutidas futuramente em outras postagens, como evodiamina, N-acetil-L-tirosina, guggulsterona, 5-hidroxi-L-triptofano, adenosina monofosfato cíclico, vinpocetina, yohimbina, sinefrina, citrus aurantium, octopamina, 1,3-dimetilamilamina, 1,3-dimetilfenilamina, trans-resveratrol, extrato de Ginkgo Biloba, entre outros. Neste sentido você deveria se perguntar: Eu sei exatamente o que estou ingerindo nesta pequena cápsula do produto? Caro leitor, imagino que muitos de vocês nunca fizeram tal pergunta e, por isso mesmo, minhas postagens tem a intenção de trazer tais esclarecimentos e ajudá-lo a pensar neste assunto.


Enfim, a cafeína tem a capacidade de aumentar as concentrações de norepinefrina (NE), o que aumenta a oxidação (“queima”) de gorduras. Sua combinação com efedrina e aspirina parece potencializar ainda mais esses efeitos de emagrecimento, bem como a supressão do apetite. Talvez isso potencialize uma estimulação prolongada do SNC, que poderia persistir entre minutos e horas. Entretanto, esta ação sinérgica, que promove a perda de peso e de gordura corporal, pode acarretar sérios problemas de saúde, pois estaria sobrecarregando o SNC, bem como a liberação extra de glucagon pelo pâncreas (hiperglucagonemia). Obviamente este sinergismo de função através da manipulação de efedrina (geralmente 20 a 25 mg/dia) com cafeína (geralmente 200 mg/dia) e aspirina (geralmente 300 mg) é efetivo para promover o emagrecimento. Porém, é uma verdadeira “bomba” ao organismo e os riscos a saúde aumentam grandemente. Alguns argumentam que o ECA (efedrina-cafeína-aspirina) não seria capaz de produzir efeitos colaterais em indivíduos sadios, porém os mesmos estão esquecendo da individualidade biológica, onde cada indivíduo pode responder diferente as determinadas substâncias administradas. De qualquer forma, quem seriam os indivíduos sadios? Francamente, qual esportista ou atleta faz previamente uma bateria de exames para só depois usar um produto dito termogênico? E quais destes mesmos indivíduos sadios fazem uso de tais produtos sob acompanhamento médico e/ou de um profissional nutricionista?


Finalmente, a cafeína não é considerada uma droga, nem mesmo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A cafeína é aceita socialmente em todas as classes sociais. Para algumas pessoas, os verdadeiros “baldes” de café (e não mais um cafezinho de 60 ml) são indispensáveis para manter a correria do dia-a-dia e manter-se sempre desperto. A cafeína aparece “escondida” no chá, chocolate, energéticos e refrigerantes em doses variáveis. Seu uso é milenar, onde os homens da Pré-História mastigavam algumas sementes e folhas de café para diminuir a fadiga. Atualmente estamos acostumados com o café expresso, curto, coado, pingado, cappuccino, cortado ou mocha. Entretanto, como descrito aqui, a cafeína não é totalmente inofensiva. Doses excessivas de cafeína proporcionam desde uma reação de alerta, taquicardia e nervosismo até o aumento da pressão arterial e óbito. O clembuterol, a efedrina e a cafeína já foram devidamente abordadas neste Blog. Vejamos agora o uso de aspirina, geralmente através da combinação ECA (efedrina, cafeína e aspirina).

ASPIRINA

A aspirina é comercializada na forma de comprimidos e cuja substância ativa, o ácido acetilsalicílico (AAS), atua no alívio sintomático de dores de intensidade leve a moderada, incluindo dores de cabeça, dor de dente, dor de garganta, dor menstrual, dor muscular, dor nas articulações, dor nas costas e dor da artrite. Também usado na dor da febre associados aos resfriados ou gripes. O AAS pertence ao grupo de substâncias antiinflamatórias não-esteróides (AINE), que são eficazes nestas situações de alívio de dor, febre e inflamação. Mas, o que seriam substâncias antiinflamatórias não-esteróides (AINE)? Porque a aspirina é usado no exercício e no esporte? Há contra-indicações de seu uso? Há risco de saúde? Vejamos cada uma destas indagações.


Após a administração oral, o ácido acetilsalicílico (AAS) é rápida e completamente absorvido pelo trato gastrintestinal. Durante e após este período de absorção, o AAS é convertido em ácido salicílico (salicilato), seu principal metabólito ativo. Os níveis máximos de AAS no sangue (AAS plasmáticos) são atingidos após 10 a 20 minutos, enquanto que o ácido salicílico pode levar até 2 horas. Tanto o AAS quanto o ácido salicílico ligam-se em determinadas proteínas plasmáticas, sendo rapidamente distribuídos a todas as partes do organismo. O ácido salicílico é eliminado principalmente por metabolismo hepático (ou seja, degradado por um sistema enzimático no fígado), cujos metabólitos (ou seja, substâncias que sobraram deste metabolismo ou “lixo que sobra”) incluem o ácido salicilúrico, o glicuronídeo salicilfenólico, o glicuronídeo salicilacílico, o ácido gentísico e o ácido gentisúrico. A meia-vida do fármaco (ou seja, o tempo que ela leva para se degradar pela metade) oscila entre 2 a 3 horas após doses baixas e cerca de 15 horas com doses altas. Para adultos, recomenda-se 1 ou 2 comprimidos ao dia (100 até 500 mg ou mais dependendo do produto) administrados cm intervalo de 4 a 8 horas. O ácido salicílico e seus metabólitos (“lixo que sobrou”) são excretados principalmente por via renal através da urina. O medicamento deve ser ingerido com líquido e, se possível, após a ingestão de alimentos. Em outras palavras, ele não deve ser ingerido de estomago vazio.


Mas porque diz-se que a aspirina é um antiinflamatório não-esteróide (AINE)? O ácido acetilsalicílico (AAS) pertence ao grupo de fármacos antiinflamatórias não-esteróides (AINE) e para entender isso precisamos, primeiramente, verificar o significado de inflamação. A inflamação é uma resposta normal do organismo (dito resposta fisiológica) frente às lesões de tecidos causadas por diversos agentes, incluindo físicos (trauma e acidentes), químicos (amônia, chumbo, mercúrio, dióxido de carbono, monóxido de carbono, benzeno, tolueno, ácido clorídrico, formaldeído, pesticidas, poluentes, entre outros) ou microbiológicos (leveduras, fungos, vírus e batérias). Nestas situações, o organismo busca inativar ou destruir os possíveis organismos invasores. Quando o processo é bem sucedido, o processo inflamatório é interrompido e o organismo “vence esta batalha”. Em outras situações, o processo inflamatório não cessa facilmente e são necessárias medidas a fim de interromper o processo, como ocorre na reação alérgica (ao pólen, por exemplo) ou doença auto-imune (asma e artrite reumatóide, por exemplo). Nestas situações, então, são necessários fármacos antiinflamatórios (quer dizer, contra a inflamação) para, justamente, interromper o processo exacerbado que poderia levar as lesões teciduais progressivas pela cascata que não se interrompe. Você também poderia usar o fármaco para o alívio sintomático de dores de intensidade leve a moderada, como aquelas relacionadas ao esforço fisico vigoroso (dor muscular e articular). Sendo assim, o termo “inflamação” não seria ruim, mas o fato de não conseguir “desligar” este processo poderia ser considerado ruim.


A literatura apresenta uma grande variedade de substâncias envolvidas na cascata da reação inflamatória, comumente conhecidos como mediadores químicos do processo inflamatório. Entre eles podemos citar a histamina, a 5-hidroxitriptamina, as prostaglandinas, a bradicina e as interleucinas. Os fármacos antiinflamatórias não-esteróides (AINE) representam o grupo de diferentes agentes químicos com propriedades analgésicas (alívio da dor), antipiréticas (anti-febre) e antiinflamatórias (anti-inflamação), o que envolve a inibição irreversível de uma enzima conhecida como ciclooxigenase (COX) e, conseqüentemente, a inibição da síntese (ou seja, da formação) de prostagandinas pelas células envolvidas no processo. Assim, o ácido acetilsalicílico (AAS) inibe o mediador químico da inflamação conhecido como prostagandina, reduzindo a inflamação.


Bem, o que são exatamente prostaglandinas? Como dito anteriormente, prostaglandinas são compostos produzidos na membrana celular e conhecidos como mediadores químicos do processo inflamatório. As prostaglandinas são derivados de lipídeos (gorduras) da membrana celular, particularmente derivados de ácidos graxos insaturados de cadeia longa, ou seja, “gorduras boas” com 20 átomos de carbonos em sua estrutura química. Por este motivo, em bioquímica, muitas vezes usa-se o termo eicosanóide para classificar a prostaglandina. Eicosanóides são, justamente, moléculas drivadas de ácidos graxos com 20 átomos de carbono em sua estrutura química derivados das famílias ômega-3 (n-3) ou ômega-6 (n-6). Todavia, a maioria dos eicosanóides derivam do ácido araquidônico da membrana celular, um tipo de gordura insaturada ômega-6 (n-6) com 20 átomos de carbono e quatro ligações duplas em sua estrutura química. Normalmente usa-se o nome descritivo ácido araquidônico, mas ele também pode aparecer como seu nome sistemático (ácido cis-5,8,11,14-eicosatetraenóico) ou, simplesmente, em abreviatura (C20:4 ∆5,8,11,14). Este ácido araquidônico dá origem a uma série de substâncias pró-inflamatórias, incluindo os prostanóides da série 2, como o tromboxano A2 (TXA2) e as prostaglandinas E2 (PGE2), bem como a prostaciclina (PGI2). Leucotrienos da série 4 (LTB4, LTC4 e LTE4) também são substâncias inflamatórias geradas a partir do ácido araquidônico. A formação destas substâncias inflamatórias é catalisada pela enzima ciclooxigenase (COX) e sua inibição pela aspirina (AAS) não permite a síntese dos mesmos, incluindo as prostagandinas. Não entraramos em detalhes aqui, mas a aspirina (ASS) também inibe a agregação plaquetária, já que inibe a síntese de TXA2 nas plaquetas. A agregação plaquetária seria a formação de pequenos trombos ou coágulos nos vasos e, assim, como os leigos dizem, o AAS “afina o sangue”. Os efeitos analgésicos (alívio da dor) e antipiréticos (anti-febre) tem relação com a menor síntese de prostaglandina E2 (PGE2).


E porque a aspirina seria usada no exercício e no esporte? Esta é uma pergunta interessante e, ao mesmo tempo, digna de polêmica no exercício e no esporte. Vejamos, a aspirina (AAS) atua no alívio sintomático de dores, como as dores de cabeça, as dores musculares, as dores nas articulações e dores nas costas. O AAS é um antiinflamatório não-esteróide (AINE) que promove o alívio da dor, febre e inflamação pela inibição da ciclooxigenase (COX) e, conseqüentemente, inibição da síntese de determinados mediadores químicos da inflamação, como as prostaglandinas. Então, aqueles indivíduos que treinam há vários anos experimentam uma ou mais dores durante sua prática esportiva e o uso de aspirina (AAS) poderia aliviar estes sintomas. Os atletas que buscam o sucesso no esporte treinam diariamente de forma vigorosa, apresentando, sem dúvidas, alguma dor durante este período e uso de aspirina (AAS) poderia ser benéfico. Os atletas com lesões anteriores mantém o treinamento forte com o risco de novas lesões, justamente para não perder seu “lugar ao sol” (para alguns isso pode significar sol, fama e fortuna). Aquele indivíduo que está iniciando um trabalho de condicionamento físico, às vezes, exagera em seu treinamento, experimentando algum tipo de dor e, muitas vezes, recorre ao uso de aspirina (AAS). Minha dúvida, então, seria: Eu devo aliviar a dor ou devo adequar meu treinamento e descanso para evitar lesões ósteo-articulares, musculares e ligamentares? É óbvio que a dor encomoda e, se exacerbada, deve ser interrompida para evitar mais lesões teciduais progressivas. Mas também parece óbvio que há um uso indiscriminado e pouco racional de medicamentos, particularmente AINE, que causam riscos extremos a saúde.


E a combinação de efedrina, cafeína e aspirina (ECA)? A combinação do ECA é utilizada para efeitos termogênicos drásticos a fim de reduzir grandemente a gordura corporal. É uma prática que funciona, mas extremamente perigosa a saúde. A efedrina e cafeína, como foram vistos, aceleram o metabolismo e a temperatura corporal. A efedrina também acelera a mobilização a gordura do tecido adiposo. Já a aspirina é usada no alívio das dores interferindo a síntese de prostaglandinas, bem como busca minimizar o impacto causado pela efedrina e cafeína. Esta combinação com aspirina, segundo alguns atletas, poderia reduzir os efeitos colaterais da efedrina e cafeína. Esta combinação é feita na relação 1:10:15, ou seja, a cada 1 g de efedrina usa-se 10 g de cafeína e 15 g de aspirina. E, por isso, a manipulação mais freqüente é 20 mg/dia de efedrina, 200 mg/dia de cafeína e 300 mg/dia de aspirina. O ciclo geralmente envolve 15 dias de uso (15 on), seguidos de 15 dias de não uso (15 off). Algumas pessoas recorrem ao uso de Franol, um medicamento contendo 118 mg de teofilina por comprimido ou 3 mg/ml (uma metilxantina que atua de forma similar a cafeína) e 15 mg de sulfato de efedrina por comprimido ou 2,40 mg/ml (que produz os efeitos adrenérgicos já discutidos). Outros recorrem ao suplemento importado Diablos ECA Fire da Innovatione Bio Labs que contém 50 mg de Brand Ephedra Extract (extrato de efedrina), 225 de Caffeine Anhydrous (cafeína anidra) e 100 mg de Sida cordifolia. A Sida cordifolia L. é uma espécie arbórea, pertencente à família Malvaceae, conhecida vulgarmente como malva-branca, guanxuma-branco ou guanxuma. Ela é nativa da Índia, mas também encontrada em climas tropicais e subtropicais do Brasil. O chá de Malva é usado no tratamento da tosse, irritação da garganta e como expectorante, sendo um tratamento auxiliar nas afecções respiratórias, asma e bronquite. Todavia, a Sida cordifolia L. também possui ação analgésica, antiinflamatória e psicoestimulante do sistema nervoso central (SNC). Análises químicas revelam que a planta possui efedrina e pseudo-efedrina, o que justificaria seu possível efeito termogênico e psicoestimulante. Porém, como já foi dito nesta postagem, trata-se de uma verdadeira “bomba” ao organismo e os riscos de saúde podem ser dramáticos e fatais.


Há contra-indicações para o uso de aspirina e outros antiinflamatórios? Que risco a saúde um indivíduo pode apresentar? Em primeiro lugar, os antiinflamatórios são medicamentos e, como tal, devem ser prescritos e acompanhados por médicos. Em segundo lugar, os antiinflamatórios mais comuns incluem a aspirina (AAS), o diclofenaco, o piroxican, o ibuprofeno, o naproxeno, o cetoprofeno e o indometacina. O paracetamol possui fraca atividade antiinflamatória, embora seja um bom analgésica e antipirético. E, em terceiro lugar, eles podem, sim, causar danos a saúde. Entre os sinais e sintomas relacionados aos riscos de saúde destaca-se: gastrites, úlceras, azia, náuseas, vômitos, fraqueza, sensação de zumbido e perda da audição, dores de cabeça, vertigens, confusão mental, cólicas abdominais, insônia, alergias, sangramentos gastrointestinal e pulmonares, inibição do ciclo menstrual, hiperventilação, toxicidade renal e hepática (podendo evoluir para insuficiência renal e hepatite), aumento da pressão arterial (causando alterações cardiovasculares) e inibição da coagulação sangüínea com aumento do sangramento durante e após intervenções cirúrgicas. Outros sintomas incluem inquietação, delírios, alucinações, convulsões e acidose metabólica. A intoxicação em crianças, adultos e idosos devido à superdose terapêutica ou envenenamento acidental pode levar a insuficiência respiratória, come e óbito. Além disso, o ácido salicílico aparece no leite materno e atravessa a placenta, o que requer cuidados durante a gravidez a lactação. Cabe destacar que cerca de 15% dos pacientes apresentam algum tipo de intolerância à aspirina (AAS).


Por fim, pessoas alérgicas ao AAS ou salicilatos ou qualquer outro ingrediente do medicamento não devem fazer uso do medicamento. Se você não sabe se é alérgico, deve ficar atento aos sinais e sintomas de vômitos, náusea, diarréia, dor de cabeça, sangramento, úlceras gástricas ou intestinais e crise asmática ou similar. Deve estar atendo, também, a combinação de aspirina com outras medicações e bebidas alcoólicas. O uso prolongado sem orientação médica pode alterar a função hepática e renal, bem como sistema nervoso central (SNC). O recado mais importante, para finalizar, é NUNCA se auto-medique.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

TERMOGÊNICOS E DEFINIÇÃO MUSCULAR – PARTE 1


Quem não quer um abdome bem definido? Não estou falando em “barriga tanquinho”, mas, sim, uma barriga reta, sem protuberância e com músculos abdominais bem definidos. A procura por um abdome espetacular é tão grande que as revistas e comerciais valorizam isso todo santo dia em seus anúncios. Homens e mulheres, portanto, parecem ficar presos a esta espécie de “indústria dos espelhos”. Alguns pensam imediatamente em dietas radicais ou passar fome. Outros pensam em suar a camiseta, correndo feito “louco” nas praças da cidade. Ainda existem aqueles que pensam em lipoescultura. E, por fim, ainda existem aqueles que recorrem ao uso de suplementos esportivos e/ou medicamentos. Será que um abdome definido é coisa de atleta, modelo ou artista de televisão? Será que isso depende apenas de uma condição genética favorável? Uma coisa é certa: para ter um abdome definido você precisa investir em si mesmo e ter muita disciplina neste processo. A luta pode ser grande para alguns e curta para outros, mas com certeza sem autodisciplina você não chegará em lugar nenhum.


Nesta postagem, portanto, pretendo discutir os recursos ergogênicos nutricionais e farmacológicos para obter o tão sonhado abdome definido. Irei abordando nas postagens subseqüentes algumas estratégias para obter tal fim. Minha abordagem será mista, ou seja, técnica e científica (voltada aos profissionais e estudantes), bem como simples e explicativa (voltada ao púlico leigo), assim todos poderão usufruir dos conhecimentos aqui apresentados. Todavia, meu objetivo é informar e não estimular o consumo de suplementos e/ou medicamentos sem orientação profissional qualificada. Sabemos que, atualmente, existem muitas informações sobre o assunto, porém se você é leigo no assunto nunca saberá o quanto tem de “verdades” e “mentiras” nestas informações. Por este motivo, trago uma abordagem com informações científicas e sérias sobre este tema tão especulativo.


Enfim, a utilização de qualquer suplemento e/ou medicamento deve ser supervisionado pelo profissional nutricionista e médico. Todavia, por mais barrigudo que você esteja ou por mais gelatinosa que pareça sua barriga, seus músculos abdominais estão ai, embora que escondidos abaixo de uma camada de gordura. Assim, não seria ótimo você entender como enxergá-los novamente? Nesta primeira postagem sobre termogênicos e definição muscular, apresento o medicamento clembuterol.

RECURSOS ERGOGÊNICOS E DOPING

Entende-se por recurso ergogênico tudo aquilo que aprimora ou que se admite aprimorar o desempenho atlético, seja qualquer substância, processo ou procedimento. Portanto, um recurso ergogênico possui ação direta sobre a fibra muscular, fornece combustível necessário para a contração muscular, retarda os sintomas ou percepção da fadiga, neutraliza os produtos da fadiga, exerce efeitos sobre o coração e sistema circulatório ou neutraliza os efeitos inibitórios do sistema nervoso central (SNC) sobre a contração muscular, entre outras funções.


Os recursos ergogênicos, portanto, podem ser farmacológicos (esteróides anabólicos, clembuterol, sibutramina, por exemplo), nutricionais (carboidrato, proteína, lipídeo, vitaminas e minerais, água e eletrólitos), fisiológicos (oxigênio, condicionamento e técnica de recuperação), psicológicos (hipnose, sugestão e ensaios repetitivos) e mecânicos (aprimoramento da mecânica corporal, da vestimenta, do equipamento e do treinamento).


O Decreto de Lei nº 136/2003 de 28 de junho de 2003 estabelece, ainda, uma definição para suplemento alimentar, que seriam gêneros alimentícios que se destinam a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de determinadas substâncias nutrientes ou outras com efeito nutricional ou fisiológico, estremes ou combinados, comercializados em forma doseada, tais como cápsulas, pastilhas, comprimidos, pílulas e outras fontes semelhantes, saquetas de pó, ampolas de líquido, frascos com conta-gotas e outras formas similares de líquidos ou pós que se destinam a ser tomados em unidades medidas de quantidade reduzida.


Algumas pessoas ainda recorrem ao uso de medicação para obter a definição muscular e, em particular, da região abdominal. Isso deveria ocorrer sob acompanhamento médico, pois trata-se de medicação, mas sabemos que nem sempre ocorre assim e efeitos colateriais podem existir. O conceito de medicamento pode ter várias atribuições, dependendo do contexto utilizado. Porém, a definição mais clara pela legislação brasileira diz que medicamento é toda a substância ou associação de substâncias, que possui propriedades curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas; ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista em estabelecer um diagnóstico médico; ou exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica a fim de restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas. O objetivo do tratamento medicamentoso é prevenir, curar ou controlar doenças, essencialmente. Porém, por razões de excelência estética sabemos que as pessoas recorrem a administração de fármacos, prescritos ou não por profissionais de saúde. As questões legais e éticas sobre o assunto renderia mais uma postagem e, portanto, me dentenho apenas à proposta inicial desta postagem.


Não posso deixar de mencionar o Doping, pois alguns leitores podem ser atletas em competição. Neste sentido, Doping é a administração ou o uso, por parte de um atleta que está competindo, de qualquer substância estranha ao corpo ou de qualquer substância fisiológica tomada em quantidade anormal ou introduzida no organismo através de uma via de entrada anormal, com a única intenção de aumentar de uma maneira artificial e desleal seu desempenho numa competição. Quando a necessidade exige um tratamento médico com qualquer substância que, em virtude de sua natureza, dose ou aplicação, é capaz de aprimorar o desempenho do atleta na competição de uma maneira artificial e ilegal, isto deve ser considerado como doping.


Para obter maiores informações sobre suplementos e/ou medicamentos, lícitos ou ilícitos (proibidos para produção e comercialização por lei), você pode acompanhar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, www.anvisa.gov.br) e a World Anti-doping Agency (WADA, www.wada-ama.org). São inúmeras as substâncias presentes em diversos suplementos e medicamentos, o que torna humanamente impossível uma discussão criteriosa de todos. Porém, a grande parcela destes são estimuladores do sistema nervoso central (SNC), classificados em estimulantes psicomotores (que causam excitação, euforia, diminuem a sensação de fadiga e aumentam a atividade motora) e alucinógenos ou psicotomiméticos ou simpatomiméticos (que produzem alterações de raciocínio e humor e estimulam o sistema nervoso propriamente dito). Com base nisso, vejamos agora o clembuterol, um popular medicamento termogênico que vem sendo usado para acelerar o metabolismo e promover a queima de gordura. Estes também são chamados, algumas vezes, de fat burners.


CLEMBUTEROL

O clembuterol (CLEM) é um medicamento usado como broncodilatador para o tratamento de asma e bronquite crônica. Diz-se, também, que o CLEM é um fármaco beta-adrenérgico, lembrando que fármaco é a substância ou composto químico que é o princípio ativo do medicamento e, portanto, usado para fins medicinais. Todavia, atletas e não-atletas que buscam a definição muscular máxima têm usado o CLEM por finalidades puramente estéticas, o que pode representar um perigo a saúde.


No sistema nervoso simpático (SNS) há duas famílias (ou dois tipos) de receptores adrenérgicos para determinadas substâncias, designados em alfa e beta. Os receptores adrenérgicos (adrenorreceptores) do tipo beta, que interagem com o CLEM, ainda podem ser agrupados em beta-1 e beta-2, que possuem afinidades distintas, conforme as substâncias com que interagem. Os receptores beta-1, por exemplo, tem a mesma afinidade para epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina), enquanto que o beta-2 possui maior afinidade para epinefrina. Veja, sua chave abre perfeitamente a porta de sua casa e, então, há um encaixe perfeito entre a chave e a fechadura de sua residência. Da mesma forma estou me referindo aqui, onde o CLEM (chave) se encaixa perfeitamente ao receptor-beta (fechadura).


O CLEM estimula os receptores beta-2-adrenérgicos, podendo levar a vasodilatação da musculatura lisa, leve redução da resistência periférica, broncodilatação, aumento da degradação de glicogênio hepático e muscular, aumento na liberação do hormônio glucagon e relaxamento da musculatura uterina. Todavia, o CLEM também estimula os receptores beta-1-adrenérgicos, que atuam sobre a musculatura cardíaca, causando taquicardia, aumento da contratilidade do miocárdio, aumento da mobilização de gordura do tecido adiposo (lipólise) e aumento na liberação da renina. A renina é uma enzima liberada pelos rins e provoca a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, envolvidos no equilíbrio do volume de líquido extracelular e pressão arterial. Com este relato inicial você já consegue perceber porque algumas pessoas se queixam de taquicardia, sudorese excessiva e tremores durante o uso de CLEM. Claro, também pode perceber que o CLEM realmente conduz a perda de peso e emagrecimento, o que seria útil para buscar o tão sonhado abdome espetacular.


Como vimos, o CLEM possui efeito lipolítico, ou seja, capaz de mobilizar a gordura do tecido adiposo. Bioquimicamente, quando o CLEM interage com os receptores beta-1-adrenérgicos promove a lipólise, ou seja, a hidrólise dos triglicerídeos localizados no tecido adiposo (em células conhecidas como adipócitos), formando ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos, então, devem sofrer beta-oxidação na mitocôndria das células, como as mitocôndrias do tecido muscular. A beta-oxidação envolve a degradação do ácido graxo sempre no carbono beta, convertendo-o em um novo ácido graxo com dois carbonos a menos, ou seja, em acetil-CoA. Esta acetil-CoA será devidamente degradada no ciclo de Krebs (ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos), gerando equivalentes de redução, como a nicotinamida-adenina-dinucleotídeo na forma reduzida (NADH) e a flavina-adenina-dinucleotídeo na forma reduzida (FADH2). Os equivalentes de redução (NADH e FADH2) são transportadores de elétrons de alta energia e serão encaminhados a cadeia respiratória mitocondrial, onde é gerado energia na forma de adenosina trifosfato (ATP). Traduzindo, a gordura do tecido adiposo ou da protuberância abdominal, como preferirem, será mobilizada e utilizada para gerar energia ao organismo, representando a redução do peso corporal e da adiposidade.


Você não deve esquecer que o CLEM também promove um aumento da degradação de glicogênio hepático e muscular, isso quando interage com receptores beta-2. O glicogênio é um polissacarídeo de reserva da célula animal e sua reserva é predominante no fígado e no músculo esquelético. A degradação do glicogênio hepático (glicogenólise hepática) tem a função de manter a glicemia, ou seja, de aumentar o “açúcar do sangue”. Já a degradação do glicogênio muscular (glicogenólise muscular) tem a função de sustentar o próprio músculo, sendo, portanto, “egoísta”, pois não empresta sua energia aos demais tecidos. A mobilização deste glicogênio, aparentemente, poderia representar uma perda de peso adicional, embora você devesse pensar em uma fadiga extra e desnecessária se o processo ocorrer de maneira exacerbada.


O CLEM promove um aumento na liberação do hormônio glucagon, através da interação com receptores beta-2-adrenérgicos. O glucagon é secretado pelas células alfa das Ilhotas de Langerhans pancreáticas. Trata-se do hormônio da hipoglicemia, ou seja, ele surge justamente quando os níveis de glicose do sangue encontram-se reduzidos. Seu objetivo hormonal, portanto, seria a capacidade de elevar a glicose do sangue (hiperglicemiante). Para tanto, o glucagon promove a glicogenólise hepática, justificando a descrição do parágrafo anterior. O glucagon não atua diretamente no músculo esquelético, embora a musculatura possa ser degradada (o que seria indesejável, pois implicaria em perda de massa muscular) pelo chamado equilíbrio dinâmico das proteínas teciduais, onde proteínas são desnaturadas e aminoácidos são liberados. Esta degradação de proteínas musculares ocorre no jejum prolongado, por exemplo. A interação do CLEM com receptores beta-2, como foi dito, poderia promover uma degradação do glicogênio muscular, o que antes ocorreria somente durante o esforço físico. A liberação de glucagon, estimulado por CLEM, também promove a lipólise e a beta-oxidação de ácidos graxos, o que justificaria a descrição do parágrafo anterior em relação ao emagrecimento promovido pelo fármaco. Em outras palavras, o CLEM estimula a liberação do glucagon e este promove essencialmente a mobilização de reservas glicídicas (glicogênio) e lipídicas (triglicerídeos).


Todavia, uso de CLEM associado às dietas inadequadas (hipocalóricas e hipoprotéicas, bem como pobres em carboidratos, vitaminas e minerais) conduzem a resultados insatisfatórios de estética corporal no final do processo, uma vez que a massa muscular torna-se comprometida durante a hiperglucagonemia (excesso na liberação de glucagon). Observem que o equilíbrio dinâmico das proteínas musculares encaminha aminoácidos do tecido muscular ao tecido hepático, onde os mesmos são convertidos em glicose através de uma rota bioquímica conhecida como gliconeogênese. Em outras palavras, em situações onde a glicemia é reduzida (por degradação excessiva de glicogênio hepático ou por erros dietéticos ou, simplesmente, por permanecer em jejum prolongado) os aminoácidos do tecido muscular são utilizados pelo fígado para produzir glicose, que será devidamente encaminhada ao sangue para alimentar os tecidos dependentes de glicose, como cérebro e eritrócitos (glóbulos vermelhos). Você deveria perceber, então, que o uso de CLEM com dieta inadequada apenas favorece a perda de massa muscular, cansaço, fadiga e prejuízo de saúde, onde o hormônio glucagon acaba dominando este cenário metabólico. O resultado na balança pode representar um baixo valor, mas isso seria à custa de massa muscular caso não haja uma boa nutrição. Isso verdadeiramente é bioquímica e não especulação!


Não podemos esquecer, ainda, os efeitos do CLEM sobre o sistema cardiovascular. A interação do CLEM com receptores beta-1-adrenérgicos conduz que a taquicardia e aumento da contratilidade do miocárdio. Ainda, sua interação com receptores beta-2-adrenérgicos garante um potente efeito broncodilatador. Isso pode conduzir a um aumento abrupto dos batimentos cardíacos e da pressão arterial que, em algumas situações, é desastroso a saúde. Vejamos, então, alguns efeitos colaterais do CLEM: nervosismo, tremores das mãos, cefaléia, enxaquecas, insônia, aumento da pressão arterial, taquicardias, náusea, vômitos, tonturas, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) e, até mesmo, óbito dependendo da dose administrada.


Não podemos negar que o CLEM funciona para o emagrecimento e definição corporal, favorecendo a formação de um abdome espetacular. Também é verdade que seus efeitos colaterais como taquicardia e tremores desaparecem após duas ou três semanas de uso. Mas não podemos ignorar seus efeitos colaterais. Minha intenção, como foi dito inicialmente, é apenas informar de maneira técnico-científica as estratégias de emagrecimento e definição muscular usado comumente por esportistas e atletas. Com base nisso, muitos devem estar se perguntando: Existe alguma dose segura? Posso obter resultados de definição muscular e evitar os efeitos adversos indesejáveis? Bem, continue lendo para tirar suas dúvidas.


Sabe-se que a exposição prolongada ao CLEM leva a dessensibilização dos receptores mencionados, o que levaria a menor obtenção de resultados esperados. Um erro comum seria aumentar a dosagem para voltar a obter resultados, porém um ou mais efeitos colaterais podem ser exacerbados. Desta forma, usualmente recorre-se ao uso interrompido de CLEM. Em outras palavras, os comprimidos de CLEM, por exemplo, possuem 0,02 mg e pode-se usar de 2 até 3 comprimidos ao dia, embora alguns usem até 6 comprimidos ao dia. Para evitar a dessensibilização de receptores, faz-se dois dias de uso (dia sim), seguido de dois dias de não uso (dia não). Obviamente a dosagem e o fechamento dos receptores dependem de cada indivíduo, o que deve ser estudado individualmente respeitando a individualidade biológica e os hábitos e estilo de vida do indivíduo. Da mesma forma, a dosagem deve ser gradual a fim de evitar um excesso desnecessário. As dosagens também costumam ser divididas e em horários diferentes, mas como uma regra geral não é usada próximo ao horário de dormir para evitar um sono perturbado ou insônia. Talvez por isso você vá observar algumas pessoas não usando CLEM depois das 17 horas do dia. Seu uso no pré-treino é discutível e controverso, onde usá-los no pré-treino pode significar um treino de qualidade ou vigoroso, enquanto que para outros pode significar uma sobrecarga cardíaca adicional.


É muito importante evitar a combinação de CLEM com outros termogênicos estimulantes do sistema nervoso central (SNC). Algumas pessoas fazem combinação com efedrina-cafeína-aspirina (ECA), mas isso pode representar uma verdadeira “bomba” a sua saúde. Além dos comprimidos, algumas pessoas partem para o CLEM em gel, cujo nome veterinário é Pulmonil Gel. Bem, como o nome diz é de uso veterinário e, portanto, sem comentários. Cabe lembrar novamente, que o uso de CLEM deve avaliado e realizado sob acompanhamento médico. Além disso, nenhum programa de treinamento, por mais excelente que seja, atingirá seus objetivos de emagrecimento sem uma boa nutrição. E nem mesmo o uso de CLEM fará milagres sem uma dieta equilibrada. Assim, a supervisão de um profissional nutricionista é essencial neste processo de excelência estética e, particularmente, na busca por um abdome reto e bem definido. Mas o CLEM, afinal, funciona? Claro que sim! E estarei correndo risco de saúde usando CLEM? Obviamente que sim! Como dito antes, minha intenção é informar! Para atletas, cabe lembrar que o uso de CLEM é considerado Doping. Para esportistas, cabe lembrar que mais estudos são necessários para que se possa recomendar seu uso em seres humanos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Você já pensou em introduzir nozes em sua dieta?



Estive pensando, ultimamente, em novas estratégias dietéticas para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, algo que saísse do tradicional uso de antioxidantes, algo que pudesse inovar o cardápio alimentar diário. Em minha pequena pesquisa, me deparei com o uso de nozes, castanha-do-pará e castanha de caju. Neste primeiro relato, portanto, vou apresentar as vantagens e desvantagens da introdução de nozes no cardápio diário de esportista e/ou atleta, que devem buscar saúde, além de estética corporal e desempenho atlético.



A nogueira é uma árvore alta e copada, que pode ter 25 metros de altura, e pertence à família das Juglandáceas, originária da Índia e da Pérsia e aclimatada no Brasil. A nogueira-comum (Juglans regia L) possui folhas que contém um óleo aromático e frutos conhecidos como nozes.


Alguns trabalhos têm mostrado que 6 ou 7 unidades de nozes diárias podem ter um impacto favorável à saúde, já que a oleaginosa é rica em gordura “boa” do tipo poliinsaturada e monoinsaturada. Estes tipos de gorduras “boas” podem reduzir os níveis de colesterol total (CT) e da lipoproteína de baixa densidade (LDL, dito “colesterol ruim”), bem como aumentar a lipoproteína de alta densidade (HDL, dito “bom colesterol”).


Além disso, a presença do aminoácido L-arginina neste alimento pode promover o relaxamento dos vasos sangüíneos, já que este aminoácido é usado para produzir o óxido nítrico (NO) em uma reação catalisada pela enzima óxido nítrico sintase endotelial (eNOS) na presença de cofatores, como o cálcio, a calmodulina e a nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato na forma reduzida (NADPH). O óxido nítrico (NO) é um gás sintetizado pelas células endoteliais e macrófagos. Sua resposta fisiológica é promover a vasodilatação dos vasos sangüíneos.


As nozes ainda contêm polifenóis, que são poderosos antioxidantes. As propriedades antioxidantes das nozes desempenham são capazes de neutralizar os radicais livres e as espécies reativas do oxigênio (ERO). Com isso, espera-se a inibição da oxidação dos lipídeos de membrana celular (processo conhecido como lipoperoxidação), bem como a proteção de componentes protéicos e do ácido desoxirribonucléico nuclear (DNA).


Os fatores acima somados (gordura insaturada, L-arginina e polifenóis), presentes nas nozes, podem reduzir as chances de um indivíduo apresentar uma doença cardiovascular. De fato, ingerir nozes com freqüência, digamos 5 dias por semana, tem sido relacionado com a menor incidência de doenças cardiovasculares quando comparado aqueles indivíduos que não ingerem tal alimento.


As nozes ainda possuem minerais (fósforo, cálcio, potássio, ferro e sódio) e vitaminas, tais como a vitamina A (retinol), vitamina B1 (tiamina), vitamina B2 (riboflavina) e vitamina B3 (niacina). Através destes nutrientes, as nozes podem ser consideradas um excelente tônico cerebral, ou seja, revigora os indivíduos cansados pelo estresse físico e mental das atividades cotidianas.


Mas CUIDADO: as nozes podem ser muito calóricas! Veja, ao consumir uma unidade de noz (5 g) obtém-se cerca de 35,44 kcal com 0,92 g de carboidrato, 3,20 g de gordura e 0,74 g de proteína, sendo 2,63 g de gordura insaturada (aquela considerada “boa” para a saúde). Todavia, ao consumir 6 unidades de nozes (30 g, que é a quantidade recomendada por alguns especialistas para reduzir as chances de um evento cardiovascular) você estará consumindo 212,64 kcal em uma única refeição. Se você fizer isso por 5 dias na semana (outra recomendação de alguns especialistas) estaria consumindo 1.063,20 kcal em nozes. Não é impressionante? Vejamos outros valores numéricos a seguir...


Quer dizer, em 100 g de nozes você teria uma excelente fonte de fósforo (380 mg), cálcio (89 mg), potássio (30 mg), ferro (2,10 mg), sódio (2 mg), vitamina A (3 RE, retinol equivalente), vitamina B1 (380 mcg), vitamina B2 (575 mcg) e vitamina B3 (0,77 mg) e, também, nada mais e nada menos que 708,80 kcal. Estes valores estão um tanto perturbadores? Vejamos somente mais alguns...


As pessoas geralmente fazem lanches intermediários (10 horas da manhã ou 15 horas da tarde) com cereal em barra ou fruta, contendo cerca de 80 a 90 kcal, aproximadamente. Entretanto, cuidado deve existir em substituir estes lanches por nozes, que são saborosas e práticas de consumir, mas são altamente calóricas. É óbvio que em 6 unidades de nozes você teria 19,20 g de gordura (3,20 g de gordura x 6 unidades), sendo na sua maior parte gordura insaturada “boa”. Porém, continua sendo gordura, não é mesmo? Lembramos que em Nutrição Esportiva a distribuição de gordura total deve ser inferior a 30% das calorias totais e, geralmente, prescrevemos entre 20 e 25%. Você sabe exatamente quanto tem em gordura o restante de sua dieta habitual? Em suma, você poderá aumentar seu peso facilmente sem perceber, mesmo ingerindo um ótimo e saudável alimento.


Enfim, você pode ser criativo ao introduzir nozes no seu cardápio diário do almoço, lanches ou jantar, mas deve dosar a quantidade para evitar o excesso calórico e excesso lipídico. É preciso comer sabiamente, obtendo, assim, o prazer do sabor das nozes e os benefícios à saúde.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO





O esôfago corresponde a um longo tubo músculo-membranoso e elástico que liga a boca ao estômago. Sua extremidade inferior possui o chamado “enfíncter esofagiano inferior” (EEI), cujo função básica é regular ou impedir o refluxo de alimentos e ácido do estômago no sentido oposto, ou seja, em direção ao esôfago e boca. Este esfíncter evita o refluxo gastroesofágico (RGE). Algumas pessoas, contudo, apresentam a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), onde há retorno do conteúdo ácido do estômago, devido a ineficácia dos mecanismos anti-refluxo, incluindo a redução do tônus do esfíncter. Estes pacientes se queixam de pirose (dor em queimação irradiando para cima e por trás do osso esterno), regurgitação (fluxo do líquido azedo ou amargo do estômago para a boca, ocorrendo principalmente à noite ou quando a pessoa se inclina para frente), disfagia (sensação de que o alimento está bloqueado na da boca ao esôfago), odinofagia (dor à deglutição), sialorréia (enchimento súbito da boca com um líquido claro, levemente salgado produzido pelas glândulas salivares), eructação (arroto), queixas respiratórias (tosse crônica, aspiração recorrente e asma) e queixas otorrinolaringológicas (rouquidão, dor de garganta, pigarro e soluços). Assim, existe uma série de medidas que poderiam ser tomadas a fim de evitar complicações futuras em pacientes com DRGE, as quais são citadas a seguir.

A) Mudança do Estilo de Vida (MEV):


Elevação da cabeceira da cama; evitar alimentos sólidos ou líquidos 2 a 3 horas antes de deitar-se; abstinência dos cigarros e de bebidas alcoólicas; evitar usar roupas apertadas na cintura; emagrecimento (se estiver acima do peso); uso de antiácidos líquidos (hidróxido de alumínio ou de magnésio) antes de deitar-se e 30 minutos após refeições ou uso de bloqueadores H2 sob orientação médica.


B) Tratamento Dietético:


Ajustar as necessidades energéticas da dieta para adequar o peso corporal; evitar o excesso de carboidratos e aumentar a ingestão de proteína na dieta (para estimular a liberação do hormônio gastrina, que promove o aumento do tônus do esfíncter); evitar o excesso de gordura na dieta (que retarda o esvaziamento gástrico e estimula liberação de colecistoquinina, um hormônio que diminui o tônus do esfíncter). Deve-se realizar pelo menos 6 refeições por dia com pequenos volumes. Bebidas gasosas e líquidos juntamente com as refeições devem ser evitados. Cafezinho, chás e condimentos (pimenta do reino, pimenta vermelha, páprica e mostarda em grão) diminuem a pressão do esfíncter e devem ser evitados. Bacon, língua, carne de porco e miúdos em geral (fígado, coração e rim) também devem ser restringidos em sua dieta, pois são ricos em gordura saturada e colesterol. Feijão, cebola, alho, couve de Bruxelas e repolho também devem ser evitados, pois causam flatulência, distensão abdominal ou desconforto gastrintestinal.


Enfim, a dieta tem um papel crucial no tratamento de pacientes com DRGE. A medicação também tem um importante papel, desde que sob orientação médica.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

RECOMENDAÇÕES DE CARBOIDRATOS NO EXERCÍCIO E NO ESPORTE


Abordamos em uma postagem anterior as recomendações de lipídeos no exercício e no esporte. Trabalhamos com a função dos lipídeos ou gorduras, as fontes alimentares, os valores percentuais para a prescrição dietética e um pouquinho de bioquímica para ilustrar sua importância na saúde humana. Dando continuindade ao nosso Blog de Nutrição Esportiva, agora apresento as recomendações de carboidratos (também chamados de hidratos de carbono ou glicídeos) no exercício e no esporte. Minha idéia é abordar os seis (06) nutrientes essenciais para a saúde: carboidratos (açúcares), lipídeos (gorduras), proteínas, vitaminas, minerais e água. As fibras dietéticas fazem parte dos carboidratos dietéticos, mas serão abordados separadamente em função de sua importância na saúde e prevenção de doenças. Observe que algumas pessoas simplesmente se alimentam, enquanto que outras verdadeiramente se nutrem. Sendo assim, vou ajudá-los, caro leitor, a entender esta diferença crucial. Lembre-se, inicialmente, do ditado popular: “Você é que você come”. Além disso, sua alimentação também pode lhe garantir saúde e uma velhice com qualidade de vida. Neste sentido, lembre-se também do pensamento de Hipócrates: “Que os teus remédios sejam os teus alimentos”. Enfim, abaixo apresento algumas Recomendações Dietéticas para Carboidratos no Exercício e no Esporte.

RECOMENDAÇÕES GERAIS DE CARBOIDRATOS

- Em primeiro lugar é importante respeitar as recomendações quanto à quantidade dos alimentos, os alimentos indicados e os horários das refeições. Você deve realizar 5 ou 6 refeições por dia em horários pré-estabelecidos. Para atletas, algumas vezes se trabalha com até 9 refeições diárias. Jamais pule uma refeição, pois o plano alimentar elaborado pelo profissional nutricionista permite alcançar os resultados almejados em curto e médio prazo.



- Os carboidratos são classificados como nutrientes energéticos. Quando ingeridos, os carboidratos sofrem digestão no intestino delgado e são absorvidos, chegando ao sangue. Neste momento, o pâncreas libera um hormônio chamado insulina, que promove a entrada da glicose (comumente conhecido como açúcar do sangue) aos tecidos. Esta glicose (açúcar) pode ser utilizada como uma fonte de energia para manutenção do trabalho biológico celular, ou seja, fornecem energia ao nosso organismo. Além disso, também podem ser armazenados no fígado e nos músculos para uso futuro (por exemplo, jejum e/ou atividade física).


- Em uma alimentação saudável, os carboidratos ganham papel de destaque já que a glicose é o único combustível usado pelo cérebro e sistema nervoso central (SNC) em situações fisiológicas. Além disso, as dietas hipoglicídicas (baixo teor de carboidratos ingeridos) devem ser evitadas em nutrição esportiva. Indivíduos submetidos ao esforço físico que sacrificam seu carboidrato de origem alimentar frequentemente apresentam fadiga precoce e fazem com que o organismo utilize de maneira alternativa a proteína do tecido muscular para se manter vivo e ativo. Como conseqüência, há perda de massa corporal magra (MCM) ou massa muscular. Bioquimicamente, ocorre o seguinte: em situações de hipoglicemia (baixa concentração de glicose no sangue) o organismo cataboliza a massa muscular para obter glicose em um processo conhecido como gliconeogênese. Neste situação, os aminoácidos do tecido muscular são direcionados ao tecido hepático e convertidos em glicose, que voltam ao sangue para alimentar o cérebro e sistema nervoso central (SNC), o que justificaria a perda de massa muscular. Além disso, a falta de carboidratos no período pré-treino não permite a adequação dos depósitos de glicogênio hepático e muscular, justificando a queda glicêmica (hipoglicemia) e a fadiga precoce durante o treinamento. Além das funções citadas (energética, reserva energética como glicogênio e manutenção da glicemia), os carboidratos são componentes estruturais das membranas biológicas e exercem efeito “poupador” de proteínas. Conclui-se, portanto, que a prescrição de carboidrato deva atingir estas finalidades. Porém, o excesso de carboidrato da dieta acaba concorrendo para o sobrepeso e obesidade, pois bioquimicamente falando ele é convertido em lipídeos (gorduras) pela rota metabólica conhecida como lipogênese.

CARBOIDRATOS SIMPLES VERSUS COMPLEXOS


- Você deve evitar o consumo exagerado dos chamados carboidratos ou açúcares simples, tais como o açúcar refinado, o açúcar mascavo, o mel, o melado, as rapaduras, as doces, os bolos, as balas, os pudins, os bombons e os sorvetes, especialmente naquelas refeições fora de hora (“ato de beliscar”). Estes alimentos invadem rapidamente a corrente sangüínea (ditos alimentos de alto índice glicêmico) fazendo com que o pâncreas libera grandes quantidades do hormônio insulina (hiperinsulinemia) a fim de retirar a glicose (açúcar) do sangue. Como resultado, ocorre uma queda brusca da glicemia (hipoglicemia) e a pessoa terá um “roupante” de fome, podendo “atacar a geladeira” e comer tudo que nela houver, além de sentir sonolência e fraqueza excessiva.


- Você deve dar preferência para os carboidratos ou açúcares complexos encontrados em alimentos como arroz, batata, macarrão (sem molhos gordurosos, preferencialmente), pães (preferencialmente integrais) e legumes. Estes alimentos invadem lentamente a corrente sangüínea (ditos alimentos de baixo índice glicêmico) e não causam os efeitos maléficos anteriormente descritos, ou seja, eles controlam os níveis de açúcar no sangue e evitam os “picos” de glicemia e insulina durante o dia.


- Em alguns casos, você também pode substituir açúcar refinado por adoçantes artificiais, especialmente em dietas de emagrecimento ou definição muscular entre os esportistas e atletas. Neste caso, teríamos a sacarina, o ciclamato, o aspartame, a stévia, a sucralose, o sorbitol, o manitol e o xilitol.

DISTRIBUIÇÃO DO MACRONUTRIENTE E APORTE ENERGÉTICO


- Quanto à distribuição de macronutrientes (carboidratos, lipídeos e proteínas) podemos observar que não difere grandemente do não-atleta. Em outras palavras, a Associação Americana de Cardiologia preconiza uma distribuição de macronutrientes para não-atletas na ordem de 55 a 60% de carboidrato, 25 a 30% de lipídeo e 10 a 15% de proteína. Já o National Research Council (NRC) preconiza uma distribuição de macronutrientes para atletas na ordem de 60 a 70% de carboidrato, até 25% de lipídeo e 10 a 15% de proteína, ou seja, esta distribuição percentual semelhante à recomendação para não-atletas. Onde estaria à diferença entre os indivíduos então? Ao que tudo indica, a diferença está no aporte energético da dieta e seleção de alimentos. Um indivíduo sedentário de meia idade, do sexo masculino, poderia estar consumindo cerca de 1.800 kcal/dia, enquanto que um indivíduo atleta, de idade similar, poderia estar consumindo 6.500 kcal/dia. Vejam que a distribuição de macronutrientes poderia ser a mesma nos dois casos, mas o aporte calórico diferencia totalmente. Ou seja, devemos levar em consideração a Equação do Equilíbrio Energético para estabelecer as necessidades energéticas e de nutrientes nos indivíduos.


- O Equilíbrio Energético é uma equação bastante simples, que leva em consideração o que você come diariamente e o que você gasta com atividades diárias. Neste sentido, o consumo energético deve levar em consideração o (1) cardápio diário, (2) o cardápio do fim-de-semana, (3) o ato de beliscar entre as refeições, (4) a ingestão de bebidas alcoólicas e o (5) uso de recursos ergogênicos (também conhecidos como suplementos esportivos). Do outro lado da balança temos o gasto calórico, que deve levar em consideração a (1) taxa metabólica basal (TMB, corresponde entre 65 a 75% do gasto energético total, sendo o gasto calórico para se manter vivo em uma situação de repouso), a termogênese da dieta (que é o calor produzido como resultado do gasto energético para digerir e absorver o alimento, correspondendo a 10% do gasto energético total), o nível de atividade física (corresponde entre 15 a 30% do gasto energético total), a composição corporal dos indivíduos e a idade do mesmo. Ainda existe a temogênese adaptativa, que corresponde a 10% do gasto energético total e refere-se à alteração de calor produzida, sem atividade física, necessária, por exemplo, para evitar calafrios quando o indivíduo é exposto ao frio. Então, o aporte calórico de 1.800 kcal/dia do sedentário suporta as necessidades energéticas do indivíduo sedentário para manter seu peso adequado e saudável. Já o aporte calórico de 6.500 kcal/dia do atleta suporta as necessidades energéticas do atleta submetido a um treinamento intenso.


- O componente mais crítico que vai determinar o aporte calórico da dieta é a atividade física, ou seja, que vai determinar as necessidades energéticas diárias de um indivíduo. E salientamos que a grande maioria da população atualmente, sendo o jovem, o adolescente, o adulto ou idoso, vem praticando alguma atividade física, desde uma simples caminhada na praça até um esforço físico vigoroso nas academias de ginástica e musculação. Assim, estima-se que um corredor queime 950 kcal/hora ao exercitar-se em 80% VO2 máximo, enquanto que atletas de maratona (na mesma média de capacidade aeróbia) podem ter um custo energético de até 2.793 kcal/hora. Atletas de ultra-maratona em estágios múltiplos de ciclismo, a utilização energética oscila entre 7.000 e 10.000 kcal/dia. Além disso, o aporte calórico do atleta também pode variar conforme a calendário de treinamento. Por exemplo, um triatleta de meia idade pesando cerca de 70 kg, no período pré-competição, pode estar ingerindo entre 3.000 a 3.800 kcal/dia, tendo uma distribuição de macronutrientes em 65 a 75% de carboidrato, 20 a 25% de lipídeo e 10 a 12% de proteína. Este mesmo atleta em época de competição de Triathlon poderia estar consumindo entre 4.500 a 9.000 kcal/dia, tendo uma distribuição de macronutrientes em 70 a 75% de carboidrato, 15 a 20% de lipídeo e 10% de proteína. Então, a aporte calórico alterou-se grandemente levando em consideração a fase de treinamento. Enfim, a prescrição de 50 a 60% do valor energético total (VET) em carboidratos, por exemplo, não é um simples cálculo matemático sujeito a calculadora de última geração, mas, sim, um complexo mecanismo realizado pelo profissional nutricionista com excelentes conhecimentos de bioquímica e fisiologia do esporte.

AS RESERVAS DE GLICOGÊNIO SÃO MAIORES NO ATLETA


- O organismo humano armazena carboidrato para uso futuro e este é chamado de glicogênio, sendo armazenado no fígado e tecido muscular. A formação (biossíntese) de glicogênio se dá a partir da glicose (comumente chamado de açúcar,), sendo o processo conhecido bioquimicamente como glicogênese. O glicogênio, então, é um polímero de glicose armazenado no fígado, cujo sua função é a manutenção da glicemia, ou seja, libera esta glicose ao sangue nos episódios de jejum ou exercício. Já o glicogênio do músculo esquelético é usado para ele mesmo durante a contração muscular, não enviando esta glicose ao sangue. No fígado, este glicogênio corresponde a 6% do peso do órgão (85 a 90 g, ou seja, 340 a 360 kcal) e no músculo esquelético representa 1% do peso do tecido seco (300 a 400 g, ou seja, 1.200 a 1.600 kcal). Observe que os músculos esqueléticos apresentam 3 a 4 vezes mais reserva energética na forma de glicogênio quando comparado ao tecido hepático, mesmo porque possuímos apenas um fígado em relação a vários músculos. Outros autores relatam que o músculo esquelético de um indivíduo não-treinado apresenta cerca de 80 a 90 mmol/kg de peso muscular, enquanto que em um indivíduo treinado este valor sobe para 130 a 135 mmol/kg de peso muscular [Nota: mmol/kg trata-se apenas uma unidade de medida, mas fiquem atentos as variações nos valores demonstrados]. O glicogênio muscular garante o desempenho atlético e as experiências dos longos anos de treinamento causam adaptações fisiológicas capazes de aumentar grandemente esta reserva. Todavia, um atleta submetido ao treinamento concomitante com uma dieta hiperglicídica pode aumentar seu glicogênio muscular para 210 a 230 mmol/kg de peso muscular, mostrando um importante papel da nutrição no desempenho e, provavelmente, sucesso deste atleta em uma competição. Você não precisa se prender nos valores numéricos apresentados, mas deve observar que atletas possuem mais glicogênio nos músculos do que não-atletas. Observe também que as dietas ricas em carboidratos (dietas hiperglicídicas) podem garantir este pico maior de glicogênio, garantindo algum sucesso no treinamento ou competições. Isso vai de acordo com as publicações científicas nesta área de conhecimento, onde as dietas hiperglicídicas aumentam os depósitos de glicogênio muscular e/ou levam a uma menor degradação (depleção) de glicogênio em dias sucessivos de treinamento.

CARBOIDRATOS LÍQUIDOS VERSUS SÓLIDOS


- Além dos carboidratos simples e complexos, podemos abordar estes hidratos de carbono em líquidos e sólidos. Ambos apresentam vantagens e desvantagens quando utilizados. Por exemplo, os carboidratos líquidos apresentam as seguintes vantagens de utilização: (1) substitui as perdas pela sudorese do treino (hidratação), (2) possui rápido esvaziamento gástrico e (3) possuem uma variedade de sabores, principalmente em marcas comerciais (Gatorade, Marathon ou Maltodextrina). As desvantagens dos carboidratos líquidos incluem: (1) o cuidado especial com volume administrado, (2) a dificuldade de transporte e manutenção da temperatura ideal e (3) não prove saciedade. Então, também existem os carboidratos sólidos, que também apresentam vantagens e desvantagens. Os exemplos de vantagens são: (1) compacto, praticidade na conservação, transporte e consumo (frutas, cereais em barra, géis, etc.) e (2) prove variedade e saciedade. Claro, desvantagens também são verificadas, como: (1) esvaziamento gástrico lento, (2) o esvaziamento gástrico pode ser mais lento se houver proteína, lipídeos e fibras no alimento, (3) pode requerer líquido para facilitar a digestão e (4) não substitui as perdas pela sudorese do treino. Enfim, a seleção de carboidratos líquidos ou sólidos, ou mesmo em géis, depende de cada indivíduo (tolerância), bem como do esporte específico. Todavia, os artigos científicos são claros: os níveis de glicose e de hormônios glicorregulatórios, bem como o desempenho atlético, não diferem em alterações se o carboidrato é líquido ou sólido. A interferência ocorre em relação ao esvaziamento gástrico e índice glicêmico do carboidrato.

ÍNDICE GLICÊMICO DOS ALIMENTOS


- A batata-doce, o arroz integral e o pão integral são exemplos de carboidratos complexos de baixo índice glicêmico, o que significa dizer que sua rapidez em chegar ao sangue é menor que outros carboidratos. Índice glicêmico é o efeito da ingestão de um determinado alimento sobre os níveis glicêmicos, sendo denominada resposta glicêmica. Esta resposta reflete a habilidade deste alimento em causar hiperglicemia (aumento da glicose sangüínea). Além disso, esta resposta é influenciada pela quantidade de alimento ingerido, pelo conteúdo de fibra e gordura presente no alimento e pelo modo de preparo do mesmo. Existem Tabelas de Índice Glicêmico dos Alimentos, onde os mesmo são ordenados em função de sua habilidade em elevar a glicemia. Esta tabela foi criada, originalmente, para ajudar os pacientes diabéticos quanto à seleção de alimentos de moderado e baixo índice glicêmico (IG) a fim de controlar a glicemia. Posteriormente, a tabela tem sido utilizada por esportistas e atletas, uma vez que o controle da glicemia na refeição pré-treino, durante o treino e pós-treino pode otimizar o desempenho atlético. Como existem inúmeras tabelas e variáveis pontos de corte para o mesmo, me limito apenas em apresentar um modelo para ilustrar minha discussão. Sendo assim, alimentos de resposta glicêmica alta (valor acima de 60 ou IG maior que 60), tais como batata inglesa, flocos de milho e mel, invadem rapidamente a corrente sangüínea, fazendo com que o pâncreas libere grandes quantidades do hormônio insulina para captar a glicose. Como resultado, ocorre hipoglicemia resultante e você terá um “roupante” de fome, sonolência, sudorese, fraqueza excessiva e, eventualmente, desmaiar se for associado ao treino. No geral, estes alimentos são condenados na refeição pré-treino, mas desejáveis na refeição pós-treino a fim de repor rapidamente as reservas energéticas glicídicas (reserva de carboidratos no músculo e fígado) perdidas com o esforço físico (por isso que maltodextrina e dextrose pós-treino são bem vindos). Alimentos com resposta glicêmica baixa (valor menor que 40 ou IG menor que 40) e moderada (valores entre 40 e 60 ou IG 40-60), tais como arroz, macarrão, bananas, maçã e pêra, invadem lentamente a corrente sangüínea e não causam excesso na liberação de insulina. Estes devem ser consumidos antes do treinamento, pois fornecem energia contínua para o esforço físico, podendo retardar a fadiga em cerca de 20 ou 25 minutos. A batata-doce é o exemplo clássico de carboidrato de baixo índice glicêmico (IG). Este alimento também possui valor nutricional (macro e micronutrientes). Tendo IG baixo, ele também pode ser usado na última refeição do dia (jantar ou ceia), pois os picos de insulina são suaves, permitindo um fornecimento de glicose contínua durante a noite, evitando que o indivíduo entre em catabolismo facilmente. Veja, após 4 horas, aproximadamente, entramos em um grau maior de estado catabólico, que geralmente reflete os elevados níveis de glucagon (hormônio do jejum) e cortisol (hormônio do estresse). O resultado disso é a proteólise (quebra da proteína da massa muscular) e déficit de glicogênio hepático (que tende a acabar com o passar das horas). Se seu carboidrato é liberado lentamente, então, acredita-se que algum grau de proteólise é evitado, bem como efeito “poupador” deste glicogênio, que é degradado lentamente. Esta idéia de IG permite selecionar, como foi dito, o que comer antes, durante e depois do treino. Veja, por exemplo, a administração de 75 g glicose (quer dizer, carboidrato rapidíssimo) em 30 minutos antes do exercício reduziu o desempenho atlético em provas de endurance (provas de longa duração) por acelerar depleção de glicogênio e conduzir a hipoglicemia. Ou seja, devem-se evitar carboidratos de alto IG próximo ao treino, a fim de evitar a hiperinsulinemia (excesso de insulina) e a hipoglicemia de rebote. Observe que o exercício aumenta epinefrina, norepinefrina e glicocorticóides, enquanto inibe a insulina, controlando, deste modo, os efeitos da insulina em reduzir os níveis glicêmicos. Como regra geral, carboidratos de IG menor que 40 são usados no pré-treino, carboidratos de IG 40-60 são usados durante o treino e carboidratos de IG maior que 60 são usados no pós-treino. Por fim, o efeito glicêmico de um alimento pode influenciar o desempenho no exercício e no esporte.


JANELA DA OPORTUNIDADE (WINDOW OF OPPORTUNITY)


- Por fim, gostaria de abordar rapidamente um conceito interessante em nutrição esportiva: Window of Opportunity. Lembre-se: o que você come antes, durante ou depois do treinamento pode otimizar seu desempenho atlético ou, ao contrário, acabar completamente com qualquer possibilidade de sucesso no esporte ou competições. Sendo assim, o carboidrato é mais lentamente depletado (gasto) se o atleta foi submetido a uma dieta hiperglicídica. Da mesma forma, a ressíntese (nova formação) de glicogênio muscular é aumentada se o carboidrato for ingerido imediatamente após o esforço físico. Em outras palavras, quanto mais tarde você ingerir este carboidrato, menores serão as chances de repor rapidamente o glicogênio para as sessões de treino futuras. Enfim, você precisa aproveitar a Janela da Oportunidade, alimentando-se adequadamente antes, durante e pós-treino.