sábado, 24 de setembro de 2011

TERMOGÊNICOS E DEFINIÇÃO MUSCULAR – PARTE 2

Olá Pessoal! Dando continuidade ao estudo dos termogênicos ou "queimadores de gordura" para definição muscular, principalmente em relação à definição de abdome, pretendo abordar agora a combinação de efedrina, cafeína e aspirina (ECA). De qualquer forma, minha discussão começa pelos fármacos e, futuramente, abordarei a suplementação nesta área. Mais adiante também irei passar algumas dicas importantíssimas para obter o abdome espetacular, eliminando a protuberância abdominal ou barriga flácida. Para os menos informados, minha intenção continua sendo trazer informações científicas sobre algumas práticas usadas nesta área de nutrição e atividade física. Não estarei condenado ou apoiando tais práticas, estarei apenas prestando esclarecimentos através de uma compilação de informações, ou seja, reunião de obras literárias e artigos científicos mais relevantes na área. Enfim, boa leitura e não se esqueça da autodisciplina para atingir seus objetivos: “Autodisciplina é a capacidade de a pessoa se submeter às regras, opções e comportamentos escolhidos por ela mesma, mesmo diante de dificuldades” (William Douglas).

EFEDRINA

A efedrina é um dos medicamentos mais usados para emagrecimento, já que acelera o metabolismo e a queima de gordura. Contudo, como ela funciona? Qual a dosagem? Existem riscos a saúde? Calma, responderei todas estas dúvidas, mas antes vamos às considerações iniciais.


Efedrina é obtida do extrato vegetal conhecido como Ma Huang, sendo uma das práticas medicinais mais antigas do mundo. Há séculos os Chineses descobriram as aplicações terapêuticas da Ephedra (Ma Huang) no tratamento de afecções do sistema respiratório. Chineses, Japoneses e Indianos usam efedrina para fins medicinais, incluindo asma, tosse, dores articulares, gripes e resfriados. Aliás, podemos encontrar dois tipos de efedrina, a Ephedra sinica (Ma Huang) e a Ephedra viridis (Mormon tea), sendo que só a primeira contém uma concentração considerável de efedrina. Contudo, plantas da família das efedráceas existem mais de 40 espécies distribuídas em regiões de clima temperado e subtropical. Atualmente, o medicamento contendo efedrina é usado como descongestionante nasal e broncodilatador. Mas, obviamente, este fármaco também chegou ao esporte, como no fisiculturismo (bodybuilding). Em outros esportes a droga também tem sido encontrada, bem como nas mãos da população não-atleta que busca um emagrecimento rápido e, na maioria das vezes, sem acompanhamento de um profissional de saúde qualificado.


Cabe salientar que a American Medical Association (AMA, www.ama-assn.org), a Health Canada (www.hc-sc.gc.ca), a National College Athletics Association (NCAA, www.ncaa.org), o International Olympic Committee (IOC, www.olympic.org), a Food and Drug Administration (FDA, www.fda.gov) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, www.anvisa.gov.br) têm recomendado a proibição da venda e consumo de efedrina para fins de estética corporal, sendo a mesma considerada Doping entre os atletas e inúmeras publicações advertem sobre os riscos de saúde associados à droga. Se o problema com a efedrina está neste nível, então, imaginem a combinação com cafeína e aspirina? E se adicionar a combinação com clembuterol (CLEM)? E se associarmos tudo a má nutrição e falta de orientação profissional? Sua comercialização é proibida no Brasil, mas é de fácil aquisição pela internet ou em academias, então, como fica esta situação?


Mas, enfim, como funciona a efedrina? Não posso, novamente, fugir da bioquímica e fisiologia nesta discussão. E, portanto, serei detalhista, embora que buscando uma linguagem acessível a todos. Para facilitar sua leitura, gostaria de abordar cinco conceitos fundamentais inicialmente.


CONCEITO 1: Sistema Nervoso Central


O sistema nervoso coordena as funções normais (fisiológicas) do organismo humano, sendo formado por neurônios. Neurônios são células responsáveis pela transmissão do impulso nervoso. A comunicação entre dois neurônios se dá através de um pequeno espaço entre eles chamado de sinapse, ou seja, correspondem aos pontos onde determinados neurônios se encontram e se comunicam. Esta sinapse pode ser química (realizada por substâncias ou mediadores químicos conhecidos como neurotransmissores) ou elétrica (através da participação de partículas com cargas positivas e negativas). Assim, um neurônio pré-sináptico (neurônio que veio antes e transmite uma informação) se comunica com o próximo chamado de neurônio pós-sináptico (neurônio que veio depois e recebe a informação). Para facilitar o entendimento, imaginem a afiação de sua residência. A luz de sua casa só acende porque um fio se liga a outro, permitindo a transmissão deste impulso, o que permite a luz ao invés da escuridão. Da mesma forma estamos falando aqui, onde neurônios são fios ligados entre si para obter um resultado final, que neste caso não é acender a luz, mas, sim, trazer uma ação fisiológica. Ainda, o sistema nervoso pode ser dividido em Sistema Nervoso Central (SNC), formado pelo encéfalo (localizado no crânio) e medula espinhal (localizado no canal vertebral) e Sistema Nervoso Periférico (SNP), formado por gânglios nervosos (pequena coleção de células nervosas) e nervos (feixe de fibras nervosas). A efedrina é uma amina simpatomimética que age sobre o sistema nervoso central (SNC).


CONCEITO 2: Estímulo Simpatomimético


A efedrina é uma amina simpatomimética que age sobre o SNC, ou seja, estimula o encéfalo e medula espinhal. O que significa simpatomimético? Retomamos, aqui, aquele conceito abordado na postagem sobre clembuterol (CLEM). Existem estimuladores do SNC que podem ser classificados em estimulantes psicomotores (que causam excitação, euforia, diminuem a sensação de fadiga e aumentam a atividade motora) e estimuladores alucinógenos, psicotomiméticos ou simpatomiméticos (que produzem alterações de raciocínio e humor e estimulam o sistema nervoso propriamente dito). A efedrina é simpatomimética, ou seja, estimula o SNC imitando os efeitos das catecolaminas.


CONCEITO 3: Catecolaminas


A efedrina é simpatomimética, ou seja, imita as ações das catecolaminas. O que são catecolaminas? Existem três tipos básicos de catecolaminas: a adrenalina (epinefrina ou EP), a noradrenalina (norepinefrina ou NE) e a dopamina (DA). Ambas ocorrem naturalmente em nosso organismo e estimulam respostas fisiológicas. A efedrina não é uma catecolamina, mas, sim, uma amina simpatomimética. Desta forma, a efedrina imita as ações da adrenalina e noradrenalina, particularmente. A efedrina é também mencionada como sendo um alcalóide vegetal, ou seja, quimicamente são estruturas, derivadas de vegetais, que contém essencialmente nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e carbono e possuem propriedades farmacológicas usadas na formulação de medicamentos. Ainda, a efedrina pode ser produzida de maneira sintética em laboratório. Enfim, a efedrina é uma amina simpatomimética, que imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE), através de sua interação com receptores adrenérgicos no SNC.


CONCEITO 4: Receptores Adrenérgicos


A efedrina mimetiza (imita) as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC, o que ocorre pela interação com receptores adrenérgicos. O que são receptores adrenérgicos? No SNC há dois tipos de receptores adrenérgicos, ou seja, proteínas presentes nas membranas das células (neste caso, localizados em neurônios) e que interagem com determinadas substâncias. Estes receptores são denominados em receptores do tipo alfa (alfa-1 e alfa-2) e beta (beta-1 e beta-2). Qual a diferença entre os receptores alfa e beta? Vejamos abaixo os tipos de receptores:


- Receptores adrenérgicos alfa-1. Estes estão presentes nas membranas dos neurônios pós-sinápticos e interagem com norepinefrina (NE). Os receptores alfa-1 promovem a vasoconstrição, aumento da resistência periférica, aumento da pressão arterial, midríase (dilatação da pupila em função da contração do músculo dilatadora da pupila) e maior fechamento do esfíncter interno da bexiga urinária.


- Receptores adrenérgicos alfa-2. Estes se localizam nas terminações pré-sinápticas e promovem a inibição da liberação de NE e de insulina pelo pâncreas. Os receptores alfa-2, então, estão envolvidos na recaptação ou remoção de neurotransmissores em neurônios pré-sinápticos, como a remoção de NE.


- Receptores adrenérgicos beta-1. Estes se localizam nos neurônios pós-sinápticos e tem a mesma afinidade para EP e NE. Os receptores beta-1 atuam sobre a musculatura cardíaca, causando taquicardia, aumento da contratilidade do miocárdio, aumento da mobilização de gordura do tecido adiposo (lipólise) e aumento na liberação da renina. A renina é uma enzima liberada pelos rins e provoca a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, envolvidos no equilíbrio do volume de líquido extracelular e pressão arterial.


- Receptores adrenérgicos beta-2. Estes se localizam nos neurônios pós-sinápticos, tendo maior afinidade para EP. Sua ativação leva a vasodilatação da musculatura lisa, leve redução da resistência periférica, broncodilatação, aumento da degradação de glicogênio hepático e muscular, aumento na liberação do hormônio glucagon e relaxamento da musculatura uterina.

Em relação aos medicamentos, o clembuterol (CLEM) estimula os receptores adrenérgicos beta-2, enquanto que a efedrina estimula os receptores alfa-1, beta-1 e beta-2. Em outras palavras, a efedrina é um agonista adrenérgico de ação mista.


CONCEITO 5: Agonistas Adrenérgicos

Observe como você já aprendeu bastante. A efedrina é uma amina simpatomimética que mimetiza as ações das catecolaminas. Porém, ela não é uma catecolamina e apenas imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC. Isso ocorre porque a efedrina liga-se a receptores adrenérgicos do tipo alfa-1, beta-1 e beta-2. Sua grande interação com diferentes receptores garante o título de agonista adrenérgico de ação mista. O que é um agonista adrenérgico de ação mista? Agonista adrenérgico refere-se à característica de determinada substância química ou mediador químico (neste caso a efedrina), que atua sobre determinados receptores e desencadeia uma resposta celular em particular, podendo ser um aumento (ativação) ou diminuição de função (inibição). Usa-se, contudo, o termo antagonista para determinadas substâncias que atuam de forma contrária aos agonistas conhecidos, geralmente atuando como bloqueadores dos receptores envolvidos na resposta celular. Estes antagonistas também são conhecidos como inibidores competitivos ou não do encaixe do agonista-receptor. Esta reação também pode ser reversível ou irreversível. Há basicamente três tipos de agonistas.


- Agonistas de Ação Direta. A epinefrina (EP), a norepinefrina (NE) e a dopamina (DA) são agonistas de ação direta, ou seja, se ligam diretamente aos receptores pós-sinápticos sem interagir com o neurônio pré-sináptico.


- Agonistas de Ação Indireta. As anfetaminas, que discutiremos em outra postagem, são agonistas de ação indireta, ou seja, promovem a liberação de norepinefrina (NE) dos terminais pré-sinápticos.


- Agonistas de Ação Mista. A efedrina é um agonista de ação mista, ou seja, induzem a liberação de norepinefrina (NE) e ativam receptores pós-sinápticos. Isso ocorre porque a efedrina estimula a liberação de NE armazenada em vesículas dentro dos neurônios pré-sinápticos e sua interação com o receptor alfa-1, localizado no neurônio pós-sináptico. A efedrina também imita as ações da epinefrina (EP) e norepinefrina (NE) sobre o SNC através de sua interação com receptores beta-1 e beta-2.

Agora, sim, podemos responder aquela pergunta: Como funciona a efedrina? Com base no que foi dito, você pode entender que a efedrina é um potente fat burners (“queimador de gordura”). Seu efeito termogênico acelera o metabolismo e a geração de calor, “queimando a gordura corporal”, literalmente. Esta seria uma maneira simples de explicar, agora vamos a maneira mais complexa. A efedrina é um fármaco que atua sobre receptores (alfa e beta), promovendo uma grande variedade de efeitos ao organismo. Em relação ao emagrecimento, ele promove a mobilização de gordura do tecido adiposo uma vez que se liga aos receptores beta-1 adrenérgicos. Isso causa um aumento da lipólise (hidrólise dos triglicerídeos localizados no tecido adiposo) em uma reação catalisada pela lípase hormônio sensível (LHS), formando ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos sofrem oxidação (“queima”) na mitocôndria do tecido muscular esquelético, onde este processo é conhecido como beta-oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa. A efetiva “queima da gordura” necessita da participação de determinadas enzimas presentes na membrana da mitocôndria, particularmente a carnitina acil-transferase 1 (CAT-1) e a carnitina-aciltransferase 2 (CAT-2). A CAT-1 e CAT-2 permitem a translocação do ácido graxo para dentro da mitocôndria, local onde ocorre à beta-oxidação destes (“queima de gordura”). O resultado final é a obtenção de adenosina trifosfato (ATP, ou seja, energia) a partir de ácidos graxos, o que resulta em perda de peso à custa de lipídeos (gorduras). Além disso, a efedrina estimula os receptores beta-2 adrenérgicos, que aumentam a secreção do hormônio glucagon pelo pâncreas. O glucagon é um hormônio do estado de jejum (estado pré-absortivo), sendo responsável pela mobilização de reservas glicídicas (como o glicogênio hepático) e lipídicas (como os triglicerídeos do tecido adiposo). Neste sentido, a lipólise é novamente estimulada, embora a degradação do glicogênio hepático possa levar ao cansaço (fraqueza), fadiga (letargia) e hipoglicemia (baixos níveis de glicose no sangue). Por fim, a efedrina estimula a liberação de norepinefrina (NE), que se liga aos receptores alfa-1 adrenérgicos dos neurônios pós-sinápticos, levando a formação do segundo mensageiro conhecido como adenosina monofosfato cíclico (AMPc), que também ativa a lipólise do tecido adiposo.


Já que a cascata de efeitos da efedrina é grande, como vimos, será que existem riscos a saúde com o uso deste fármaco? Eu sempre imagino que uma tomada de decisão ou decisão inteligente deve vir de uma visão ampla por determinado assunto. Neste sentido, vou interromper nossa abordagem sobre efedrina para introduzir o seguinte pensamento: “Qual é o rei que, indo entrar em guerra com outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?” (Parábola sobre a importância do planejamento e organização). Creio que ainda não respondi a pergunta, então, continuemos nosso estudo da efedrina.


No passado, como foi dito inicialmente, a efedrina tinha uma proposta terapêutica, sendo útil nas afecções do sistema respiratório, facilitando a passagem de ar nos pulmões em pacientes com asmáticos, por exemplo. Sua ação como descongestionante nasal e broncodilatador fazem desta substância um medicamento bastante comum atualmente. Nos tempos modernos da “Era dos Espelhos”, contudo, o medicamento tem sido usado para reduzir o peso corporal, favorecendo o emagrecimento. Entre esportistas e atletas, seu uso parece ter função puramente estética.


Cabe salientar, então, alguns efeitos colaterais pela administração de efedrina. Vejamos o que diz a própria rotulagem destes produtos: “As declarações da etiqueta não são avaliadas pela Food and Drug Administration. Este produto não se destina ao diagnóstico, tratamento, cura ou prevenção de doença”. E ainda continua: “Não é recomendado para menores. Não usar se estiver grávida ou amamentando. Indivíduos que consomem cafeína com este produto pode ter graves efeitos adversos à saúde. Indivíduos que são sensíveis aos efeitos da cafeína devem consultar um profissional de saúde antes de consumir o produto. Em caso de overdose acidental, procure assistência profissional ou entre em contato com um centro de controle de intoxicação imediatamente. Evitar álcool enquanto estiver usando o produto. Não exceder a dose recomendada. Doses superiores a recomendada podem causar sérios efeitos adversos à saúde, incluindo ataques cardíacos e derrames. Descontinue o uso e chame um profissional de saúde imediatamente se tiver taquicardia, tonturas, dores de cabeça, falta de ar e outros sintomas similares. Uso indevido deste produto pode ser perigoso à saúde e dose superior a recomendada não melhora os resultados. Qualquer pessoa que tenha reação alérgica a marisco ou quitosana devem consultar um médico antes de consumir o produto”.


A literatura vai de acordo com as informações acima e ainda destaca: a efedrina aumenta a pressão arterial sistólica e diastólica por vasoconstrição e estimulação cardíaca. Ela ainda produz broncodilatação e estimula o sistema nervoso central (SNC), aumentando o estado de alerta, diminuindo a fadiga e dificultando o sono. Arritmia cardíaca, cefaléia (dor de cabeça), hiperatividade, alteração de humor, insônia, náusea e tremores das mãos são os sintomas mais comuns associados ao uso de efedrina. Alguns evoluem para arritmias, miocardite e infarto, justificado pelo estímulo dos receptores alfa e beta adrenérgicos.


Bem, você pode estar se perguntando: A efedrina parece perigosa, mas as pessoas usam e ninguém morre usando este produto? Isso não é absolutamente verdade. Foi publicado por no Arquivo Brasileiro de Cardiologia (87:179-181, 2006) o seguinte artigo científico: “Infarto do Miocárdio em Atleta Jovem Associado ao Uso de Suplemento Dietético Rico em Efedrina”, onde relata o caso de um atleta jovem (28 anos de idade), 104 kg, 1,77 metros, com grande massa muscular e pouca adiposidade, lutador de Vale-Tudo, sem fatores de risco para doença cardiovascular, que evoluiu para infarto no período em que fez uso de um suplemento rico em efedrina. O produto continha 250 mg de extrato de Ma Huang, o que equivale a 20 mg de efedrina e o atleta utilizou quatro comprimidos por dia (portanto, 80 mg/dia de efedrina). O atleta fez uso de efedrina para perder peso com relatos palpitação, tremores, insônia e dor torácica de forte intensidade em repouso. É importante destacar que não havia a presença outras complicações de saúde, tais como história pregressa de hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia ou história familiar de doença cardiovascular. O atleta negava o uso de drogas ilícitas e esteróides anabolizantes. Não havia alterações evidentes em exames laboratoriais (glicemia, perfil lipídico e creatinina). Foi verificado alterações no eletrocardiograma e cineangiocoronariografia, onde foi verificada a oclusão completa da artéria coronária. O atleta acabou falecendo sem exibir a definição muscular máxima esperada e sem atingir um pico no esporte. Agora você entende aquela Parábola do Rei em Guerra anteriormente? Ainda não? Então continue lendo.


Retomando o contexto inicial. A efedrina funciona para emagrecimento e definição corporal a fim de adquirir meu abdome reto e bem definido? Certamente que sim. A efedrina é um excelente estimulante energético que pode aumentar o rendimento atlético? Certamente que sim. Há riscos a saúde com a administração de efedrina? Certamente que sim. Qual a dosagem recomendada? E, ainda, existe alguma dose segura a fim de obter efeitos desejáveis e evitar os indesejáveis? Vamos finalizar estas colocações, portanto.


Os produtos costumam oferecer entre 20 e 25 mg de efedrina por comprimido, geralmente. A sugestão de uso é para 1 comprimido por dia (20 a 25 g/dia), embora existam pessoas que trabalhem com doses maiores (80, 100, 150, 200 ou 250 mg/dia). Não podemos, ainda, esquecer aquela história de dessensibilização dos receptores (alfa e beta) pelo uso prolongado de efedrina e outros fármacos, ou seja, perde-se sua sensibilidade para emagrecimento com o passar do tempo. Isso faz com que alguns indivíduos aumentem erroneamente a dosagem ingerida do fármaco. Este comportamento é perigoso a saúde em decorrência do aumento da temperatura corporal (hipertermia), taquicardia, aumento da pressão arterial, aumenta da freqüência cardíaca, aumento do risco de infarto ou derrame, até mesmo, conduzir ao óbito. Claro que o aumento da dosagem implica em maior capacidade em resistir ao esforço físico vigoroso em níveis muito maiores do que estaria acostumado, mas os riscos também aumentam grandemente.


Você poderia questionar as informações aqui apresentadas, pois deve conhecer indivíduos que fazem uso de efedrina em doses elevadas e nada sentem em efeitos colaterais e apenas exibem um abdome extremamente definido. Lembro, novamente, o artigo publicado em 2006 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 87:179-181, 2006) sobre o óbito de um atleta jovem usando efedrina. Você ainda poderia questionar as informações, onde pode ter um avô que fumou a vida toda e não faleceu de câncer de pulmão aos 99 anos de idade, se fossemos comparar ao tabagismo. Mas, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, www.inca.gov.br) em 90% dos casos diagnosticados de câncer de pulmão estão associados aos produtos derivados do tabaco, sendo que no Brasil o câncer de pulmão é responsável por 14.715 óbitos no ano de 2000. Lembro, também, que cada indivíduo é um indivíduo, ou seja, deveria pensar na individualidade biológica e a exceção a regra sempre existe. De qualquer forma, se você é hipertenso ou cardiopata deveria passar muito longe destes modelos de medicamentos ou suplementos contendo efedrina e pseudo-efedrina, principalmente quando associado a uma atividade física sem a orientação de um educador físico qualificado. Quer dizer, a Parábola do Rei em Guerra anteriormente citada diz que você está entrando em uma verdadeira “guerra” usando efedrina e pode ganhar (um abdome definido sem dúvidas) ou pode perder (coma e óbito, por exemplo).


Enfim, é muito engraçado, como profissional nutricionista, observar o seguinte comentário na rotulagem dos produtos contendo efedrina ou pseudo-efedrina: “Comer 5 ou 6 pequenas refeições por dia, reduzir o consumo de carboidratos e eliminar fast foods e refrigerantes da dieta”. Puxa, será que estas atitudes dietéticas, sem o uso de efedrina, já não seriam suficientes para a redução do peso e do percentual de gordura corporal? Será que não estamos subestimando o poder do treinamento físico? As pessoas levam 20 anos de sua vida ingerindo alimentos pobres do ponto de vista nutricional e parte destes anos em pleno sedentarismo, mas querem um físico esbelto do dia para a noite. Outros buscam um coquetel bastante conhecido entre fisiculturistas e pessoas que buscam resultados rápidos, que se trata da combinação de efedrina-cafeína-aspirina (ECA). Vejamos, então, a cafeína e aspirina.

CAFEÍNA

Cafeína é um alcalóide ativo da família das metilxantinas, sendo metabolizada no fígado em três metilxantinas: a paraxantina, a teofilina e a teobromina. Quer dizer, ela é rapidamente absorvida pelo intestino e atinge sua concentração máxima no sangue em 15 a 120 minutos após a ingestão, o que depende da dosagem e interação com outros alimentos na mesma refeição. Após, é metabolizada no fígado nas três metilxantinas destacadas. A quantidade total de cafeína excretada na urina depende de fatores genéticos, peso corporal, estado de hidratação e atividade física. A cafeína tem sido usada por esportistas e atletas que buscam redução da fadiga e emagrecimento.


A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central (SNC), diminuindo a percepção da fadiga. Mas, como ela funciona realmente? Seu mecanismo de ação seria igual ao clembuterol ou efedrina? Não exatamente. A cafeína aumenta as concentrações de norepinefrina (NE), o que estimula diretamente o processo lipolítico, ou seja, a “queima de gordura”. Isso se dá pela inibição da enzima chamada fosfodiesterase pela cafeína. Veja, quando a NE se liga a seu receptor (por exemplo, receptor adrenérgico alfa-1) no tecido adiposo, onde a adenosina trifosfato (ATP) é utilizada para gerar um segundo mensageiro conhecido como adenosina monofosfato cíclico (AMPc) em uma reação catalisada pela enzima adenil-ciclase. O AMPc produz uma cascata de eventos, onde a proteína quinase A (PKA) aumenta a atividade da enzima lipase hormônio sensível (LHS), que é responsável pela mobilização de gordura do tecido adiposo. Porém, depois de certo período de tempo, ocorre dessensibilização da NE ao receptor e o processo é interrompido. Neste caso, o AMPc é convertido em 5’-adenosina monofosfato (5’-AMP) pela fosfodiesterase do AMP. Segue o caminho de degradação da 5’-AMP e, como conseqüência, a interrupção do processo envolvendo a NE. Contudo, a cafeína inibe a fosfodiesterase, o que aumenta a meia-vida do AMPc intracelular e, conseqüentemente, aumenta as concentrações de NE ou permite sua interação continuada com o receptor específico. O resultado disso é a grande mobilização de gordura do tecido adiposo e o emagrecimento.


A cafeína também melhora a concentração e a capacidade de pensamento, bem como o desempenho das chamadas atividades motoras. Outros trabalhos mostram que a cafeína diminui a interação da adenosina no cérebro. Adenosina é um nucleosídeo formado pela adenina e ribose, mas não entraremos nestes detalhes. Basta dizer que a adenosina é uma substância vasodilatadora dos vasos sangüíneos, o que aumento o fluxo sangüíneo local. A adenosina também está envolvida com a sensação de sono. Todavia, a cafeína liga-se aos mesmos receptores onde se ligaria a adenosina e, desta forma, ele ocupa o lugar a adenosina. Sendo assim, a vasodilatação é substituída pela vasoconstrição promovida pela cafeína. Observem que alguns medicamentos para dor de cabeça possuem cafeína, já que a vasoconstrição tende a aliviar os sintomas. Em suma, outro mecanismo da cafeína seria antagonizar os efeitos da adenosina. Agora você consegue perceber porque algumas pessoas relatam insônia com o uso excessivo de cafeína?


Especula-se, também, que a cafeína aumente as concentrações de dopamina (DA), um importante neurotransmissor que atua sobre o sistema nervoso central (SNC). A dopamina (DA) está relacionada com as sensações de prazer e seus níveis elevados poderiam justificar um “vício da cafeína” pelos consumidores, o que representa toneladas anuais de consumo mundial de cafeína.


A cafeína é uma substância psicoativa encontrada em diversos produtos, tais como o café, o chá, o chocolate, os energéticos e os refrigerantes em doses variáveis. A cafeína tem sido encontrada também em diversos tipos de suplementos para emagrecimento e em doses bastante variáveis, podendo chegar a 200 ou 600 mg de cafeína por dose. Cabe lembrar que em 150 ml de café instantâneo contém 43,2 mg de cafeína; café filtrado tem 27 mg; café expresso tem 125 a 165 mg; café descafeinado tem 1,6 mg; bebida energética tem 82,5 mg; Ice Tea (bebida sem gás composto por chás e aromas) tem 7 a 19 mg e refrigerante tipo cola tem 17 a 30 mg de cafeína.


Muitos de vocês, caros leitores, ingerem cafeína diariamente, não é mesmo? Entretanto, será que uma dose excessiva de cafeína, como encontrada em suplementos esportivos, pode causar algum mal a saúde? Parece que sim. Os principais efeitos colaterais pelo uso excessivo de cafeína incluem a taquicardia, a dilatação da pupila, o aumento da pressão arterial e o aumenta da freqüência cardíaca, já que a cafeína permite a ação persistente da norepinefrina (NE). Claro, a cafeína também estimula o centro respiratório, responsável pelo aumento da freqüência e intensidade respiratória, bem como a broncodilatação. Seu uso também tem sido associado à contração dos músculos e a diminuição do fluxo de sangue ao estômago, bem como a estimulação da lipase hormônio sensível (LHS), responsável pela mobilização dos depósitos de gordura corporal. Para alguns indivíduos, o excesso de cafeína pode estar associado com relatos de tremores involuntários, nervosismo e dores de cabeça. Ainda, um excesso na dosagem de cafeína aumenta o volume urinário e a excreção de sódio pela urina, bem como a diminuição na reabsorção tubular renal de sódio e água. Uma vasodilatação da arteríola glomerular aferente (pequena artéria dentro dos rins) também seria responsável por um efeito diurético da cafeína que, de forma exagerada, poderia conduzir a desidratação. Sobre o sistema digestivo, a cafeína em doses superiores a 250 mg/dia estimularia a secreção de ácido clorídrico e da enzima pepsina (responsável pela digestão de proteínas) pela cavidade gástrica, o que seria contra-indicado para pacientes com gastrite ou úlcera. Por fim, pacientes sob atendimento psiquiátrico (esquizofrênicos, por exemplo) devem ser monitorados quanto ao uso de cafeína, uma vez que os sintomas podem ser agravados. Pacientes esquizofrênicos apresentam importante transtorno psicossocial e emocional com prejuízos na vida de relações interpessoais e familiares. Em 1963, os pesquisadores Carlsson & Lindqvist descreveram a teoria dopaminérgica na esquizofrenia, onde se observou que estes pacientes apresentavam uma hiperfunção dopaminérgica, ou seja, há um excesso de dopamina (DA) nestes pacientes. Todavia, a cafeína tende a aumentar os níveis de dopamina (DA), o que poderia agravar os sintomas da doença com uma sobrecarga dopaminérgica.


Entretanto, que dose de cafeína provocaria efeitos colaterais? E que dose de cafeína poderia trazer efeitos desejáveis, como emagrecimento e melhoria no pensamento? Bem, parece que os benefícios da cafeína em relação ao pensamento não devem ultrapassar 200 mg/dia, enquanto que seu efeito sobre o emagrecimento (inibição da fosfodiesterase e bloqueio da adesonina) é na ordem de 300 mg/dia. Entretanto, para pessoas não acostumadas ao uso de cafeína, 250 mg/dia de cafeína são suficientes para aumentar a freqüência cardíaca, causar palpitação e, até mesmo, aumentar a pressão arterial. Os relatos na literatura que associam o sono conturbado e insônia com o uso de cafeína são controversos. Alguns realmente apresentam insônia e mantêm-se alertas com o uso de cafeína (o que teria relação com o bloqueio da adenosina, já que este está envolvido com a sensação de sono), enquanto outros não sofrem influência alguma com doses de cafeína diárias e até mesmo, próximas à hora de dormir.


Tudo bem, parece que sensibilidade a cafeína é algo individual. Mas, homens e mulheres respondem diferentemente as distintas doses de cafeína? Bem, ainda não sabemos esta resposta, mas saiba que 3 a 6 miligramas por quilograma de peso corporal ao dia (3-6 mg/kg/dia) em cafeína já seria responsável por um ou mais relatados em alguns indivíduos. Vejamos, então, um cálculo simples: Se você é um homem de 75 kg poderia apresentar um ou mais efeitos com o uso de 225 a 450 mg de cafeína. Ainda, a dose de 8 mg/kg/dia é considerada Doping, ou seja, 600 mg de cafeína para nosso indivíduo de 75 kg. Doses de 10 a 15 mg/kg/dia podem causam toxicidade, incluindo distúrbios gastrintestinais, arritmia, ansiedade, nervosismo, alucinação, infarto e derrame (750 a 1.125 mg de cafeína para nosso indivíduo de 75 kg). Claro, se você é uma mulher de 55 kg, por exemplo, as doses seriam menores (55 kg x 6 mg = 330 mg de cafeína/dia, por exemplo).


E quanto tempo nosso organismo leva para se livrar de uma dose de cafeína? O tempo de meia-vida da cafeína é de 2 a 4 horas. Assim, se você ingeriu 125 mg de cafeína às 14 horas, um café expresso por exemplo, é provável que as 18 horas ainda restem 62,5 mg de cafeína para serem eliminadas do organismo, considerando que ele leve 4 horas de meia-vida (ou seja, o tempo que a cafeína se perde pela metade). Então, as 22 horas ainda restaram 31,3 mg de cafeína a serem eliminados, teoricamente. Isso é realmente impressionante e poderia, sim, atrapalhar o sono de alguns indivíduos mais sensíveis. Quer dizer, este indivíduo que teve um sono conturbado ou insônia buscará mais cafeína logo pela manhã e durante o dia, a fim de manter a qualidade de seu trabalho, seja um advogado, professor, engenheiro, arquiteto, analista de sistemas, etc. Observem que cria-se um verdadeiro ciclo vicioso a fim de manter o “coitado” do indivíduo sempre alerta.


Enfim, parece que o limite máximo de cafeína ao dia que não seria capaz de causar danos a saúde humana é na faixa de 500 mg/dia, o que equivale a meio litro de café em 4 doses durante o dia. Porém, em outros trabalhos, doses superiores a 350 mg/dia por 1 mês ou mais podem causar dependência e síndrome de abstinência em alguns indivíduos, que tende a desaparecer em poucos dias. Talvez seja interessante voltarmos aos cafezinhos de 60 ml após o almoço?


E quanto tem de cafeína nos suplementos esportivos oferecidos atualmente? O Red Line Ultra Hardcore da VPX, por exemplo, possui 290 mg de cafeína em 3 cápsulas. Já o Lipo 6X da Nutrex possui 200 mg de cafeína em 2 cápsulas, sendo que as pessoas ingerem 4 cápsulas ao dia (portanto, 400 mg/dia). O D4 Thermal Shock Cellucor possui 150 mg em 1 cápsula, sendo que as pessoas ingerir 4 cápsulas (600 mg/dia). Claro, estes e outros suplementos não possuem apenas cafeína em sua composição, mas uma série de substâncias completamente desconhecidas pela população leiga e que serão discutidas futuramente em outras postagens, como evodiamina, N-acetil-L-tirosina, guggulsterona, 5-hidroxi-L-triptofano, adenosina monofosfato cíclico, vinpocetina, yohimbina, sinefrina, citrus aurantium, octopamina, 1,3-dimetilamilamina, 1,3-dimetilfenilamina, trans-resveratrol, extrato de Ginkgo Biloba, entre outros. Neste sentido você deveria se perguntar: Eu sei exatamente o que estou ingerindo nesta pequena cápsula do produto? Caro leitor, imagino que muitos de vocês nunca fizeram tal pergunta e, por isso mesmo, minhas postagens tem a intenção de trazer tais esclarecimentos e ajudá-lo a pensar neste assunto.


Enfim, a cafeína tem a capacidade de aumentar as concentrações de norepinefrina (NE), o que aumenta a oxidação (“queima”) de gorduras. Sua combinação com efedrina e aspirina parece potencializar ainda mais esses efeitos de emagrecimento, bem como a supressão do apetite. Talvez isso potencialize uma estimulação prolongada do SNC, que poderia persistir entre minutos e horas. Entretanto, esta ação sinérgica, que promove a perda de peso e de gordura corporal, pode acarretar sérios problemas de saúde, pois estaria sobrecarregando o SNC, bem como a liberação extra de glucagon pelo pâncreas (hiperglucagonemia). Obviamente este sinergismo de função através da manipulação de efedrina (geralmente 20 a 25 mg/dia) com cafeína (geralmente 200 mg/dia) e aspirina (geralmente 300 mg) é efetivo para promover o emagrecimento. Porém, é uma verdadeira “bomba” ao organismo e os riscos a saúde aumentam grandemente. Alguns argumentam que o ECA (efedrina-cafeína-aspirina) não seria capaz de produzir efeitos colaterais em indivíduos sadios, porém os mesmos estão esquecendo da individualidade biológica, onde cada indivíduo pode responder diferente as determinadas substâncias administradas. De qualquer forma, quem seriam os indivíduos sadios? Francamente, qual esportista ou atleta faz previamente uma bateria de exames para só depois usar um produto dito termogênico? E quais destes mesmos indivíduos sadios fazem uso de tais produtos sob acompanhamento médico e/ou de um profissional nutricionista?


Finalmente, a cafeína não é considerada uma droga, nem mesmo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A cafeína é aceita socialmente em todas as classes sociais. Para algumas pessoas, os verdadeiros “baldes” de café (e não mais um cafezinho de 60 ml) são indispensáveis para manter a correria do dia-a-dia e manter-se sempre desperto. A cafeína aparece “escondida” no chá, chocolate, energéticos e refrigerantes em doses variáveis. Seu uso é milenar, onde os homens da Pré-História mastigavam algumas sementes e folhas de café para diminuir a fadiga. Atualmente estamos acostumados com o café expresso, curto, coado, pingado, cappuccino, cortado ou mocha. Entretanto, como descrito aqui, a cafeína não é totalmente inofensiva. Doses excessivas de cafeína proporcionam desde uma reação de alerta, taquicardia e nervosismo até o aumento da pressão arterial e óbito. O clembuterol, a efedrina e a cafeína já foram devidamente abordadas neste Blog. Vejamos agora o uso de aspirina, geralmente através da combinação ECA (efedrina, cafeína e aspirina).

ASPIRINA

A aspirina é comercializada na forma de comprimidos e cuja substância ativa, o ácido acetilsalicílico (AAS), atua no alívio sintomático de dores de intensidade leve a moderada, incluindo dores de cabeça, dor de dente, dor de garganta, dor menstrual, dor muscular, dor nas articulações, dor nas costas e dor da artrite. Também usado na dor da febre associados aos resfriados ou gripes. O AAS pertence ao grupo de substâncias antiinflamatórias não-esteróides (AINE), que são eficazes nestas situações de alívio de dor, febre e inflamação. Mas, o que seriam substâncias antiinflamatórias não-esteróides (AINE)? Porque a aspirina é usado no exercício e no esporte? Há contra-indicações de seu uso? Há risco de saúde? Vejamos cada uma destas indagações.


Após a administração oral, o ácido acetilsalicílico (AAS) é rápida e completamente absorvido pelo trato gastrintestinal. Durante e após este período de absorção, o AAS é convertido em ácido salicílico (salicilato), seu principal metabólito ativo. Os níveis máximos de AAS no sangue (AAS plasmáticos) são atingidos após 10 a 20 minutos, enquanto que o ácido salicílico pode levar até 2 horas. Tanto o AAS quanto o ácido salicílico ligam-se em determinadas proteínas plasmáticas, sendo rapidamente distribuídos a todas as partes do organismo. O ácido salicílico é eliminado principalmente por metabolismo hepático (ou seja, degradado por um sistema enzimático no fígado), cujos metabólitos (ou seja, substâncias que sobraram deste metabolismo ou “lixo que sobra”) incluem o ácido salicilúrico, o glicuronídeo salicilfenólico, o glicuronídeo salicilacílico, o ácido gentísico e o ácido gentisúrico. A meia-vida do fármaco (ou seja, o tempo que ela leva para se degradar pela metade) oscila entre 2 a 3 horas após doses baixas e cerca de 15 horas com doses altas. Para adultos, recomenda-se 1 ou 2 comprimidos ao dia (100 até 500 mg ou mais dependendo do produto) administrados cm intervalo de 4 a 8 horas. O ácido salicílico e seus metabólitos (“lixo que sobrou”) são excretados principalmente por via renal através da urina. O medicamento deve ser ingerido com líquido e, se possível, após a ingestão de alimentos. Em outras palavras, ele não deve ser ingerido de estomago vazio.


Mas porque diz-se que a aspirina é um antiinflamatório não-esteróide (AINE)? O ácido acetilsalicílico (AAS) pertence ao grupo de fármacos antiinflamatórias não-esteróides (AINE) e para entender isso precisamos, primeiramente, verificar o significado de inflamação. A inflamação é uma resposta normal do organismo (dito resposta fisiológica) frente às lesões de tecidos causadas por diversos agentes, incluindo físicos (trauma e acidentes), químicos (amônia, chumbo, mercúrio, dióxido de carbono, monóxido de carbono, benzeno, tolueno, ácido clorídrico, formaldeído, pesticidas, poluentes, entre outros) ou microbiológicos (leveduras, fungos, vírus e batérias). Nestas situações, o organismo busca inativar ou destruir os possíveis organismos invasores. Quando o processo é bem sucedido, o processo inflamatório é interrompido e o organismo “vence esta batalha”. Em outras situações, o processo inflamatório não cessa facilmente e são necessárias medidas a fim de interromper o processo, como ocorre na reação alérgica (ao pólen, por exemplo) ou doença auto-imune (asma e artrite reumatóide, por exemplo). Nestas situações, então, são necessários fármacos antiinflamatórios (quer dizer, contra a inflamação) para, justamente, interromper o processo exacerbado que poderia levar as lesões teciduais progressivas pela cascata que não se interrompe. Você também poderia usar o fármaco para o alívio sintomático de dores de intensidade leve a moderada, como aquelas relacionadas ao esforço fisico vigoroso (dor muscular e articular). Sendo assim, o termo “inflamação” não seria ruim, mas o fato de não conseguir “desligar” este processo poderia ser considerado ruim.


A literatura apresenta uma grande variedade de substâncias envolvidas na cascata da reação inflamatória, comumente conhecidos como mediadores químicos do processo inflamatório. Entre eles podemos citar a histamina, a 5-hidroxitriptamina, as prostaglandinas, a bradicina e as interleucinas. Os fármacos antiinflamatórias não-esteróides (AINE) representam o grupo de diferentes agentes químicos com propriedades analgésicas (alívio da dor), antipiréticas (anti-febre) e antiinflamatórias (anti-inflamação), o que envolve a inibição irreversível de uma enzima conhecida como ciclooxigenase (COX) e, conseqüentemente, a inibição da síntese (ou seja, da formação) de prostagandinas pelas células envolvidas no processo. Assim, o ácido acetilsalicílico (AAS) inibe o mediador químico da inflamação conhecido como prostagandina, reduzindo a inflamação.


Bem, o que são exatamente prostaglandinas? Como dito anteriormente, prostaglandinas são compostos produzidos na membrana celular e conhecidos como mediadores químicos do processo inflamatório. As prostaglandinas são derivados de lipídeos (gorduras) da membrana celular, particularmente derivados de ácidos graxos insaturados de cadeia longa, ou seja, “gorduras boas” com 20 átomos de carbonos em sua estrutura química. Por este motivo, em bioquímica, muitas vezes usa-se o termo eicosanóide para classificar a prostaglandina. Eicosanóides são, justamente, moléculas drivadas de ácidos graxos com 20 átomos de carbono em sua estrutura química derivados das famílias ômega-3 (n-3) ou ômega-6 (n-6). Todavia, a maioria dos eicosanóides derivam do ácido araquidônico da membrana celular, um tipo de gordura insaturada ômega-6 (n-6) com 20 átomos de carbono e quatro ligações duplas em sua estrutura química. Normalmente usa-se o nome descritivo ácido araquidônico, mas ele também pode aparecer como seu nome sistemático (ácido cis-5,8,11,14-eicosatetraenóico) ou, simplesmente, em abreviatura (C20:4 ∆5,8,11,14). Este ácido araquidônico dá origem a uma série de substâncias pró-inflamatórias, incluindo os prostanóides da série 2, como o tromboxano A2 (TXA2) e as prostaglandinas E2 (PGE2), bem como a prostaciclina (PGI2). Leucotrienos da série 4 (LTB4, LTC4 e LTE4) também são substâncias inflamatórias geradas a partir do ácido araquidônico. A formação destas substâncias inflamatórias é catalisada pela enzima ciclooxigenase (COX) e sua inibição pela aspirina (AAS) não permite a síntese dos mesmos, incluindo as prostagandinas. Não entraramos em detalhes aqui, mas a aspirina (ASS) também inibe a agregação plaquetária, já que inibe a síntese de TXA2 nas plaquetas. A agregação plaquetária seria a formação de pequenos trombos ou coágulos nos vasos e, assim, como os leigos dizem, o AAS “afina o sangue”. Os efeitos analgésicos (alívio da dor) e antipiréticos (anti-febre) tem relação com a menor síntese de prostaglandina E2 (PGE2).


E porque a aspirina seria usada no exercício e no esporte? Esta é uma pergunta interessante e, ao mesmo tempo, digna de polêmica no exercício e no esporte. Vejamos, a aspirina (AAS) atua no alívio sintomático de dores, como as dores de cabeça, as dores musculares, as dores nas articulações e dores nas costas. O AAS é um antiinflamatório não-esteróide (AINE) que promove o alívio da dor, febre e inflamação pela inibição da ciclooxigenase (COX) e, conseqüentemente, inibição da síntese de determinados mediadores químicos da inflamação, como as prostaglandinas. Então, aqueles indivíduos que treinam há vários anos experimentam uma ou mais dores durante sua prática esportiva e o uso de aspirina (AAS) poderia aliviar estes sintomas. Os atletas que buscam o sucesso no esporte treinam diariamente de forma vigorosa, apresentando, sem dúvidas, alguma dor durante este período e uso de aspirina (AAS) poderia ser benéfico. Os atletas com lesões anteriores mantém o treinamento forte com o risco de novas lesões, justamente para não perder seu “lugar ao sol” (para alguns isso pode significar sol, fama e fortuna). Aquele indivíduo que está iniciando um trabalho de condicionamento físico, às vezes, exagera em seu treinamento, experimentando algum tipo de dor e, muitas vezes, recorre ao uso de aspirina (AAS). Minha dúvida, então, seria: Eu devo aliviar a dor ou devo adequar meu treinamento e descanso para evitar lesões ósteo-articulares, musculares e ligamentares? É óbvio que a dor encomoda e, se exacerbada, deve ser interrompida para evitar mais lesões teciduais progressivas. Mas também parece óbvio que há um uso indiscriminado e pouco racional de medicamentos, particularmente AINE, que causam riscos extremos a saúde.


E a combinação de efedrina, cafeína e aspirina (ECA)? A combinação do ECA é utilizada para efeitos termogênicos drásticos a fim de reduzir grandemente a gordura corporal. É uma prática que funciona, mas extremamente perigosa a saúde. A efedrina e cafeína, como foram vistos, aceleram o metabolismo e a temperatura corporal. A efedrina também acelera a mobilização a gordura do tecido adiposo. Já a aspirina é usada no alívio das dores interferindo a síntese de prostaglandinas, bem como busca minimizar o impacto causado pela efedrina e cafeína. Esta combinação com aspirina, segundo alguns atletas, poderia reduzir os efeitos colaterais da efedrina e cafeína. Esta combinação é feita na relação 1:10:15, ou seja, a cada 1 g de efedrina usa-se 10 g de cafeína e 15 g de aspirina. E, por isso, a manipulação mais freqüente é 20 mg/dia de efedrina, 200 mg/dia de cafeína e 300 mg/dia de aspirina. O ciclo geralmente envolve 15 dias de uso (15 on), seguidos de 15 dias de não uso (15 off). Algumas pessoas recorrem ao uso de Franol, um medicamento contendo 118 mg de teofilina por comprimido ou 3 mg/ml (uma metilxantina que atua de forma similar a cafeína) e 15 mg de sulfato de efedrina por comprimido ou 2,40 mg/ml (que produz os efeitos adrenérgicos já discutidos). Outros recorrem ao suplemento importado Diablos ECA Fire da Innovatione Bio Labs que contém 50 mg de Brand Ephedra Extract (extrato de efedrina), 225 de Caffeine Anhydrous (cafeína anidra) e 100 mg de Sida cordifolia. A Sida cordifolia L. é uma espécie arbórea, pertencente à família Malvaceae, conhecida vulgarmente como malva-branca, guanxuma-branco ou guanxuma. Ela é nativa da Índia, mas também encontrada em climas tropicais e subtropicais do Brasil. O chá de Malva é usado no tratamento da tosse, irritação da garganta e como expectorante, sendo um tratamento auxiliar nas afecções respiratórias, asma e bronquite. Todavia, a Sida cordifolia L. também possui ação analgésica, antiinflamatória e psicoestimulante do sistema nervoso central (SNC). Análises químicas revelam que a planta possui efedrina e pseudo-efedrina, o que justificaria seu possível efeito termogênico e psicoestimulante. Porém, como já foi dito nesta postagem, trata-se de uma verdadeira “bomba” ao organismo e os riscos de saúde podem ser dramáticos e fatais.


Há contra-indicações para o uso de aspirina e outros antiinflamatórios? Que risco a saúde um indivíduo pode apresentar? Em primeiro lugar, os antiinflamatórios são medicamentos e, como tal, devem ser prescritos e acompanhados por médicos. Em segundo lugar, os antiinflamatórios mais comuns incluem a aspirina (AAS), o diclofenaco, o piroxican, o ibuprofeno, o naproxeno, o cetoprofeno e o indometacina. O paracetamol possui fraca atividade antiinflamatória, embora seja um bom analgésica e antipirético. E, em terceiro lugar, eles podem, sim, causar danos a saúde. Entre os sinais e sintomas relacionados aos riscos de saúde destaca-se: gastrites, úlceras, azia, náuseas, vômitos, fraqueza, sensação de zumbido e perda da audição, dores de cabeça, vertigens, confusão mental, cólicas abdominais, insônia, alergias, sangramentos gastrointestinal e pulmonares, inibição do ciclo menstrual, hiperventilação, toxicidade renal e hepática (podendo evoluir para insuficiência renal e hepatite), aumento da pressão arterial (causando alterações cardiovasculares) e inibição da coagulação sangüínea com aumento do sangramento durante e após intervenções cirúrgicas. Outros sintomas incluem inquietação, delírios, alucinações, convulsões e acidose metabólica. A intoxicação em crianças, adultos e idosos devido à superdose terapêutica ou envenenamento acidental pode levar a insuficiência respiratória, come e óbito. Além disso, o ácido salicílico aparece no leite materno e atravessa a placenta, o que requer cuidados durante a gravidez a lactação. Cabe destacar que cerca de 15% dos pacientes apresentam algum tipo de intolerância à aspirina (AAS).


Por fim, pessoas alérgicas ao AAS ou salicilatos ou qualquer outro ingrediente do medicamento não devem fazer uso do medicamento. Se você não sabe se é alérgico, deve ficar atento aos sinais e sintomas de vômitos, náusea, diarréia, dor de cabeça, sangramento, úlceras gástricas ou intestinais e crise asmática ou similar. Deve estar atendo, também, a combinação de aspirina com outras medicações e bebidas alcoólicas. O uso prolongado sem orientação médica pode alterar a função hepática e renal, bem como sistema nervoso central (SNC). O recado mais importante, para finalizar, é NUNCA se auto-medique.