O QUE VOCÊ PENSA SOBRE A HOMEOPATIA?
JOELSO PERALTA,
Nutricionista, Mestre em
Medicina: Ciências Médicas, Doutorando junto ao PPG Farmacologia e Terapêutica
- UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Tá, segue mais um post pequeno, rápido, reflexivo...
Homeopatia foi criada pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel
Hahnemann (1755-1843) em 1796, cujo princípio é o tratamento da doença
reestabelecendo o equilíbrio do organismo com a administração de substâncias
diluídas e dinamizadas que liberariam a energia vital. Energia vital, confuso?
Traduzindo, energia vital é uma espécie de energia gerada pelo pensamento e
emoções, baseado no princípio de “similia
similibus curantur” (do latim, "semelhante pelo semelhante se
cura"). E, por isso, as substâncias homeopáticas são diluídas, diluídas,
diluídas e dinamizadas, dinamizadas, dinamizadas, para curar os pacientes. Confuso?
Pois é, vamos refletir.
A homeopatia não é novidade no Brasil e tem suas origens na medicina
alternativa, sendo adorada, apreciada, valorizada por alguns; e extremamente criticada, odiada, ridicularizada por outros. A Dra.
Natália Pasternak (currículo ao final do post) causou certa polêmica ao afirmar
que “HOMEOPATIA É FEITA DE NADA”, ou seja, não passa de placebo (substância
inerte) e que não funciona. Na realidade, ela só reafirmou o que seus colegas Dr.
Marcelo Yamashita e o jornalista Carlos Orsi (currículos ao final do post)
falaram em uma matéria na Revista Questão de Ciência (http://revistaquestaodeciencia.com.br).
Os posicionamentos acima geraram muita discórdia nas redes sociais, afinal
a homeopatia está enraizada na cultura da população brasileira. A pessoa mais
indicada para falar do assunto, contudo, é o Dr. Edzard Ernst (currículo ao
final do post). Dr. Edzard afirma: “AS
PÍLULAS E SOLUÇÕES HOMEOPÁTICAS, NA PRÁTICA, NÃO FUNCIONAM”. Segundo Ernst, “O
EXCESSO DE DILUIÇÃO, NO FINAL DAS CONTAS, NÃO CONTÉM REMÉDIO ALGUM”.
Caracas, parece que os defensores da homeopatia estão mais raivosos após
polêmica (que, na realidade, sempre existiu). Alguns “doutores” (na realidade,
a grande maioria sem mestrado ou doutorado) saíram em defesa da homeopatia afirmando
que “em minha prática, em minha experiência clínica, onde já tratei milhares de
pessoas, a homeopatia funciona”. Não vamos brigar aqui, mas é justamente para
evitar esse tipo de viés que existem pesquisas e publicações científicas. Quer dizer,
você não pode (especialmente sendo um profissional de saúde), sair em defesa de
algo dizendo “minha prática, minha experiência”, pois a ciência não está nem aí
para sua opinião pessoal.
Quando questionados, todavia, muitos “doutores” (sem doutorado) afirmam
que “nenhum estudo científico conseguirá demonstrar os efeitos da homeopatia,
pois a substância dinamizada só funciona em pessoas de mente aberta e livre de
preconceito”. Caracas, esse é o pior argumento que alguém poderia usar para
defender uma conduta baseada na medicina alternativa. Quer dizer, o “negócio”
não funcionou porque minha mente é fechada? Puxa vida, trata-se de um argumento
“tosco”, pois os cientistas são “super cabeça aberta” para levantar hipóteses
que precisam ser testadas experimentalmente.
Enfim, o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (NHMRC, National
Health and Medical Research Council), da Austrália, também revisou as evidências científicas
para a eficácia da homeopatia no tratamento de uma variedade de condições
clínicas. Em um dos trechos, podemos observar: “Não há evidência confiável de
que a homeopatia seja efetiva para tratar condições de saúde”. Em outro trecho:
“A homeopatia não deve ser usada para tratar condições de saúde crônicas,
graves ou que possam ficar sério”. E, por fim, em outro trecho temos: “As
pessoas que escolhem a homeopatia podem colocar sua saúde em risco se
rejeitarem ou retardar tratamentos para os quais há boas evidências de
segurança e eficácia”.
Para finalizar, os céticos são sempre odiados, pois questionam e exigem
testes de hipóteses experimentalmente. Com base nos resultados, podem aceitar
ou rejeitar a hipótese, sem preconceitos. Para tanto, os dados devem ser
publicados, devidamente revisados por pares. Os cientistas e pesquisadores são
céticos (que é diferente de negacionista, não faça confusão). Os céticos não
aceitam opiniões, relatos de experiência de vida, estudos de casos e,
verdadeiramente, são odiados (estou na lista dos odiados, rs).
Currículo dos profissionais mencionados no post:
Natália Pasternak é bióloga, graduada pelo Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IB-USP). Possui PhD e pós-doutorado em
Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de
Ciências Biomédicas da USP, divulgadora científica e presidente do Instituto
Questão de Ciência (IQC).
Marcelo Yamashita é doutor em Física pela Universidade de São Paulo com pós-doutorado
no ITA, Professor e Diretor do Instituto de Física Teórica (IFT) da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Membro do Conselho
Editorial da Fundação Editora UNESP e do Scientific Council do ICTP South
American Institute for Fundamental Research.
Carlos Orsi é jornalista formado pela ECA-USP, editor-chefe da Revista
Questão de Ciência e fundador do Instituto Questão de Ciência. Além de divulgador
científico, Orsi é escritor e possui vários livros publicados.
Edzard Ernst é médico e pesquisador especializado em medicina
alternativa com mestrado e doutorado pela Universidade Ludwig Maximilians, em
Munique. Além disso, foi Professor de Medicina Física e Reabilitação (PMR) na
Hannover Medical School (Alemanha) e Chefe do Departamento de PMR da
Universidade de Viena (Áustria). O professor Dr. Ernst fundou três revistas
médicas, colunista de muitas publicações (BMJ, GP, MMW, PJ, The Guardian, The
Independent, The Spectator, Publikum, Skeptic Magazine, etc.), publicou mais de
1000 artigos na literatura médica revisada por pares, mais de 50 livros, enfim,
um currículo gigantesco, sendo considerado o maior especialista mundial no
assunto medicina alternativa.