DÉFICIT CALÓRICO FUNCIONA OU NÃO PARA EMAGRECER?
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina: Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Há algumas semanas atrás estava respondendo uma
demanda de um Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), em relação minha tese de
doutorado, que envolve neuromodulação em pacientes obesos, sobre as dietas
restritivas e sua relação com o emagrecimento. Nessa semana, observo uma
polêmica nas redes sociais, onde algumas pessoas afirmavam que o déficit
calórico não funciona para emagrecer, enquanto que outros rebatiam ferozmente a
afirmativa. E, afinal, déficit calórico funciona ou não para emagrecer?
Deixa-me aprofundar este assunto em meu “textão” e lembre-se: se gostou
pode compartilhar, desde que citado a fonte: Prof. Joelso Peralta no Blog: https://peraltanutri.blogspot.com.
Ahhh, siga-me nas redes sociais (FACE: Joelso Peralta; Instagram: @peraltanutri).
DÉFICIT CALÓRICO NÃO FUNCIONA, POR
QUÊ?
Alguns profissionais de saúde, incluindo nutricionistas e médicos,
argumentam que as pessoas
submetidas a restrição alimentar ou calórica, após um breve ou moderado período
de tratamento, acabam não aderindo ao plano e desistem do tratamento. Fala-se,
ainda, que os pacientes voltam a consumir alimentos altamente energéticos após
restrição calórica, imposta pelo profissional nutricionista (e outros “metidos”
à nutris), recuperando o peso perdido. Dessa forma, são taxativos: as dietas
restritivas não funcionam ou o déficit calórico não funciona para emagrecer. Quer
dizer, a redução de calorias diárias criará um déficit calórico, mas isso não
funciona para emagrecer, pois as pessoas simplesmente “não aguentam passar fome”.
Em
sua defesa, argumentam também que, no passado, digo milhares de anos atrás,
vivíamos por períodos de pouca ou inexistente oferta de alimentos, que teria
relação com as condições climáticas e deslocamentos pelos continentes. Dessa
forma, dizem, o corpo teria aprendido armazenar energia para resistir ao
déficit calórico imposto pelo meio ambiente. Ou seja, quando baixamos as
calorias diárias, segundo eles, nosso corpo “se defende”, reduzindo o
metabolismo e armazenando energia (glicogênio e triglicerídeos).
Nessa
linha de pensamento, argumentam que “comer menos” para emagrecer não é tão
simples assim, caso contrário todos emagreceriam “fechando a boca” e não
teríamos sobrepeso e obesidade na população. Outros dizem que, durante o
déficit energético, a taxa metabólica basal (TMB) é reduzida em uma tentativa
de manter as reservas energéticas para a sobrevivência da espécie, quando
paramos de perder peso.
Enfim,
o déficit calórico, através da dieta, não funciona para emagrecer. Vejamos,
agora, outros argumentos.
DÉFICIT CALÓRICO FUNCIONA, POR QUÊ?
Contrariando o texto anterior, alguns profissionais de saúde, incluindo
nutricionistas e médicos, dizem que os argumentos acima estão, todos, completamente
equivocados ou errados. Para tanto, rebatem: as pessoas não aderem ao plano
alimentar e, por ventura, desistem do tratamento, devido alterações
neuroendócrinas que ocorrem durante o processo de emagrecimento. Essas
alterações envolvem, por exemplo, a redução de leptina (“hormônio da
saciedade”), devido perda de adiposidade (redução do tecido adiposo).
Além
disso, quando “fechamos a boca” também temos mais fome (aumento do hormônio
grelina) e, como consequência, vamos atrás de alimentos, que podem ser mais
energéticos. Isso não quer dizer que o déficit calórico não funcione, mas, simplesmente,
que não conseguimos controlar nossa fome e, até mesmo, nossa compulsão
alimentar. Aliás, a baixa adesão as dietas restritivas e a desistência do
tratamento podem ter relação com o transtorno da compulsão alimentar periódico
(TCAP), que não foi devidamente identificado/diagnosticado e tratado.
Por
fim, no passado, milhares de anos atrás, vivíamos realmente por períodos de
pouca ou inexistente oferta de alimentos, onde o metabolismo pode ser “mais
lento”, mas essa “redução metabólica” não é suficiente para impedir a perda de
peso e emagrecimento.
Enfim,
o déficit calórico, através da dieta, funciona para emagrecer. Vejamos, agora, meu
debate sobre o assunto.
ENTÃO, DÉFICIT CALÓRICO FUNCIONA OU
NÃO?
Pois bem, como foi dito, será um “textão”, já que o assunto me
interessa. Incialmente, precisamos esclarecer alguns conceitos para evitar
confusões.
FOME é diferente de APETITE
A fome é uma
sensação fisiológica, onde nosso
corpo percebe que necessita de alimentos (energia e nutrientes) para manter
suas atividades inerentes à vida. Muitas pessoas ao redor do planeta têm fome (devido
pobreza, desigualdade social, conflitos políticos, acidentes naturais, etc.) e,
alguns desenvolvem quadros de desnutrição. Já o apetite é o desejo de comer
algo, vontade de comer alguma coisa, alimentar-se por preferência. Quer
dizer, no apetite temos desejos por certos tipos de alimentos, preferencias
alimentares, onde a seleção de alimentos pode ser boa ou ruim. Já falei destes
conceitos neste blog (leia: “Regulação da Ingestão Alimentar”, publicado em
19/10/2021). Mesmo assim, vamos relembrar mais conceitos.
Saciedade seria
o estado de satisfação completa em relação aos alimentos, ou seja, plena
satisfação do apetite. Ou, ainda, o contrário de fome. Com o passar dos anos,
surgiram outros termos na ciência da nutrição: fome hedônica e ambiente
obesogênico. A fome hedônica seria
um “comer emocional”, quer dizer, as pessoas estariam se alimentando por
estresse, ansiedade, situações emotivas e emocionais, motivadas por hábitos
familiares ou circuito de amizades. É uma espécie de “sistema de recompensa e
prazer” através da alimentação. Confesso que não simpatizo com o termo, pois “fome”
implica em sensação fisiológica e busca de alimentos, mas na “fome hedônica”
pode existir preferência alimentar, que lembra “apetite hedônico”. Enfim, o
termo mais adequado, para mim, seria apenas
“comer emocional” ou “comer hedônico”
(onde hedônico refere-se à obtenção de prazer, felicidade).
Por fim, ambiente
obesogênico, como o próprio nome sugere, seriam todos os fatores que
contribuem para obesidade em um determinado ambiente. Neste caso, estamos
falando de fast foods e suas estratégias
“deliciosas” de marketing; passar muitas hortas sentados na frente do
computador (home office),
contribuindo para o menor gasto calórico (sedentarismo); e atritos, conflitos e
brigas familiares e amorosas, onde as pessoas “descontam” suas frustrações na
ingestão de alimentos, geralmente “porcarias” altamente calóricas.
Sendo assim, a ingestão alimentar é um fenômeno voluntário
(“você come porque quer”), mas não é tão simples, como veremos abaixo.
REGULAÇÃO da ingestão ALIMENTAR
O hipotálamo tem um papel de
destaque na regulação da ingestão alimentar. O núcleo arqueado (ARC) do
hipotálamo sofre ação dos chamados peptídeos
anorexígenos, ou seja, peptídeos que inibem a vontade de comer (portanto,
anorexígenos, inibitórios). Os mais famosos são o pró-opiomelanocortina (POMC) e o transcrito regulado por cocaína e anfetamina (CART). Ao mesmo
tempo, o ARC também sofre ação de peptídeos
orexígenos, ou seja, aqueles que estimulam a vontade de comer (portanto,
orexígenos, estimulatórios). Agora, os mais famosos incluem os peptídeos neuropeptídeo Y (NPY) e a proteína relacionada ao gene Agouti (AGRP).
Vejam como essa informação é
valiosa:
Uma lesão no ARC, afetando
os neurônios POMC, resulta em hiperfagia (ingestão excessiva de alimentos) e,
consequentemente, sobrepeso e obesidade. Parece óbvio, pois POMC lesionado não
consegue “inibir” a vontade de comer. Porém, deixa-me complicar um pouco mais a
explicação, que não é culpa minha, mas da complexidade própria do controle da ingestão
alimentar.
Existem outras regiões
hipotalâmicas, que recebem projeções neuronais do ARC e dos peptídeos
anorexígenos (POMC/CART) e orexígenos (NPY/AGPR). São elas: o núcleo paraventricular (PVN), o núcleo ventromedial (VMN), o núcleo dorsomedial (DMN) e a área hipotalâmica lateral (LHA).
Vejam, novamente, como essa
informação é valiosa:
Uma lesão na área
hipotalâmica lateral (LHA) resulta em menor ingestão alimentar (anorexia),
enquanto que uma lesão no núcleo ventromedial (VMN) resulta em maior ingestão
alimentar.
De qualquer forma, é
importante destacar que todos estes centros ou núcleos não trabalham
isoladamente, mas, sim, “dialogam”, “conversam entre si”, para melhor regular a
fome e saciedade. Em uma literatura mais antiga, por exemplo, era comum
observar frases do tipo: o “centro da
fome” e o “centro da saciedade” estão
localizados no hipotálamo. Atualmente, contudo, percebe-se que a complexidade é
bem maior (e mais fascinante).
Regulação de CURTO PRAZO da ingestão alimentar
A regulação de curto prazo da ingestão alimentar envolve os peptídeos
secretados pelo trato gastrintestinal (TGI), que são liberados antes e depois
das refeições. O mais famoso, certamente você conhece, chama-se grelina. A grelina é produzida pelo
estômago (embora também pelo intestino, hipotálamo e placenta) e surge cerca de
20 a 30 minutos antes da refeição (chamado período pré-absortivo). Grelina é um
hormônio orexígeno (lembre-se: estimulatório da ingestão alimentar) e age
diretamente no núcleo paraventricular (PVN). Todavia, grelina também atua, indiretamente,
via neuropeptídeo Y (NPY) e proteína Agouti (AGRP) com inibição do pró-opiomelanocortina
(POMC).
Dessa forma, quando você perde
peso (emagrecimento) ocorrem adaptações fisiológicas em uma tentativa de
aumentar sua fome (sensação fisiológica na busca por alimentos), onde a grelina
tem um papel crucial (apelidado de “hormônio da fome”). Em suma, se você “emagrecer”,
vai “disparar” a fome através do hormônio grelina. Trata-se de um processo
adaptativo do ser humano, nem bom, nem ruim, apenas um fato adaptativo.
Estou usando a grelina como
exemplo, mas verdadeiramente existem muitos outros peptídeos do TGI (trato
gastrintestinal), liberados antes e após as refeições, que influenciam a
ingestão e a recusa de alimentos, tais como: colecistoquinina (CCK), peptídeo
similar ao glucagon (GLP-1), peptídeo YY (PYY), entre outros.
Regulação de LONGO PRAZO da ingestão alimentar
A regulação de longo prazo da
ingestão alimentar, por sua vez, depende dos estoques energéticos corporais, principalmente
a quantidade de gordura corporal armazenada no tecido adiposo.
É simples de compreender, veja
bem:
Quando os estoques energéticos
estão baixos (o que encontramos nas pessoas de baixo peso, magreza, desnutrição,
anorexia nervosa), nosso organismo “dispara” estímulos de sobrevivência para a
buscar alimentos (fome ou “hunger”) e preservar a energia armazenada
(especialmente triglicerídeos no tecido adiposo). Ao contrário, quando os
estoques de gordura corporal estão repletos (cheios), ocorre supressão da fome
(“saciety”).
Em suma, se você tem energia
armazenada (triglicerídeos em adipócitos) não tem motivos para buscar maior
ingestão alimentar. Porém, sabemos que as coisas não funcionam exatamente assim,
caso contrário não existir obesidade. Portanto, continue a leitura.
Balanço ENERGÉTICO
Ok! Não pense que estou
enrolando você, caro leitor, mas os conceitos acima são essenciais para evitar
“argumentos” distorcidos da realidade e, até mesmo, errôneos. Sendo assim,
vejamos mais esse conceito.
Se você comer mais e gastar menos, certamente, vai ganhar
peso. Quer dizer, está promovendo um balanço energético positivo
(BE+). Ao contrário, se você comer menos
e gastar mais, certamente, vai perder peso. Neste caso, estaria promovendo
o balanço energético positivo (BE-). E, se
você equilibrar seu consumo e gasto calórico, inevitavelmente, vai manter o
peso, promovendo o equilíbrio energético (EE). É, sem dúvidas, uma matemática
bastante simples.
Ahhh, mas existem alguns profissionais
que discordam, defendendo, portanto, o jejum prolongado, jejum intermitente, dieta
com baixo teor de carboidratos (low carb
diet), dieta com alto teor de proteínas e gorduras (dieta cetogênica),
dieta paleolítica (rica em proteína), entre outras. Bem, não quero entrar nessa
discussão (pelo menos não neste post), mas as pessoas podem estar confundindo “qualidade
alimentar” (que é questionável) com “restrição calórica” (que promove déficit calórico associado
a perda de peso). Não faça isso, pois você pode emagrecer com qualquer
estratégia nutricional, desde que ocorra um déficit de calorias através da
dieta. Isso é física, é termodinâmica. Como eu disse, podemos discutir a
qualidade (ou não) de sua dieta em outro post. Enfim, vamos continuar.
Entender a equação do equilíbrio
energético é bastante simples, como foi dito, porém aplicá-la no dia-a-dia, na
vida cotidiana, pode ser bem mais complexo, complicado. Por que? Primeiro, porque
existem muitas variáveis do consumo
energético, tais como: cardápio diário; cardápio do final de semana; ato de
beliscar entre as refeições; ingestão bebidas alcoólicas; e uso de suplementos nutricionais.
Você consegue controlar todas essas variáveis diariamente, que terá um reflexo
em seu peso semanalmente, mensalmente e, até mesmo, anualmente? Segundo, porque
existem muitas variáveis do gasto
energético, que são: taxa metabólica basal (TMB); termogênese da dieta (bastante
controversa, mas deixamos quieto neste momento); nível de atividade física; composição
corporal; e idade do indivíduo. Da mesma forma, consegue controlar todas essas variáveis
em seu paciente, caso seja nutricionista?
Neste sentido, não basta
“fechar a boca” para emagrecer, tão pouco “aumentar o treino” para manter ou
ganhar músculos, pois existem muitas variáveis envolvidas. Ao mesmo tempo,
quando emagrecemos, devido redução das calorias diárias/semanais, perdemos
tecido adiposo. Essa perda de gordura corporal tem implicações neuroendócrinas, que
devem ser contabilizadas. Mas, cuidado, a redução do peso corporal (emagrecimento)
depende do balanço energético negativo (“comer menos, gastar mais”), mas as
alterações neuroendócrinas não são irrelevantes nessa matemática.
Alterações NEUROENDÓCRINAS
Durante a perda de peso,
devido promoção do balanço energético negativo (“coma menos, gaste mais”),
também ocorre mobilização de ácidos graxos de tecido adiposo (lipólise) e,
consequentemente, oxidação de ácidos graxos para obtenção de energia
(beta-oxidação mitocondrial). Esse fato, como sabemos, é promovido por hormônios
contrarregulatórios (glucagon, cortisol e adrenalina, por exemplo).
Pois bem, a redução do
tecido adiposo branco (TAB) implica, por sua vez, na redução de hormônios
secretados pelos adipócitos, como a leptina.
Resumidamente, a leptina é secretada pelo TAB (mas, também, tecido adiposo marrom
e placenta), sendo responsável pela saciedade e, consequentemente, redução da
ingestão alimentar. Para tanto, leptina liga-se ao receptor de leptina (LEPR)
no hipotálamo, causando hiperpolarização dos neurônios NPY/AGRP (peptídeos
anorexígenos), o que também conduz a redução na liberação de GABA (ácido
gamma-aminobutírico). Só para lembrar: GABA é o principal neurotransmissor inibitório
do sistema nervoso central (SNC), enquanto que glutamato é o principal
excitatório. Enfim, na presença da sinalização promovida pela leptina, temos saciedade
(leptina é apelidado de “hormônio da saciedade”). Cabe destacar, ainda, que pacientes
obesos apresentam hiperleptinemia (excesso de leptina circulante em decorrência
da resistência hipotalâmica à leptina, seja por inflamação ou polimorfismo do
gene da leptina), apresentam descontrole da ingestão alimentar e,
consequentemente, ganho ponderal.
Novamente, usei leptina como
exemplo, mas existem outros hormônios secretados pelos adipócitos: resistina,
visfatina, adiponectina, entre outros.
AFINAL, DÉFICIT CALÓRICO FUNCIONA OU
NÃO?
Então, creio que agora podemos afirmar: restrição
calórica, que promove um déficit energético, funciona, sim, para redução do
peso corporal e da gordura corporal. Contudo, alguns pontos interessantes devem
ser falados.
Você tem animal de estimação em casa (cães e/ou
gatos, por exemplo)? Pois bem, os animais buscam alimentos porque tem fome (sensação
fisiológica, lembre-se). Entretanto e curiosamente, você já viu um cachorro ou
gato “gordo”? Pois é, parece que os animais estão convivendo demais com os
humanos e, dessa forma, adquirem alguns hábitos alimentares inadequados. Alguns
animais também estão comendo por prazer? Alguns animais possuem preferências
alimentares, deixando a ração padrão de lado por um pedaço de rosbife ou
bolacha recheada? Nós, seres humanos, comemos, mesmo sem fome (sensação fisiológica)
em comemoração com amigos, em conversa de negócios e, até mesmo, quando estamos
tristes, deprimidos, irritados, não é mesmo? Ao mesmo tempo, os animais,
tradicionalmente falando, interrompem a ingestão alimentar quando estão saciados.
Já observou seu cão deixando o resto de ração no prato, não consumindo tudo que
você colocou? Os animais, aliás, por vezes comem duas ou três vezes ao dia, mas
também passam um ou dois dias sem comer, curioso isso, não é mesmo? Já nós,
seres humanos, saímos do rodízio de pizza somente quando a barriga está
estourando, não é verdade? Por vezes, comemos uma barra de chocolate olhando
TV, mesmo sem fome, isso te parece familiar?
O que você quer dizer com isso, professor?
Buenas, estou dizendo que o ato de fome e saciedade
é muito mais complexo (e fascinante) que você ou EU poderia sonhar.
Embora a redução de calorias diárias seja necessária
para perder peso e, consequentemente, reduzir a gordura corporal; você não pode
simplesmente desconsiderar as alterações neuroendócrinas. Concordo quando dizem
que o déficit calórico pode ter algum impacto sobre o metabolismo, mas essa redução
metabólica não é suficiente para impedir a perda de peso (emagrecimento). Durante
o Holocausto, um verdadeiro genocídio de judeus cometido pelo lunático Hitler, milhões
de pessoas morreram de fome, ou seja, o déficit calórico não reduziu o metabolismo
ao ponto de conservar energia e bloquear a perda de peso. Este é um exemplo
triste, horroroso na história da humanidade, mas estou usando para afirmar que
a restrição calórica e o déficit calórico vão resultar, inevitavelmente, na
perda de peso e da gordura corporal. Como já dito, isso é física, é
termodinâmica. Embora a perda de gordura corporal implique em redução de
leptina (e aumento da grelina), como foi visto, a manutenção da restrição
calórica levará, inevitavelmente, a perda de peso. Claro, você pode pensar em aumentar
seu metabolismo, durante uma dieta de restrição calórica, com a prática do exercício
físico. Todavia, dieta de muito baixa caloria não permitem reposição adequada
de glicogênio hepático e muscular, nem mesmo ânimo e força, para manter o
esforço físico.
Obviamente, por fim, realizar e manter uma
dieta de restrição calórica não é uma tarefa fácil, mas isso não quer dizer que
não funcione. É óbvio, novamente, que existem muitas variáveis (estudadas na neurobiologia,
ciência do comportamento, psicologia, psiquiatria, etc.) envolvidas na adesão e
sucesso do tratamento dietoterápico, mas o déficit calórico resulta em perda de
peso e da massa gorda.
Por fim, o emagrecimento pode ser entendido
como a redução do peso corporal e da gordura corporal. Essa redução da gordura
corporal ocorre no tecido adiposo subcutâneo e visceral. Mas, cuidado: você não
vai “acelerar” seu metabolismo comendo de 3 em 3 horas, tão pouco “desacelerar”
seu metabolismo parando de comer, o que já seria assunto para outro “textão”.
Abraços!