quinta-feira, 7 de julho de 2011

CENÁRIO MUNDIAL: UMA VISÃO CRÍTICA DA RELAÇÃO SAÚDE-DOENÇA E O FUTURO DA NUTRIÇÃO ESPORTIVA









Estudos revelam um crescimento rápido das doenças crônico-degenerativas (diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer e obesidade) em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, e em desenvolvimento, como o Brasil. Este fato tem sido correlacionado com uma elevada mortalidade em todo o mundo. A World Health Organization (Organização Mundial de Saúde) e a Organização Pan-Americana da Saúde relataram que 58 milhões de pessoas morreram em 2005 e que 60% destes óbitos (ou seja, 35 milhões de pessoas) devem-se as doenças crônico-degenerativas. Além disso, cerca de 80% das mortes por doenças crônicas ocorreram em países de baixa e média renda. Isso realmente é preocupante ou, melhor, assustador. Frente a esta problemática situação, resolvi escrever este pequeno artigo sobre a relação saúde-doença, porém com enfoque no futuro da nutrição esportiva. Minha intenção aqui é simples: fazer o leitor Parar, Refletir e Agir.

DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS


A doença crônico-degenerativa não-transmissível (DCDNT) é a terminologia usada para caracterizar patologias (doenças) que não envolvem a participação de microorganismos (um assunto questionável atualmente, principalmente em relação à participação de alguns vírus), que não apresentam transmissibilidade, que possuem um longo curso clínico e que apresentam danos celulares irreversíveis. Entre algumas DCDNT podemos citar o diabetes mellitus não insulino-dependente ou diabetes do tipo 2 (DM2), a hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares (particularmente o infarto agudo do miocárdio, IAM), as doenças cerebrovasculares (particularmente o acidente vascular cerebral, AVC, também conhecido como derrame), o câncer (câncer de esôfago, cólon, mama e pulmão, por exemplo) e a obesidade.


Em todas estas patologias a ignorância e o descaso com a saúde faz o homem, digamos assim. Em outras palavras, a longa história de descaso com a saúde e a ignorância sobre os fatores de risco que ameaçam a saúde concorrem para a prevalência das DCDNT, que já levaram ao óbito 35 milhões de pessoas em 2005. Diabetes tipo 2 (DM2), hipertensão, doença cardiovascular e cerebrovascular, câncer e obesidade possuem uma trajetória longa e sua ocorrência pode ser prevista através de exames e investigações clínicas periódicas de saúde. Este nível epidêmico de doenças, contudo, está intimamente relacionado com a falta de atividade física e com a alimentação inadequada. Ao contrário, o exercício físico regular e a nutrição têm importância crucial na promoção, manutenção e recuperação da saúde.

FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS


Independente da região ou nível sócio-econômico e cultural da população, os fatores de risco para DCDNT devem ser divulgados pelos meios de comunicação de massa ou mídia (jornal, rádio, televisão, cinema, teatro, outdoor e internet). Entretanto, muitas vezes observamos o empobrecimento da mensagem, onde a vida particular de determinado cidadão, os escândalos sociais e as propagandas apelativas acabam chamando mais atenção do público do que notícias de saúde e bem-estar.


É importante perceber que a determinação dos fatores de risco para DCDNT permite identificar uma variável que se acredita estar relacionado à probabilidade de um indivíduo desenvolver uma doença, anterior ao ponto de irreversibilidade. Desta forma, podemos estabelecer a suscetibilidade individual para determinadas doenças e incentivar mudanças no estilo e nos hábitos de vida dos indivíduos e, neste ponto, é onde se insere o profissional de saúde. Os fatores de risco são inúmeros e, desta forma, nos limitaremos a destacar e comentar apenas alguns destes:

Sedentarismo

O sedentarismo é um fator de risco modificável e intimamente relacionado com a probabilidade de um indivíduo desenvolver uma doença. O sedentário tem 40% mais probabilidade de sofrer um infarto. Além disso, a inatividade física contribui para o aumento do peso e, sendo assim, o obeso é 2 vezes mais propenso a ter uma doença cardiovascular. Estudos mostram que durante o exercício moderado e intenso as fibras musculares tornam-se permeáveis a glicose independente do hormônio insulina, tornando-se uma ótima estratégia para reduzir a hiperglicemia do paciente diabético. O exercício físico também aumenta o colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-C, dito “bom colesterol”), minimizando o risco para doenças cardiovasculares. Por fim, o exercício físico também reduz os triglicerídeos séricos e a pressão arterial.

Alimentação Inadequada

A má nutrição é um fator de risco modificável, onde a seleção de alimentos “pobres” é um importante fator de risco para a evolução de uma doença crônico-degenerativa. Dietas ricas em gordura saturada e colesterol aumentam as chances de uma doença crônica. A hipercolesterolemia (elevado colesterol total sérico), por exemplo, triplica o risco para doença arterial coronariana (DAC). A ingestão excessiva de sódio (dietas hiperssódicas) é um mal para os hipertensos. A reduzida ingestão de fibras não permite retardar a absorção rápida da glicose e também se perdem os fatores de proteção da mucosa intestinal e manutenção do fluxo intestinal adequado. A ingestão reduzida de frutas, verduras e legumes concorrem para a ingestão reduzida de vitaminas e minerais, incluindo importantes antioxidantes (beta-caroteno, vitamina C, vitamina E, selênio, entre outros). As dietas hipercalóricas e hiperglicídicas, principalmente ricas em sacarose, contribuem para o aumento de peso em adiposidade na grande maioria da população. Já entre os esportistas e atletas, as dietas hiperprotéicas também podem contribuir para o aumento de peso em adiposidade e sobrecarga de tecidos, isso quando o treinamento não acompanha o maior aporte dietético.

Idade Avançada

A idade avançada também pode ser considerada um fator de risco para doenças, embora que não-modificável, pois quer você goste ou não, ninguém escapa do processo fisiológico de envelhecimento. O fato é que a expectativa da população aumentou e, com isso, a proporção de idosos na população. Isso pode determinar uma maior suscetibilidade para doenças, principalmente aquelas envolvendo o aparelho cardiocirculatório.

Fatores Genéticos

Pessoas com avós, pais ou irmãos que já sofreram um infarto tem 3 vezes mais probabilidade de serem vítimas de um ataque cardíaco. Sendo assim, aqui encontramos outro fator de risco não-modificável: história familiar em função de fatores genéticos.

Hipertensão Arterial

A hipertensão arterial é um fator de risco modificável, uma vez que trata-se de uma doença silenciosa que requer, inegavelmente, tratamento medicamentoso, se necessário. Cerca de 60% dos óbitos por acidente vascular cerebral (AVC ou derrame) e 40% dos óbitos por infarto agudo do miocárdio (IAM) estão associados à hipertensão. Entre os hipertensos os riscos de DAC triplicam.

Diabetes e Hiperglicemia

A presença de diabetes ou hiperglicemia também pode ser considerada um fator de risco modificável, pois o diagnóstico e o tratamento adequado estão presentes, basta procurar auxílio e controlar as demais variáveis. Entre os homens, o diabetes dobra o risco para DAC, enquanto que em mulheres quintuplica o risco.

Tabagismo

O tabagismo é um fator de risco modificável, embora o fumante passivo seja um fator de risco controverso. Quem fuma 20 cigarros por dia corre 3 vezes mais risco de sofrer um infarto que um não-fumante. Pesquisas atuais também sugerem um grande risco também para o fumante passivo e, sendo assim, seria muitíssimo interessante o fumante soltar sua “fumaça” para o outro lado, digamos assim.

Estresse

O estresse também pode ser considerado um fator de risco, embora que controverso. Todavia, a atividade física regular serve como uma estratégia eficaz de distração a fim de reduzir o estresse da vida cotidiana. Além disso, o exercício aumenta os níveis de endorfinas produzidas pelo cérebro, o que reduziria a dor, provocaria a sensação de euforia e bem-estar, bem como relaxamento e prazer.

Obviamente existem outros fatores de risco para doenças crônico-degenerativas e, em particular, a doença cardiovascular. Você deve observar, contudo, que estes fatores podem ser agrupados em fatores de risco não-modificáveis (como a idade avançada, o sexo, a raça e a história familiar de doenças), fatores de risco modificáveis (como a hipertensão, a dislipidemia, o diabetes, a hiperglicemia, a obesidade, a má-nutrição e o tabagismo) e fatores de risco controversos (como a hiperhomocisteinemia, a deficiência estrogênica pós-menopausa em mulheres, o fumante passivo, o estresse e as condições sócio-econômicas e culturais).

EXTREMA PREOCUPAÇÃO COM A IMAGEM CORPORAL

Saúde ou Estética? O que as pessoas buscam? Frente a discussão anterior, a resposta deveria ser saúde. Entretanto, tenho visto que na grande maioria dos casos, dos 8 aos 80 anos, a respostam parece ser estética ou excelência física. O fato é que as pessoas estão inseguras quanto a sua imagem corporal e tem gente faturando alto com esta insegurança. Bombardeados constantemente pela mídia dos “corpos perfeitos” e estratégias “antienvelhecimento” e “longevidade”, esportistas (iniciantes, intermediários e avançados) e atletas segue por caminhos tortuosos com conseqüências devastadoras, incluindo a busca por recursos ergogênicos (suplementos nutricionais e farmacológicos) sem a orientação profissional adequada. O forte apelo pelo “corpo perfeito” também tem levado inúmeras pessoas a seguirem as chamadas "dietas da moda", que tratam-se de dietas mirabolantes e, muitas vezes, desequilibradas em seus componentes nutricionais. O resultado, na grande maioria dos casos, é a inadequação do peso e prejuízos de saúde, incluindo decréscimo do sistema imunológico, a tendência a injúria tecidual e, conseqüentemente, o afastamento da atividade física. Uma vez que os objetivos previamente estabelecidos não são alcançados, surge a tríade ansiedade, frustração e depressão.


É importante observar que entre os atletas o esporte adquiriu grandes dimensões com repercussões políticas e econômicas para um país, como observado durante as Olimpíadas. Neste sentido, nas competições esportivas as diferenças entre a fama e a fortuna, entre o campeão e o vice-campeão, são medidas por milésimos de segundo. Não é surpreendente, portanto, a busca por fatores que possam otimizar o desempenho atlético. Para muitos atletas, o treinamento não é suficientemente rápido e eficaz para alcançar suas ambições e a utilização de recursos ergogênicos torna-se um aliado nem sempre bem vindo. Todavia, não atletas também recorrem à utilização de recursos ergogênicos sem orientação adequada, movidos pela extrema preocupação com a imagem corporal.


A hipertrofia muscular, por exemplo, é um dos componentes de aptidão física constantemente visualizada pela população que freqüenta as academias de ginástica e musculação. Estes mesmo indivíduos muitas vezes acreditam cegamente na idéia que um determinado suplemento esportivo possa alterar sua composição corporal rapidamente. Todavia, o aumento da massa corporal magra (MCM) não depende apenas de um bom suplemento esportivo, mas, sim, trata-se de um conjunto de fatores, incluindo o treinamento de sobrecarga, a alimentação equilibrada, o descanso apropriado, além de fatores psicológicos e potencial genético. Mesmo assim, alguns suplementos importados viraram moda nas academias de ginástica e musculação no Brasil, por exemplo, NO-Shotgun VPX, Jack3d USPLabs, Yok3d USPLabs, Cellucor D4 Extreme, Red Line VPX ou Lipo-6X da Nutrex. Seus nomes comerciais chamam a atenção do consumidor e as propagandas associadas a tais produtos chamam ainda mais atenção dos curiosos. Por outro lado, as substâncias contidas nestes suplementos (incluindo evodiamina, N-acetil-L-tirosina, guggulsterona, 5-hidroxi-L-triptofano, adenosina monofosfato cíclico, vinpocetina, yohimbina, sinefrina, citrus aurantium, octopamina e 1,3-dimetilamilamina) passam despercebidas pela grande maioria da população leiga. Alguns profissionais de saúde não indicam sua utilização, pois não há dados suficientes na literatura científica que apóiem sua eficácia sem efeitos colaterais futuros. Outros profissionais não indicam sua utilização, relatando que a suplementação de tais produtos está embasada em uma literatura controversa. E outros profissionais simplesmente não indicam sua utilização por simples falta de conhecimento sobre o assunto.


O fato é: os jovens e adultos estão inseguros quanto à imagem corporal e essa extrema preocupação tem conduzido a procura por suplementos esportivos e, na grande maioria dos casos, sem orientação profissional adequada. O idoso, buscando uma longevidade ou promessa anti-envelhecimento, também vem aderindo aos suplementos esportivos. O atleta, movido por repercussões políticas e econômicas, movido por fama e fortuna, movido por um título de campeão, busca nos suplementos esportivos uma estratégia para otimizar seu desempenho atlético. Por fim, as indústrias de suplementos esportivos, juntamente com a Mídia do “corpo perfeito”, têm alimentado esta insegurança corporal e faturado verdadeiros bilhões de dólares em um processo altamente lucrativo. Cabe a nós, profissionais de saúde, orientar corretamente nossos pacientes ou clientes com base nos achados científicos fornecidos pela literatura científica. Cabe a nós, profissionais de saúde, perceber que o suplemento esportivo é um aliado bem vindo na alteração da composição corporal e saúde, desde que saibamos o mecanismo de ação deste suplemento e sua segurança nutricional. Cabe a população, por fim, recorrer ao auxílio nutricional e prescrição dietética de um profissional de nutrição qualificado, bem como auxilio de outros profissionais de saúde (educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, etc.) para otimizar o desempenho atlético e saúde.

MUDANÇA DO HÁBITO E ESTILO DE VIDA

A alimentação é peça fundamental para garantir a saúde geral, maximizar o desempenho atlético e alterar positivamente a composição corporal. Na área de conhecimento em Nutrição Esportiva, destacamos que a nutrição pode maximizar o desempenho atlético, otimizando os depósitos energéticos corporais e garantindo o combustível necessário para o esforço físico. Além disso, a ingestão adequada de nutrientes reduz a fadiga e a possibilidade de injúrias, bem como reduz as enfermidades e garante a saúde geral do esportista e atleta. Desta forma, a mudança dos hábitos e estilo de vida torna-se de primordial importância. O recurso ergogênico (comumente chamado de suplemento esportivo) pode se tornar um aliado eficaz na alteração da composição corporal, desempenho atlético e saúde. Para todas estas variáveis, a supervisão de um profissional nutricionista qualificado é essencial.

O FUTURO DA NUTRIÇÃO ESPORTIVA


Saúde ou Estética? O que as pessoas buscam? Lembram desta pergunta? Pois bem, e porque não buscamos ambos os fatores? Verdadeiramente as pessoas buscam estética corporal, mas devemos aliar esta busca incessante com a promoção da saúde. É justamente por isso que todas as variáveis (treinamento, alimentação, suplementação, descanso, fatores psicológicos e potencial genético) devem ser consideradas. É preciso, por exemplo, entender as necessidades dos praticantes de atividades físicas e trabalhar com um sistema de plano alimentar personalizado, pois não existe “receita de bolso” em nossa profissão. Eu costumo trabalhar com um Sistema de Qualidade e Sucesso (SQS) chamado Dietetic Reeducation Program for Health and Sports Performance (Programa de Reeducação Alimentar para Saúde e Desempenho Atlético), que desenvolvi após anos pesquisando uma estratégia para atingir estes indivíduos submetidos ao treinamento. O SQS prevê uma Avaliação Nutricional Global (ANG) e uma Evolução Nutricional Personalizada (ENP), visando alcançar em curto e médio prazo os objetivos previamente estabelecidos em relação à modelagem corporal e bem-estar físico e mental. Em longo prazo, visa à redução das doenças crônico-degenerativas na vida adulta e na terceira idade através promoção da saúde e da qualidade de vida. A ANG é essencialmente a entrevista, onde buscamos a avaliação do estado nutricional global do indivíduo, onde investiga-se o cadastro, a história clínica, o histórico do treinamento e dieta habitual, bem como a realização da avaliação antropométrica (avaliação física). A ENP, contudo, não é uma simples a entrega de dieta ou plano alimentar, pois trata-se da entrega de uma dieta personalizada, ou seja, que atenda as necessidade energéticas e nutricionais específicas do indivíduo frente a sua prática esportiva. A ENP também leva em consideração a discussão do diagnóstico nutricional e a entrega do manual de reeducação alimentar, lista de substituições de alimentos e acompanhamento semanal para maior controle de cada cliente. Este acompanhamento é um compromisso do cliente frente ao profissional nutricionista, onde o sucesso da dieta depende, verdadeiramente, do profissional (50%) e do cliente focado em seus objetivos (outros 50%).


Mas então, qual o futuro da Nutrição Esportiva? A nutrição no exercício e no esporte é uma ciência que está se desenvolvendo em altíssima velocidade e aplica conhecimentos de nutrição, fisiologia e bioquímica no esporte e atividade física. É uma área de conhecimento intimamente relacionada ao curso de Educação Física e Nutrição, onde uma não vive sem a outra. O mais surpreendente disso é que a Nutrição Esportiva está “abraçando” as demais áreas de conhecimento. Por exemplo, não basta tratar o doente, é preciso manter sua saúde através da dieta e exercício contínuo. Observe que o conceito mais completo de saúde não é apenas a ausência de doença, mas, sim, o bem-estar físico, mental e social. Este equilíbrio orgânico é conseguido com a prática esportiva e alimentação adequada. É fácil observar atualmente médicos e pacientes caminhando nas praças da cidade e se preocupando com a alimentação diária. Claro, algumas pessoas preferem as academias de ginástica e musculação; outros ficam centrados nas animadas aulas com músicas e gritarias; e outros preferem as caminhadas isoladas ouvindo música em seu fone de ouvido. Mas um fato é comum para todos: as pessoas estão se exercitando! A Nutrição Esportiva é uma profissão promissora, pois ela atende a demanda do mercado, onde cada vez mais as pessoas estão preocupadas com a saúde, qualidade de vida e excelência estética. O sucesso no treinamento e no esporte está intimamente ligado a alimentação equilibrada. A longevidade do indivíduo também parece estar ligada a alimentação, onde os estudos da nutrigenômica ganham força. Talvez, em um futuro próximo, o indivíduo sedentário seja uma "raça extinta", digna de um lindo quadro colocado no centro da sala de estar.