segunda-feira, 19 de agosto de 2024

TESTOSTERONA BAIXA É UM PROBLEMA?

 

TESTOSTERONA BAIXA É UM PROBLEMA?  

 

JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina: Ciências Médicas e Doutorando em Ciências Biológicas: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.




Olá pessoal, tudo bem? Nos últimos meses tenho observado alguns pacientes, homens, com menos de 50 anos, com baixos níveis de testosterona total e livre no exame de sangue. Alguns estavam preocupados, enquanto que outros nem tanto. Todavia, uma pergunta comum sempre surgia: testosterona muito baixa é um problema e será que devo repor? Gostaria de opinar sobre este assunto com base em meujs estudos e experiência clínica. Essa matéria não discutirá os níveis de testosterona e reposição hormonal em mulheres, embora farei comentários breves.  

 

COMO FUNCIONA A REGULAÇÃO DA TESTOSTERONA?

A testosterona é um hormônio esteroide secretado pelas células de Leydig dos testículos em homens, sendo regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-gonadal. Quer dizer, o hipotálamo secreta o hormônio hipotalâmico de liberação das gonadotrofinas (GnRH), que estimula a hipófise anterior (adeno-hipófise) quanto a secreção do hormônio luteinizante (LH) e do hormônio folículo-estimulante (FSH). LH promove esteroidogênese (formação e secreção de testosterona), enquanto que FSH participa da espermatogênese (formação de espermatozóides).

O eixo hipotálamo-hipófise também é regulado por retroalimentação negativa, ou seja, um excesso na produção de testosterona inibe sua própria síntese. Ao mesmo tempo, o hormônio inibina, secretado pelas céulas de Sertoli dos testículos, inibe a adeno-hipófise.

Por fim, a zona reticulosa do córtex adrenal (glândula suprarrenal) produz e secreta uma pequena quantidade de andrógenos (DHEA ou desidroepiandroterona, testosterona e androstenodiona), que reflete em uma pequeníssima quantidade de andrógenos circulantes em mulheres. A glândula suprerrenal é estimulada pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), derivado da adeno-hipófise. Aliás, a produção de andrógenos, em mulheres, que é pequena, ocorre a partir das glândulas suprarrenais e ovários.

Não faça confusão: o ACTH também pode estimular a glândula suprarrenal para produzir cortisol e aldosterona, mas aí é assunto para outra matéria.

 

QUAIS SÃO OS NÍVEIS ACEITÁVEIS DE TESTOSTERONA?

Em homens, os níveis de testosterona oscilam entre 2,5 a 11 mg/dia (17,5 a 77 mg/semana) e, nas mulheres, os níveis oscilam de 0,2 a 0,4 mg/dia (1,4 a 2,8 mg/semana). Isso mesmo: os níveis de testosterona são absurdamente baixos em mulheres quando comparado aos homens.

Os laboratórios de análise clínicas trazem os seguintes valores de referência: testosterona total (soro) de 240 a 850 ng/dL para homens; e 10 a 80 ng/dL para mulheres. Para testosterona livre (soro), os valores são 130-640 pmol/L para homens e 2,4-37,0 pmol/L para mulheres. Isso mesmo: os níveis de testosterona total e livre, em mulheres, são naturalmente baixos quando comparados aos homens.

Portanto, a reposição de testosterona em mulheres é polêmica e discutível, onde os maiores especialistas no assunto não recomendam.

Não faça confusão: existe reposição de estrógenos e outros hormônios em mulheres, que pode ser assunto para outra matéria aqui.

 

BAIXOS NÍVEIS DE TESTOSTERONA SÃO PREOCUPANTES?

Em homens jovens, não há necessidade de reposição de testosterona quando os valores são iguais ou superiores a 350 ng/dL. Todavia, os valores abaixo de 240 ng/dL geram preocupação e necessidade de esclarecimentos com médico de confiança. Neste caso, solicita-se uma investigação detalhada: testosterona total e livre, LH, FSH, DHEA, DHT (diidrotestosterona), SHBG (proteína de ligação para hormônios sexuais), E2 (estradiol) e PSA (antígeno prostático específico).

Os baixos níveis de testosterona, nestes homens jovens, é preocupante pelos seguintes motivos: queda da libido, perda da força e massa muscular (sarcopenia), aumento da gordura corporal (adiposidade ou dificuldade para perder gordura corporal) e perda da densidade mineral óssea (DMO). Alguns pacientes também relatam fadiga e letargia, ansiedade e depressão, disfunção erétil, menor tolerância ao esforço físico e prejuízos na memória e concentração. Além disso, estudos relacionam os baixos níveis de testosterona com desfechos clínicos desfavoráveis, incluindo sarcopenia, risco aumentado para contrair infecções respiratórias e prejuízos na contratilidade cardíaca.  

Não faça confusão: as doses suprafisiológicas de testosterona, obtidas através do uso (abuso) de esteroides anabólico-androgênicos (EAA), não estão sendo debatidos aqui. Aliás, o uso de EAA para fins estéticos não é foco desta matéria.

 

SERÁ QUE DEVO REPOR MINHA TESTOSTERONA?

A melhor resposta é DEPENDE. Deixa-me explicar melhor.

Primeiro, DEPENDE da opinião de seu médico. Uma possível terapia de reposição hormonal (TRH) deve ser realizada e acompanhada pelo seu médico, onde endocrinologistas me parecem ser os profissionais mais adequados para uma conversa franca e direta. Este profissional, além de investigar a testosterona e outros marcadores bioquímicos, irá observar os relatos (sinais e sintomas) descritos pelo paciente, que podem estar prejudicando a qualidade de vida deste. Todavia, cuidado com as promessas da chamada Medicina Anti-Aging Funcional Integrativa e blábláblá. Lembre-se: a medicina anti-aging não é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). As coisas devem ser tratadas com seriedade.

Segundo, DEPENDE das contraindicações. Sim, existem situações onde a TRH não é indicada: suspeita (atual ou pregressa) de câncer ou de condições malignas mediadas por hipersensibilidade à testosterona ou estrógenos, hemorragia genital não diagnosticada, hiperplasia prostática, atual tromboembolismo venoso, ativo ou recente doença arterial tromboembólica ou hipertensão arterial descontrolada ou não tratada, insuficiência cardíaca ou qualquer distúrbio grave em cardiomiócitos, doença hepática ativa, porfiria cutâneo tardia (uma doença do grupo Heme da hemoglobina) e hematrócrito elevado (acima de 50%). O foco desta postagem são os homens, mas existem contraindicações para mulheres: hiperplasia endometrial e câncer de mama, além dos itens já mencionados (hipertensão, tromboembolismo, alteração cardíaca, doença hepática e hematrócito elevado).

Terceiro, DEPENDE de seu bom senso, que seria a capacidade de agir de forma coerente, sensata e inteligente. Quer dizer, não seja enganado: não existem alimentos e/ou suplementos que possam colocar sua testosterona nas “nuvens” do dia para a noite. Seria muita inocência sua acreditar nisso. Todavia, já falei neste Blog de outros recursos que aumentam testosterona, incluindo o exercício físico e qualidade do sono. Além disso, uma possível TRH (decorrente dos baixos níveis de testosterona em homens jovens) não é para ficar mais bonito, charmoso, atraente ou musculoso (embora possa lhe trazer benefícios estéticos), mas, sim, uma questão de saúde e qualidade de vida.

 

Enfim, existem inúmeras formas de repor sua testosterona sob acompanhamento médico (eu disse: médico), incluindo injeções intramusculares de testosterona e derivados, adesivos e gel de testosterona, comprimidos ou cápsulas hormonais e, até mesmo, implantes hormonais. Uma dica importante, geralmente negligenciada, é o acompanhamento da TRH.