EXCESSO
PROTEICO CAUSA LESÃO HEPÁTICA E RENAL EM INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS?
O
questionamento acima é bem pertinente, pois este assunto ainda gera polêmica e
discussão na mídia, no meio acadêmico e entre os profissionais de saúde. Os
defensores deste aspecto maléfico relacionado ao excesso de proteína ofertada
pela dieta argumentam que sim, faz mal para o fígado e rins.
O
argumento utilizado tem a seguinte fundamentação: um excesso proteico não pode
ser utilizado pelo corpo para promover a síntese proteica muscular e, dessa
forma, ocorre sobrecarga de função do ciclo da uréia (que ocorre no fígado) a
fim de converter amônia (oriundo catabolismo proteico e considerado tóxico) em
uréia (atóxico). Em seguida, a uréia é encaminhada aos rins, onde ocorre
sobrecarga na filtração glomerular e nos túbulos contorcidos renais na
tentativa de eliminar uréia na urina, devido excesso de ingestão proteica.
Nessa
linha de pensamento, a sobrecarga de função conduziria a falência hepática e,
consequentemente, falência renal. Além disso, se a conversão de uréia a partir
de amônia não for bem sucedida no fígado, ocorre hiperamonemia (excesso de
amônia no sangue), que pode afetar de maneira igualmente maléfica todo o
organismo. Quer dizer, argumenta-se que ocorreria inibição do ciclo dos ácidos
tricarboxílicos (ciclo de Krebs), especialmente no sistema nervoso central
(SNC), pelo excesso de amônia, comprovando, dessa forma, como seria ruim para o
cérebro, o fígado e os rins esse excesso proteico advindo da dieta.
BUENAS,
eu diria... Um dos objetivos que tenho como professor universitário e de
pós-graduação é evitar respostas simplistas do tipo “CERTO” e “ERRADO” ou “SIM”
e “NÃO”. Prefiro mostram os dois lados de uma mesma moeda, assim o aluno pode
refletir e tirar suas próprias conclusões.
Em
outras palavras, a sabedoria convencional ou arcaica, enraizada nos primórdios
da nutrição, apresentam os argumentos acima, que tem suas verdades. Ao mesmo
tempo, pode gerar falácias lógicas, ou seja, um raciocínio errado ou perturbado
com aparência de verdadeiro. Se você mantiver sua mente aberta, então poderá observar
que existem discordâncias baseadas em evidências científicas que, por sua vez,
não nos foram apresentadas (infelizmente e curiosamente) durante a graduação
nos curso de saúde. Neste sentido, deixa-me apresentar o outro lado da moeda.
Boa leitura!
UM EXCESSO PROTEICO NÃO PODE SER UTILIZADO
PELO CORPO PARA PROMOVER A SÍNTESE PROTEICA MUSCULAR?
Sem
dúvidas, esse pensamento tem coerência. Vejamos alguns estudos.
ESTUDO 1:
Stuart
M. Phillips. Protein Consumption and Resistance Exercise: Maximizing Anabolic
Potential. Sports Science Exchange
26(107): 1-5, 2013.
Neste
estudo, ocorre um platô na síntese proteica muscular (MPS) com a ingestão
proteica superior a 20 ou 25 g (cerca de 8,5 g de aminoácidos essenciais). Ou
seja, o excesso de aminoácidos, particularmente a leucina avaliada no estudo,
foi utilizado para a geração de energia (ATP, adenosina trifosfato). Quer
dizer, os autores concluíram que a ingestão extra de aminoácidos não tornou o
indivíduo “mais musculoso”, mas, sim, que todo excesso de aminoácidos advindos
de proteínas dietéticas são utilizados como combustíveis celulares.
ESTUDO 2:
Nicholas
A. Burd; Stefan H. Gorissen; Luc J.C. van Loon. Anabolic Resistance of Muscle
Protein Synthesis With Aging. Exerc Sport
Sci Rev 41(3):169-173, 2013.
Idosos
(igual ou maior que 60 anos de idade) podem apresentar certa dificuldade quanto
ao ganho de massa muscular associado ao treinamento, mas a relação síntese e
quebra proteica ainda existe, onde a ingestão de 20 g de proteína tende a
favorecer a síntese proteica muscular (MPS), enquanto que o excesso proteico é
utilizado para geração de energia. Novamente, um excesso proteico torna-se
desnecessário quando se pensa em aumento da massa muscular.
ESTUDO 3:
Moore
D.R. Ingested Protein Dose Response of Muscle and Albumin Protein Synthesis
after Resistance Exercise in Young Men. Am
J Clin Nutr 89(1): 161-168, 2009.
Já
neste trabalho, a síntese proteica muscular (MPS) é maior com 20 g proteína
(neste caso, foi utilizado albumina) do que 10 g. Todavia, não há diferença em
MPS a partir de 20 g de proteína ofertada. Até mesmo com 40 g de proteína no
pós-treino observa-se um platô na MPS neste estudo randomizado com 6 homens
jovens (22 anos de idade) e treinados. Ao mesmo tempo, observou-se a oxidação
(queima) da leucina com 40 g de proteína, ou seja, o excesso de aminoácidos
ofertados é usado como fonte energética e não exatamente contribuem para o
aumento da massa magra.
ESTUDO 4:
Yang
Y. et al. Resistance Exercise Enhances Myofibrillar Protein Synthesis with
Graded Intakes of Whey Protein in Older Men. Br J Nutr 108(10): 1780-1788, 2012.
Este
é outro estudo mostrando que um excesso proteico é desnecessário quando falamos
em hipertrofia muscular. Todavia, aqui a amostra é composta por idosos (71
anos), ativos, que receberam doses de Whey Protein de 10 g, 20 g e 40 g. Neste
caso, doses maiores de proteína (40 g de Whey Protein) causam maior síntese
proteica muscular (MPS) do que doses menores (10 g ou 20 g). Porém, o risco de
oxidação dos aminoácidos em doses maiores também aumenta.
ESTUDO 5:
Witard
O.C. et al. Myofibrillar Muscle Protein Synthesis Rates Subsequent to a Meal in
Response to increasing doses of Whey Protein at Rest and after Resistance
Exercise. Am J Clin Nutr 99(1):
86-95, 2014.
Neste
estudo com 48 voluntários jovens (21 anos de idade), submetidos ao treinamento,
a síntese proteica muscular (MPS) é superior com 20 e 40 g de proteína (Whey
Protein) do que 10 g. Todavia, a oxidação do aminoácido fenilalanina (Phe) e
produção de uréia são maiores com 40 g do que com 20 ou 30 g de proteína.
Então, isso comprova que um excesso de proteína dietética causa lesão, falência
ou insuficiência hepática e renal? Pense meu amigo e minha amiga, foi isso que
você leu os estudos? Creio que não. Sendo assim, não tire conclusões
precipitadas. Os estudos mostram claramente que um excesso proteico (acima de
25 ou 30 g por refeição) não é necessário quando pensamos em hipertrofia
muscular, simples assim.
UM EXCESSO PROTEICO CAUSA SOBRECARGA DE
FUNÇÃO DO CICLO DA URÉIA (QUE OCORRE NO FÍGADO) E EXCREÇÃO URINÁRIA AUMENTADA
DE URÉIA?
Sem
dúvidas, esse pensamento também tem coerência. Vejamos um pouquinho de
bioquímica básica através da leitura abaixo sugerida.
LIVRO 1:
Devlin,
Thomas M. Manual de Bioquímica com
Correlações Clínicas. 2.ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2007.
LIVRO 2:
Voet,
Donald; Voet, Judith G.; Pratt, Charlotte W. Fundamentos de Bioquímica. 2.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
LIVRO 3:
Champe,
Pamela C.; Harvey, Richard A. Bioquímica
ilustrada. Porto Alegre: ArtMed, 2006.
LIVRO 4:
Marks,
Dawn B.; Marks, Allan D.; Smith, Colleen M. Bioquímica
Médica Básica: uma abordagem clínica. Porto Alegre: ArtMed, 2007.
LIVRO 5:
Riegel,
Romeo Ernesto. Bioquímica. 5.ed.
Editora Unisinos, 2012.
Uma
proteína é formada por diferentes aminoácidos. Os aminoácidos possuem uma
cadeia carbônica (carbonos) e um grupamento amino ou amino-grupo (nitrogênio).
Portanto, a “quebra” ou catabolismo proteico libera carbonos e amino-grupo. Os
carbonos podem ser direcionados a formação de energia (ATP, adenosina
trifosfato) ou gliconeogênese (nova formação de glicose a partir de compostos
não glicídicos). Já o amino-grupo forma amônia (NH3) que é encaminhada ao ciclo
da uréia (no fígado). Em uma grande parte da literatura básica, NH3 é
considerado tóxico, enquanto que uréia é atóxica ao organismo (aqui não vou
entrar no mérito, que geraria outra postagem, mas porque a proteína seria
tóxica ao ser humano se são consumidos desde a história da humanidade?).
Resumidamente (e evitando discussões bioquímicas que possam tornar o texto de
difícil compreensão), a uréia é produzida pela entrada de nitrogênio neste
ciclo localizado no fígado, onde forma-se verdadeiramente pela clivagem
(quebra) do aminoácido arginina (que faz parte do ciclo da uréia) pela enzima
arginase. Em outras palavras, deve haver um bom suprimento de nitrogênio para formar
uréia. Cabe destacar que a arginase é estimulada por dieta hiperproteica.
Verdadeiramente o ciclo da uréia trabalharia em demasia para “varrer” o
nitrogênio oriundo do excesso proteico obtido da dieta ou suplementação. Em
outras palavras, o ciclo da uréia é verdadeiramente uma via de detoxificação ou
detox. Além disso, a hiperamonemia (excesso de amônia no sangue) poderia inibir
o ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ciclo de Krebs), especialmente no sistema
nervoso central (SNC), que seria ruim para a geração de energia (ATP, adenosina
trifosfato). Na realidade, ocorreria uma combinação de alpha-cetoglutarato do
ciclo de Krebs com amônia para formar glutamato em uma reação catalisada pela
glutamato-desidrogenase (GDH), o que implicaria em “roubo” e redução no ritmo
deste ciclo e sua geração de ATP.
UM EXCESSO PROTEICO CAUSA LESÃO OU FALÊNCIA
NO CÉREBRO, FÍGADO E RINS EM INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS?
Sem
dúvidas, esse pensamento trata-se de uma falácia bastante lógica, ou seja, um
raciocínio errado ou perturbado com aparência de uma verdade convincente.
Vejamos alguns estudos.
ESTUDO 6:
Zhaoping
Li et al. Protein-enriched meal replacements do not adversely affect liver,
kidney or bone density: an outpatient randomized controlled trial. Nutr. J. 9:72, 1-6, 2010.
Este
estudo controlado-randomizado com 100 homens e mulheres (maiores de 30 anos)
com índice de massa corporal de sobrepeso e obesidade (IMC: 27 até 40 kg/m2)
dividiu a população de estudo em dois grupos: Grupo 1, consumindo 2,2 gramas
por quilogramas de peso ao dia (2,2 g/kg/dia) em proteína; e Grupo 2,
consumindo 1,1 g/kg/dia em proteína. Cabe lembrar que a recomendação proteica
clássica, preconizado pela RDA (Recommended
Dietary Allowances, que estabelece o consumo alimentar de cada nutriente
necessário para suprir as necessidades da população saudável), é de apenas 0,8
g/kg/dia de proteína, onde sugerem jamais ultrapassar 2,0 g/kg/dia. Enfim, este
estudo de 2010 forneceu um shake proteico aos grupos, que foi ingerido 2 vezes
ao dia por um período de 3 meses. Em seguida, ofertou-se 1 vez ao dia por
período de 9 meses. Quer dizer, estamos falando de 12 meses com ingestão de
shake proteico (tipo nosso famoso Whey Protein). O estudo destacou que há uma
preocupação constante da população e estudiosos sobre os substitutos de
refeições enriquecidos com proteína (shakes proteicos) a fim de obter
emagrecimento e, ao mesmo tempo, que um excesso proteico poderia acarretar
lesões hepáticas, renais ou, até mesmo, redução da massa óssea. Pois bem, o
estudo concluiu: (1) Ambos os grupos (1,1 versus 2,2 g/kg/dia de proteína)
perderam peso (4 até 6 kg); (2) Nenhum grupo teve alteração na função hepática
(verificado por exames laboratoriais, incluindo TGO/TGP, bilirrubinas e
fosfatase alcalina); (3) Nenhum grupo teve alteração na função renal
(creatinina sérica, uréia e 24 horas de depuração da creatinina urinária); e
(4) Nenhum grupo sofreu alteração na densidade mineral óssea (DMO) avaliado por
DEXA. O estudo de 2010, controlado-randomizado, com 100 homens e mulheres,
conclui que as refeições enriquecidas com proteína, substitutas de refeições em
programas de emagrecimento, não causam efeitos adversos à saúde.
ESTUDO 7:
Brinkworth
G.D et al. Renal function following long-term weight loss in individuals with
abdominal obesity on a very-low-carbohydrate diet vs high-carbohydrate diet. J Am Diet Assoc. 110(4): 633-638, 2010.
Existe
uma grande preocupação entre os profissionais de saúde de que reduzir o
carboidrato em favor da proteína aumente o risco para doença renal. Neste
sentido, o presente estudo selecionou 68 homens e mulheres com obesidade
abdominal (idade média de 51 anos e IMC médio de 33,6 km/m2), sem disfunção
renal prévia, que foram randomizados em dois grupos: Grupo 1: dieta hipocalórica
pobre em carboidrato e alto em proteína (4% de carboidrato; 35% de proteína; e
61% de lipídeo); e Grupo 2: dieta hipocalórica rica em carboidrato (46% de
carboidrato; 24% de proteína; 30% de lipídeo). As dietas oscilavam entre
1433,00 até 1672,00 kcal/dia e o estudo teve duração de 1 ano, ou seja, abril
de 2006 até julho de 2007 (Percebeu? Estamos falando de um estudo de 12 meses).
Os resultados mostram que a perda de peso foi similar em ambos os grupos (cerca
de 13 kg), mas curiosamente nenhum marcador biquímico de lesão renal esteve
presente. Ou seja, os indivíduos submetidos à dieta hiperproteica (35% do valor
energético total ou 124 g/dia) e pobre em carboidratos (4% ou 14 g/dia) com
função renal prévia normal não apresentaram alterações em creatinina urinária,
taxa de filtração glomerular e albuminúria. Os autores concluíram: o estudo
fornece evidências científicas de que a perda de peso em longo prazo com uma
dieta muito pobre em carboidrato (consequentemente elevada e proteína) não
causa dano renal.
ESTUDO 8:
Pasiakos
S.M. t al. Effects of high-protein diets on fat-free mass and muscle protein
synthesis following weight loss: a randomized controlled trial. FASEB J. 27(9):3837-47, 2013.
Este
estudo controlado-randomizado de 2013 selecionou uma amostra de 39 adultos (32
homens e 7 mulheres) com IMC de sobrepeso (22 e 29 kg/m2). Os indivíduos foram
submetidos à atividade física de intensidade moderada diariamente. A dieta
proposta tinha um déficit de 30% sobre a dieta habitual com intuito de promover
o emagrecimento. Três grupos aleatórios de oferta proteica (por 31 dias) foram
divididos: Grupo 1: 0,8 g/kg/dia (RDA); Grupo 2: 1,6 g/kg/dia (2x RDA); e Grupo
3: 2,4 g/kg/dia (3x RDA). As conclusões foram interessantes: o alto consumo de
proteínas, superior aos da RDA, protegeu a massa corporal magra (MCM) durante o
processo de emagrecimento em indivíduos submetidos às dietas de restrição
calórica e exercício físico. Quer dizer, aumentar o aporte proteico durante a
dieta de emagrecimento evitou a perda de massa muscular concomitante, que seria
uma preocupação constante dos indivíduos submetidos ao treinamento. O estudo
ainda concluiu que a perda de peso médio foi 3,2 kg após 31 dias, independente
da dieta ofertada. Mas, novamente, a perda de MCM foi menor e a redução da
gordura corporal foi maior no grupo ofertado com 1,6 e 2,4 g/kg/dia versus 0,8
g/kg/dia de proteína.
ESTUDO 9:
William
F Martin; Lawrence E Armstrong; Nancy R Rodrigues. Dietary protein intake and
renal function. Nutrition &
Metabolism 2:25, 2005.
Segundo
o estudo, a obesidade é um fator de risco para doença renal e, ao mesmo tempo,
o aumento do consumo proteico é uma estratégia para a perda de peso. Todavia, o
aumento do consumo proteico tem sido associado com a diminuição da pressão arterial,
lembrando que a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é fator de risco para
doença renal. A filtração glomerular renal aumenta com o consumo de proteínas,
mas não há associação entre queda progressiva da função renal e o aumento da
ingestão proteica em pacientes com função renal normal. Quer dizer, a filtração
glomerular e o tamanho dos rins aumentam com o consumo proteico elevado, porém
trata-se de um processo compensatório e adaptativo.
CAPICHE?
A obesidade é um fator de risco para doenças, incluindo complicações hepáticas
e renais. O paciente obeso termina ganhando o “pacote” completo por seu excesso
de adiposidade, ou seja, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, risco
cardiovascular, alguns tipos de câncer e doença renal. Um excesso proteico não
só contribui no emagrecimento como também reduz a pressão arterial, segundo o
estudo. Além disso, a sobrecarga de função renal é um processo fisiológico
adaptativo e, como costumo dizer, seria como um indivíduo cego que escuta
melhor. Mas tenho certeza que você ainda não aceitou estes fatos, então,
deixa-me continuar.
ESTUDO 10:
Skov
A.R et al. Changes in renal function during weight loss induced by high vs
low-protein low-fat diets in overweight subjects. Int. J. Obes. Relat. Metab. Disord. 23(11):1170-7, 1999.
O
estudo investigou as alterações renais durante a perda de peso induzida pela
“dieta rica em proteína” versus a “dieta pobre em proteína” em indivíduo com
excesso de peso e obesidade. Este estudo randomizado de 1999 com 65 indivíduos
com sobrepeso-obesidade por um período de 6 meses concluiu que pode ser
desejável o excesso proteico no tratamento da obesidade, devido seu efeito
sacietogênico (promove saciedade). Além disso, as mudanças moderadas no consumo
proteico causam alterações adaptativas no tamanho e função renal, sem indícios
de efeitos adversos à saúde, verificado pelas taxas de filtração glomerular
(TFG) e albuminúria.
ESTUDO 11:
Effects
of High-Protein Versus High-Carbohydrate Diets on Markers of β-Cell Function,
Oxidative Stress, Lipid Peroxidation, Proinflammatory Cytokines, and Adipokines
in Obese, Premenopausal Women Without Diabetes. A randomized controlled trial. Diabetes Care. 36(7):1919-25, 2013.
Este
é um estudo bem interessante que, por sinal, aplico em meus pacientes de
consultório. O estudo prospectivo-randomizado partiu de amostra com 24 mulheres
obesas, não diabéticas, entre 20 e 50 anos de idade, por um período de 6 meses.
Foram divididos dois grupos aleatórios: Grupo 1: submetidos a dieta
hipocalórica (n = 12) com a tradicional recomendação 55/30/15 (ou seja, 55% de
carboidrato; 30% de lipídeo e 15% de proteína); e Grupo 2: submetidos a dieta
hipocalórica e hiperproteica (n = 12) com distribuição 40/30/30 (ou seja, 40%
de carboidrato; 30% de lipídeo e 30% de proteína). A restrição calórica foi de
500 kcal/dia sobre a taxa metabólica de repouso (TMR) dos indivíduos, que
acabou gerando dietas entre 1.200 e 1.800 kcal/dia. Os resultados sobre o
emagrecimento e impacto à saúde são impressionantes. O Grupo 2 (que possui um
excesso proteico, ou seja, 30% de proteína total ofertada), além de
emagrecimento, reduziu estresse oxidativo (verificado por diclorofluorescência)
e a oxidação de lipídeos ou lipoperoxidação (verificado pela presença de
malondialdeído ou MDA); reduziu a inflamação (verificado pela proteína
C-reativa ou PCR, fator de necrose tumoral alpha ou TNFa
e interleucina-6 ou IL-6); melhorou o perfil lipídico do sangue (talvez uma
falha do estudo, pois verificou apenas ácidos graxos livres ou AGL), modulou
adipocinas (relacionados ao processos de fome e saciedade), aumentou a TMR e
promoveu glicoregulação (aumento da sensibilidade à insulina). Perceberam que
fantástico? Pacientes obesos tiveram inúmeros benefícios de saúde, além do
emagrecimento, consumindo 30% de proteína total versus à tradicional
recomendação de 15% de proteína total. Enfim, estou lhe apresentando apenas 11
estudos científicos (pois existem muitos outros) que discordam do senso comum,
onde o consumo excessivo de proteína poderia prejudicar ou danificar, causar
lesão ou injúria, promover falência ou insuficiência no cérebro, no fígado ou
nos rins. Neste ponto da conversa, podemos fazer o inverso: você pode me
apresentar 11 estudos científicos fortes apoiando a tese de que seria perigoso
à saúde reduzir o carboidrato e aumentar o aporte proteico na dieta?
Talvez
você não aceite facilmente o fato de que um EXCESSO PROTEICO NÃO TEM RELAÇÃO COM DOENÇA HEPÁTICA E RENAL em
INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS, pois você acha tudo muito novo. Será?
O
que mais me incomoda não é você desconhecer tais estudos (pois eu também
desconhecia) e, sim, porque nos cursos de graduação mostram apenas um lado da
mesma moeda? Todos nasceram com uma cabeça, dois olhos, uma boca, um nariz,
duas orelhas e uma massa cinzenta (cérebro) pronta para ser utilizada. O
correto seria mostrar o que existe sobre o assunto e deixar o aluno tirar suas
conclusões. Somos ou não seres pensantes? Alguns afirmaram que a sabedoria
convencional ou tradicional não deve ser questionada, pois são baseadas em
Diretrizes e Comitês que fazem parte das raízes da nutrição e alimentação.
Desculpe-me, mas não se faz ciência sem questionamento e, até mesmo,
discordância. Não podemos perpetuar a falácia lógica. Seria bastante lógico
esperar que nosso cliente ou paciente, antes de ingerir um excesso proteico ou
comprar seu Whey Protein Top 10, procura-se auxílio com um profissional
nutricionista. Desta forma, a observação de hábitos alimentares e a
interpretação de exames bioquímicos poderia levantar um candidato com lesão
hepática ou renal prévia, sendo, este, um candidato que não poderia ingerir um
excesso proteico. Todavia, sabemos que as coisas funcionam mais ou menos assim:
o indivíduo procura uma revista da moda ou um Blogueiro Fitness (diga-se de
passagem: sem graduação em nutrição), se matricula na academia, compra um Whey
Protein e mais todas as ofertas proteicas sugeridas pelo vendedor e se entope
de frango, carne bovina e ovos na tentativa desenfreada de atingir a tão
sonhada hipertrofia muscular. Se um lesão hepática ou renal aparecer alguns
irão dizer: “Viu, eu sabia que um excesso proteico causaria dano no fígado e
rim”. Minha dica final seria: a verdade de hoje pode ser a inverdade de amanhã,
portanto, nunca deixa de se atualizar e, para tanto, evite as teias de aranha
em sua estante de livros da mesma forma que em sua mente.
JOELSO
PERALTA, um eterno curioso.
CRN2
6561
Contato
(Whats): (51) 9943-1815
E-mail:
joelsoperalta@hotmail.com