quinta-feira, 9 de junho de 2022

O QUE VOCÊ PENSA SOBRE A HOMEOPATIA?

 

O QUE VOCÊ PENSA SOBRE A HOMEOPATIA?

JOELSO PERALTA,

Nutricionista, Mestre em Medicina: Ciências Médicas, Doutorando junto ao PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.

 


Olá pessoal, tudo bem? Tá, segue mais um post pequeno, rápido, reflexivo...

 

Homeopatia foi criada pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843) em 1796, cujo princípio é o tratamento da doença reestabelecendo o equilíbrio do organismo com a administração de substâncias diluídas e dinamizadas que liberariam a energia vital. Energia vital, confuso? Traduzindo, energia vital é uma espécie de energia gerada pelo pensamento e emoções, baseado no princípio de “similia similibus curantur” (do latim, "semelhante pelo semelhante se cura"). E, por isso, as substâncias homeopáticas são diluídas, diluídas, diluídas e dinamizadas, dinamizadas, dinamizadas, para curar os pacientes. Confuso? Pois é, vamos refletir.

A homeopatia não é novidade no Brasil e tem suas origens na medicina alternativa, sendo adorada, apreciada, valorizada por alguns; e extremamente criticada, odiada, ridicularizada por outros. A Dra. Natália Pasternak (currículo ao final do post) causou certa polêmica ao afirmar que “HOMEOPATIA É FEITA DE NADA”, ou seja, não passa de placebo (substância inerte) e que não funciona. Na realidade, ela só reafirmou o que seus colegas Dr. Marcelo Yamashita e o jornalista Carlos Orsi (currículos ao final do post) falaram em uma matéria na Revista Questão de Ciência (http://revistaquestaodeciencia.com.br).

Os posicionamentos acima geraram muita discórdia nas redes sociais, afinal a homeopatia está enraizada na cultura da população brasileira. A pessoa mais indicada para falar do assunto, contudo, é o Dr. Edzard Ernst (currículo ao final do post). Dr. Edzard afirma: “AS PÍLULAS E SOLUÇÕES HOMEOPÁTICAS, NA PRÁTICA, NÃO FUNCIONAM”. Segundo Ernst, “O EXCESSO DE DILUIÇÃO, NO FINAL DAS CONTAS, NÃO CONTÉM REMÉDIO ALGUM”.

Caracas, parece que os defensores da homeopatia estão mais raivosos após polêmica (que, na realidade, sempre existiu). Alguns “doutores” (na realidade, a grande maioria sem mestrado ou doutorado) saíram em defesa da homeopatia afirmando que “em minha prática, em minha experiência clínica, onde já tratei milhares de pessoas, a homeopatia funciona”. Não vamos brigar aqui, mas é justamente para evitar esse tipo de viés que existem pesquisas e publicações científicas. Quer dizer, você não pode (especialmente sendo um profissional de saúde), sair em defesa de algo dizendo “minha prática, minha experiência”, pois a ciência não está nem aí para sua opinião pessoal.

Quando questionados, todavia, muitos “doutores” (sem doutorado) afirmam que “nenhum estudo científico conseguirá demonstrar os efeitos da homeopatia, pois a substância dinamizada só funciona em pessoas de mente aberta e livre de preconceito”. Caracas, esse é o pior argumento que alguém poderia usar para defender uma conduta baseada na medicina alternativa. Quer dizer, o “negócio” não funcionou porque minha mente é fechada? Puxa vida, trata-se de um argumento “tosco”, pois os cientistas são “super cabeça aberta” para levantar hipóteses que precisam ser testadas experimentalmente.

Enfim, o Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (NHMRC, National Health and Medical Research Council), da Austrália, também revisou as evidências científicas para a eficácia da homeopatia no tratamento de uma variedade de condições clínicas. Em um dos trechos, podemos observar: “Não há evidência confiável de que a homeopatia seja efetiva para tratar condições de saúde”. Em outro trecho: “A homeopatia não deve ser usada para tratar condições de saúde crônicas, graves ou que possam ficar sério”. E, por fim, em outro trecho temos: “As pessoas que escolhem a homeopatia podem colocar sua saúde em risco se rejeitarem ou retardar tratamentos para os quais há boas evidências de segurança e eficácia”.

Para finalizar, os céticos são sempre odiados, pois questionam e exigem testes de hipóteses experimentalmente. Com base nos resultados, podem aceitar ou rejeitar a hipótese, sem preconceitos. Para tanto, os dados devem ser publicados, devidamente revisados por pares. Os cientistas e pesquisadores são céticos (que é diferente de negacionista, não faça confusão). Os céticos não aceitam opiniões, relatos de experiência de vida, estudos de casos e, verdadeiramente, são odiados (estou na lista dos odiados, rs).  

 

Currículo dos profissionais mencionados no post:

Natália Pasternak é bióloga, graduada pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Possui PhD e pós-doutorado em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, divulgadora científica e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

Marcelo Yamashita é doutor em Física pela Universidade de São Paulo com pós-doutorado no ITA, Professor e Diretor do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Membro do Conselho Editorial da Fundação Editora UNESP e do Scientific Council do ICTP South American Institute for Fundamental Research.

Carlos Orsi é jornalista formado pela ECA-USP, editor-chefe da Revista Questão de Ciência e fundador do Instituto Questão de Ciência. Além de divulgador científico, Orsi é escritor e possui vários livros publicados.

Edzard Ernst é médico e pesquisador especializado em medicina alternativa com mestrado e doutorado pela Universidade Ludwig Maximilians, em Munique. Além disso, foi Professor de Medicina Física e Reabilitação (PMR) na Hannover Medical School (Alemanha) e Chefe do Departamento de PMR da Universidade de Viena (Áustria). O professor Dr. Ernst fundou três revistas médicas, colunista de muitas publicações (BMJ, GP, MMW, PJ, The Guardian, The Independent, The Spectator, Publikum, Skeptic Magazine, etc.), publicou mais de 1000 artigos na literatura médica revisada por pares, mais de 50 livros, enfim, um currículo gigantesco, sendo considerado o maior especialista mundial no assunto medicina alternativa.