terça-feira, 4 de julho de 2017


“PÍLULA DO EXERCÍCIO” OU “PÍLULA DA BOA FORMA” SEM FAZER ESFORÇO FÍSICO?


Recentemente surgiram notícas no “UOL”, “Scientific American Brasil”, “O Glogo” e “Programa Bem-Estar” sobre uma tal de “pílula do exercício” ou “pílula da boa forma”, cujo noticiários afirmam  que os cientistas, particularmente o Instituto Salk, do Dr. Ronald Evans dos EUA, publicado na Cell Metabolim, criaram uma pílula que dá resistência ao esforço físico e promove maior “queima gordura” sem a realização de atividade fisica (“Loucura, Loucura, Loucura”, diria um apresentador de TV). Os beneficios da atividade fisica para a saúde são inquestionáveis, embora os mecanismo não são totalmente compreendidos. Todavia, a notícia da “pílula do exercício” foi, digamos assim, um tanto midiática: “O estilo de vida sedentário ou pouco ativo aumenta as chances para o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas e a pílula do exercício pode ser a solução para a pessoas com  dia-a-dia corrido” ou “várias empresas, geralmente ligadas a indústria farmacêutica, estão investindo tempo e dinheiro para reproduzir drogas que possam reproduzir os benefícios do esforço físico diário e a pílula do exercício poderia substituir a atividade física”. Com base nisso, eu me perguntaria: 



Os cientistas não tem nada melhor para fazer, como curar o Câncer ou AIDS?
Os sedentários não podem tirar a bunda do sofá e largar o copo de refrigerante para caminhar na rua ou puxar uns ferrinhos?
O indivíduo diz não ter tempo para o treinamento, mas tem tempo para olhar Sessão da Tarde, Novela da Globo, Programa do Faustão e BBB?
As empresas farmacêuticas estão realmente interessadas na sua saúde ou na sua falta de saúde?
Quais seriam as implicações futuras destas possíveis “pílulas do exercício”?
Será que o pesquisador Dr. Ronald M. Evans criou uma pílula para as pessoas sedentárias continuarem sendo sedentárias?



Muita calma nessa hora, eu diria. Fiz meu dever de casa, pesquisando o assunto. Achei que o Dr. Evans. Ronald M. Evans é Professor e Diretor do Gene Expression Laboratory, Howard Hughes Medical Institute Investigator e March of Dimes Chair in Molecular and Developmental Biology. Trata-se de um pesquisador que vem estudando os hormônios, especificamente os receptores nucleares que respondem aos hormônios esteróides, tireoidianos e vitamina A. Dr. Evans também tem estudos que envolvem os tratamentos para o câncer (mama, próstata, pâncreas e leucemia), osteoporose e asma. Também achei três estudos do Dr. Evans, que possuem relação como a temática em discussão:



ESTUDO 1:
Hypolipidemic drugs, polyunsaturated fatty acids, and eicosanoids are ligands for peroxisome proliferator-activated receptors a e d. Proc. Natl. Acad. Sci 94: 4312-4317, 1997 (Neste estudo discute-se os receptores ativados por proliferadores de peroxissomas ou PPAR e sua relação com o metabolismo lipídico, especialmente).



ESTUDO 2:
Peroxisome-Proliferator-Activated Receptor d Activates Fat Metabolism to Prevent Obesity. Cell 113: 159–170, 2003 (Neste estudo discute-se novamente o PPAR e o metabolismo lipídico, bem como sua relação com a obesidade).



ESTUDO 3:
AMPK and PPARd agonists are exercise mimetics. Cell 134: 405-415, 2008 (Neste estudo discute-se justamente o uso de drogas ou fármacos com possam reproduzir ou mimetizar – imitar – as ações do PPAR ou AMPK, proteína quinase dependente de adenosina monofosfato). 

Então, curiosamente (e já esperado) não encontrei menção alguma do pesquisador dizendo para as pessoas continuarem comendo pizza, refrigerante, doces e não praticar atividade física diariamente, mas, apenas ingerir “pílulas do exercício” ou “pílulas mágicas” no café da manhã e antes de dormir (Hehehe). Parece que o estudo de 2008 (AMPK and PPARd agonists are exercise mimetics. Cell 134: 405-415, 2008) é o que sustentou os noticiários midiáticos que invadiu as redes sociais. Não quero entrar na discussão bioquímica do processo (que adoro), mas de fato “NÃO EXISTE PÍLULA MÁGICA” que faça você “derreter” toda a graxa em sua barriga, melhorar seu desempenho atlético, transformando-o(a) em Arnold Schwarzenegger ou Gracyanne Barbosa do dia para a noite. Todavia, é válido quando os pesquisadores buscam compreender os mecanismos bioquímicos e moleculares da promoção de saúde associada ao exercício físico. O estudo do Dr. Evans destaca o papel do PPAR na geração de energia, especialmente no músculo esquelético, onde a droga AICAR (droga seletiva da AMPK), administrada oralmente, poderia ativar AMPK. Lembramos, contudo, que o estudo avaliou ratos (camundongos), sedentários (não humanos), sob tratamento de AICAR por 4 semanas e, portanto, não podemos extrapolar resultados para seres humanos. Por fim, sabe para quem seria útil a ‘pílula do exercício”? Imaginem as pessoas com distrofias musculares, que não podem praticar atividade física. Além disso, imaginem os benefícios destas drogas para pessoas com lesão na medula espinhal e que vivem como cadeirantes ou acamados. Agora, essa “pílula do exercício” serve para você, meu paciente? Minha resposta seria: “Vou te dar um chute nos glúteos e te mandar para academia urgente” (Hehehe).

Prof. Me. Nutricionista Joelso Peralta (CRN2 6561).
Mestre em Ciências Médicas: Medicina pela UFRGS.
Professor de Graduação, Pós-graduação e Especialização.
Coordenador da Equipe PeraltaNUTRI - Nutrição Esportiva.

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