TESTOSTERONA BAIXA É UM PROBLEMA?
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina:
Ciências Médicas e Doutorando em Ciências Biológicas: PPG Farmacologia e
Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Nos últimos meses tenho observado alguns pacientes,
homens, com menos de 50 anos, com baixos níveis de testosterona total e livre
no exame de sangue. Alguns estavam preocupados, enquanto que outros nem tanto. Todavia,
uma pergunta comum sempre surgia: testosterona muito baixa é um problema e será
que devo repor? Gostaria de opinar sobre este assunto com base em meujs estudos e experiência clínica. Essa matéria não discutirá os níveis de testosterona e reposição hormonal em mulheres,
embora farei comentários breves.
COMO FUNCIONA A REGULAÇÃO DA TESTOSTERONA?
A testosterona é um hormônio esteroide secretado pelas células de Leydig
dos testículos em homens, sendo regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-gonadal.
Quer dizer, o hipotálamo secreta o hormônio hipotalâmico de liberação das
gonadotrofinas (GnRH), que estimula a hipófise anterior (adeno-hipófise) quanto
a secreção do hormônio luteinizante (LH) e do hormônio folículo-estimulante
(FSH). LH promove esteroidogênese (formação e secreção de testosterona),
enquanto que FSH participa da espermatogênese (formação de espermatozóides).
O eixo hipotálamo-hipófise também é regulado por retroalimentação negativa,
ou seja, um excesso na produção de testosterona inibe sua própria síntese. Ao mesmo
tempo, o hormônio inibina, secretado pelas céulas de Sertoli dos testículos,
inibe a adeno-hipófise.
Por fim, a zona reticulosa do córtex adrenal (glândula suprarrenal)
produz e secreta uma pequena quantidade de andrógenos (DHEA ou
desidroepiandroterona, testosterona e androstenodiona), que reflete em uma
pequeníssima quantidade de andrógenos circulantes em mulheres. A glândula
suprerrenal é estimulada pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), derivado da
adeno-hipófise. Aliás, a produção de andrógenos, em mulheres, que é pequena,
ocorre a partir das glândulas suprarrenais e ovários.
Não faça confusão: o ACTH também pode estimular a glândula suprarrenal para
produzir cortisol e aldosterona, mas aí é assunto para outra matéria.
QUAIS SÃO OS NÍVEIS ACEITÁVEIS
DE TESTOSTERONA?
Em homens, os níveis de testosterona oscilam entre 2,5 a 11 mg/dia (17,5
a 77 mg/semana) e, nas mulheres, os níveis oscilam de 0,2 a 0,4 mg/dia (1,4 a
2,8 mg/semana). Isso mesmo: os níveis de testosterona são absurdamente baixos em
mulheres quando comparado aos homens.
Os laboratórios de análise clínicas trazem os seguintes valores de
referência: testosterona total (soro) de 240 a 850 ng/dL para homens; e 10 a 80
ng/dL para mulheres. Para testosterona livre (soro), os valores são 130-640 pmol/L
para homens e 2,4-37,0 pmol/L para mulheres. Isso mesmo: os níveis de
testosterona total e livre, em mulheres, são naturalmente baixos quando
comparados aos homens.
Portanto, a reposição de testosterona em mulheres é polêmica e
discutível, onde os maiores especialistas no assunto não recomendam.
Não faça confusão: existe reposição de estrógenos e outros hormônios em
mulheres, que pode ser assunto para outra matéria aqui.
BAIXOS NÍVEIS DE TESTOSTERONA
SÃO PREOCUPANTES?
Em homens jovens, não há necessidade de reposição de testosterona quando
os valores são iguais ou superiores a 350 ng/dL. Todavia, os valores abaixo de
240 ng/dL geram preocupação e necessidade de esclarecimentos com médico de
confiança. Neste caso, solicita-se uma investigação detalhada: testosterona
total e livre, LH, FSH, DHEA, DHT (diidrotestosterona), SHBG (proteína de
ligação para hormônios sexuais), E2 (estradiol) e PSA (antígeno prostático
específico).
Os baixos níveis de testosterona, nestes homens jovens, é preocupante
pelos seguintes motivos: queda da libido, perda da força e massa muscular
(sarcopenia), aumento da gordura corporal (adiposidade ou dificuldade para
perder gordura corporal) e perda da densidade mineral óssea (DMO). Alguns pacientes
também relatam fadiga e letargia, ansiedade e depressão, disfunção erétil,
menor tolerância ao esforço físico e prejuízos na memória e concentração. Além
disso, estudos relacionam os baixos níveis de testosterona com desfechos
clínicos desfavoráveis, incluindo sarcopenia, risco aumentado para contrair infecções
respiratórias e prejuízos na contratilidade cardíaca.
Não faça confusão: as doses suprafisiológicas de testosterona, obtidas
através do uso (abuso) de esteroides anabólico-androgênicos (EAA), não estão
sendo debatidos aqui. Aliás, o uso de EAA para fins estéticos não é foco desta
matéria.
SERÁ QUE DEVO REPOR MINHA
TESTOSTERONA?
A melhor resposta é DEPENDE. Deixa-me explicar melhor.
Primeiro, DEPENDE da opinião de seu médico. Uma possível terapia de reposição
hormonal (TRH) deve ser realizada e acompanhada pelo seu médico, onde endocrinologistas
me parecem ser os profissionais mais adequados para uma conversa franca e
direta. Este profissional, além de investigar a testosterona e outros marcadores
bioquímicos, irá observar os relatos (sinais e sintomas) descritos pelo
paciente, que podem estar prejudicando a qualidade de vida deste. Todavia, cuidado
com as
promessas da chamada Medicina Anti-Aging Funcional Integrativa e blábláblá. Lembre-se:
a medicina anti-aging não é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal
de Medicina (CFM). As coisas devem ser tratadas com seriedade.
Segundo, DEPENDE das contraindicações. Sim, existem situações onde a TRH
não é indicada: suspeita (atual ou pregressa) de câncer ou de condições malignas
mediadas por hipersensibilidade à testosterona ou estrógenos, hemorragia
genital não diagnosticada, hiperplasia prostática, atual tromboembolismo venoso,
ativo ou recente doença arterial tromboembólica ou hipertensão arterial descontrolada
ou não tratada, insuficiência cardíaca ou qualquer distúrbio grave em
cardiomiócitos, doença hepática ativa, porfiria cutâneo tardia (uma doença do
grupo Heme da hemoglobina) e hematrócrito elevado (acima de 50%). O foco desta
postagem são os homens, mas existem contraindicações para mulheres: hiperplasia
endometrial e câncer de mama, além dos itens já mencionados (hipertensão,
tromboembolismo, alteração cardíaca, doença hepática e hematrócito elevado).
Terceiro, DEPENDE de seu bom senso, que seria a capacidade de agir de
forma coerente, sensata e inteligente. Quer dizer, não seja enganado: não existem
alimentos e/ou suplementos que possam colocar sua testosterona nas “nuvens” do
dia para a noite. Seria muita inocência sua acreditar nisso. Todavia, já falei
neste Blog de outros recursos que aumentam testosterona, incluindo o exercício
físico e qualidade do sono. Além disso, uma possível TRH (decorrente dos baixos
níveis de testosterona em homens jovens) não é para ficar mais bonito,
charmoso, atraente ou musculoso (embora possa lhe trazer benefícios estéticos),
mas, sim, uma questão de saúde e qualidade de vida.
Enfim, existem inúmeras formas de repor sua testosterona sob
acompanhamento médico (eu disse: médico), incluindo injeções intramusculares de
testosterona e derivados, adesivos e gel de testosterona, comprimidos ou
cápsulas hormonais e, até mesmo, implantes hormonais. Uma dica importante,
geralmente negligenciada, é o acompanhamento da TRH.