HIV – AIDS: Parte 1
Aspectos históricos. Situação
global. Transmissão. Sintomas. Diagnóstico. Ciclo viral. Medicamentos. Perspectivas
futuras.
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina:
Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Recentemente foi noticiado que um indivíduo pode ter sido curado do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, Human Immunodeficiency Virus), o vírus responsável pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS, Adquired Immunodeficiency Syndrome), após transplante de célula-tronco. Outro caso já havia sido noticiado, onde um indivíduo se curou da AIDS após transplante de medula óssea. Com base nisso, pensei em fazer um “textão” sobre HIV/AIDS. Vamos lá, pegue sua água, chá, chimarrão ou café, pois será um “textão”. Aliás, será um “textão” em duas partes, sendo a “Parte 1” apresentada agora. Lembre-se: se gostou pode compartilhar, desde que citado a fonte: Prof. Joelso Peralta no Blog: https://peraltanutri.blogspot.com. Ahhh, siga-me nas redes sociais (FACE: Joelso Peralta; Instagram: @peraltanutri).
ASPECTOS
HISTÓRICOS
1884-1924 (Mundo)
Acredita-se que em algum lugar da África Central, entre 1884 e 1924, um
caçador de chimpanzé (e macaco verde africano) se contaminou com o sangue do animal,
contendo um vírus, provavelmente através de uma ferida aberta em seu corpo (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). No animal, o suposto
vírus não é letal, mas “pulou” (“jumping”) de chimpanzés (e macaco-verde
africano) para seres humanos e se espalhou (após mutação gênica) na região. Atualmente
sabe-se que os animais tinham, na realidade, o Vírus da Imunodeficiência Símia
(SIV), que sofreu mutação para o HIV (Vírus da Imunodeficiência Adquirida) (AIDS e sua origem.
Editorial. Revista de Saúde Pública 27(3): 1993;
https://doi.org/10.1590/S0034-89101993000300001). Enfim, é a “Teoria do Caçador”,
mundialmente aceita para explicar a origem do HIV/AIDS, desde que acrescida o
“pulo” (jumping) e mutações que o vírus sofreu com o passar do tempo, como se
fosse uma espécie de “seleção natural” para favorecer o vírus.
1959 (Mundo)
Em 1959, o HIV (não era chamado assim, como veremos) é encontrado em
amostra sanguínea de um homem africano da etnia Bandu, que viveu em
Leopoldville, que foi renomeada para Kinshasa (Quinxassa), e pertence a
República Democrática do Congo, na África Central. Os cientistas recriaram uma árvore
genealógica para o vírus e acreditam que uma cepa chegou aos EUA, via Haiti,
entre 1960 e 1969 (http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7068574.stm).
1978 (Mundo)
Homossexuais nos EUA e heterossexuais na Tanzânia e no Haiti começam a
apresentam sintomas da AIDS, relatado como inabilidade do sistema imune reagir
as infecções e doenças. A doença ainda não havia sido identificada.
1980-1981 (Mundo)
A doença foi detectada na África e EUA, ganhando repercussão de epidemia
em 1980 e 1981. Dessa forma, muitos acreditam que a doença começou nessa época,
mas na realidade foi denominada de epidemia, nos EUA, devido ao grande número
de casos e relatos de pacientes, adultos, do sexo masculino, homossexuais,
moradores de São Francisco e Nova York, que apresentavam sinais de debilidade
do sistema imunológico, deixando o indivíduo vulnerável as doenças oportunistas,
tais como: Sarcoma de Kaposi (SK) e pneumonia causada pelo Pneumocystis
carinii. Os hospitais, nos EUA, relataram 41 casos de pacientes jovens com
sarcoma de Kaposi, que é um câncer raro em pacientes jovens, se manifestando,
quase sempre, em idosos com
imunidade debilitada (25 Anos de AIDS. Revista
Superinteressante; https://super.abril.com.br/saude/25-anos-de-aids/). A doença desconhecida foi chamada (erroneamente e de
forma preconceituosa) de “câncer gay”. Em seguida, foi denominada (novamente
erroneamente) de “Gays Related Imuno
Deficience” (Imunodeficiência Relacionada aos Gays, GRID). Nos anos
seguintes, a doença se espalhou entre homens heterossexuais e mulheres, onde a
sigla GRID não tinha mais lógica para se manter.
04 de junho
de 1981 (Mundo)
O médico imunologista Michael Stuart Gottieb (nascido em 1947) e
colaboradores publicam, no boletim do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos
EUA, um relato de que uma nova doença estaria causando a falência do sistema
imunológico de pacientes. Gottieb e colaboradores identificaram que a condição
imunológica (imunodeficiência) favorecia a infecção por citomegalovírus,
pneumonia, candidíase e sarcoma de Kaposi (SK). Em 4 de junho de 1981, o CDC
relata que um câncer de pele incomum (sarcoma de Kaposi, SK) estava levando ao
óbito homens jovens, previamente saudáveis, em Nova York e na Califórnia. Em dezembro
de 1981, a New England Journal of
Medicine publica um estudo, do Dr. Gottieb e colaboradores, incluindo a
primeira descrição da deficiência de linfócitos T CD4+ na doença desconhecida.
Neste estudo, denominado “Pneumocystis carinii pneumonia e candidíase mucosa em
homens homossexuais previamente saudáveis: evidência de uma nova
imunodeficiência celular adquirida (Gottlieb MS et
al. Pneumocystis carinii Pneumonia
and Mucosal Candidiasis in Previously Healthy Homosexual Men -Evidence of a New
Acquired Cellular Immunodeficiency. Engl. J. Med. 305 (24): 1425-31, 1981; doi:
10.1056/NEJM198112103052401), quatro (04)
homossexuais previamente saudáveis contraíram Pneumocystis carinii (pneumonia), candidíase mucosa extensa e
múltiplas infecções virais. Destes, três (03) apresentaram febre prolongada de
origem desconhecida. O sarcoma de Kaposi (SK) se desenvolveu em um paciente. No
mesmo ano, um grupo de homossexuais de Nova York, liderados por Rodger Allen McFarlane
(1955-2009), inaugura um serviço de informações sobre a AIDS pelo telefone. O
ativista Roger McFarlane, líder do movimento pelos direitos dos homossexuais,
morreu aos 54 anos, onde relata-se ter sido suicídio (https://www.nytimes.com/2009/05/19/nyregion/19mcfarlane.html). No final de 1981, já haviam 337 casos de imunodeficiência
(deficiência imunológica) nos EUA e, destes, 130 evoluíram ao óbito (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
1982 (Brasil e Mundo)
A dermatologista paulista Valéria Petri, da Escola Paulista de Medicina,
identifica o primeiro caso de AIDS no Brasil (https://www.oexplorador.com.br/o-primeiro-caso-de-aids-no-brasil/). Em janeiro de 1982,
a comunidade científica certifica-se que o vírus (HIV) é transmitido por meio
do sangue e do contato sexual. A partir daí, surge a definição de grupos de
risco. Em junho do mesmo ano é registrado o primeiro caso de AIDS por meio de
transmissão de sangue em hemofílico sexual nos EUA. O Centro de Controle de
Doenças (CDC) dos EUA batiza a nova doença de AIDS (Aquired Immune
Deficiency Syndrome), comumente também chamada de SIDA (Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida) (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). Pesquisadores discordam
que AIDS teria surgido em Leopoldville, agora Kinshasa (África Central), em
1959, mas, sim, em Uganda, no leste da África, em 1976.
NOTA: Hemofilia é um distúrbio hereditário que afeta a coagulação do
sangue, ou seja, genes defeituosos não permitem a formação de algumas proteínas
da cascata de coagulação do sangue (fator VIII = hemofilia A, que corresponde a
80% dos casos; e fator IX = hemofilia B), resultando em hemorragias. Dessa
forma, a reposição destes fatores se dá pela transfusão de sangue, ou melhor,
pela substituição dos fatores de coagulação deficientes por fatores eficientes
(fatores de coagulação purificado do sangue do doador).
1983-1986 (Mundo)
Em 1983 o agente etimológico foi identificado: tratava-se de um
retrovírus humano (vírus de RNA), atualmente denominado Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV-1). Na época, contudo, foi denominado Vírus
Associado a Linfadenopatia (LAV). Também, no passado, foi denominado Vírus
T-linfotrópico Humano Tipo III (HTLV-III). Em 1986, foi identificado um segundo
agente etimológico, também retrovírus, estreitamente relacionado ao HIV-1,
denominado HIV-2. Embora as origens dos HIV-1 e HIV-2 sejam polêmicas e gerem discussões,
sabemos que as grandes famílias dos retrovírus estão presentes em primatas da África
sub-Sahariana e possuem estruturas genômicas semelhantes aos HIV-1 e HIV-2.
Todos, aliás, têm a capacidade de infectar linfócitos através de receptores CD4
de linfócitos (RCD4). O HIV-1, contudo, parece mais virulento do que o HIV-2. Numerosos
retrovírus de primatas não-humanos encontrados na África têm mostrado grande
similaridade com o HIV-1 e com o HIV-2. Como já dissemos, o Vírus da
Imunodeficiência Símia (SIV), presentes em chimpanzés e macacos-verdes
africanos, são semelhantes ao HIV-1/HIV-2. Dessa forma, acredita-se o vírus
“pulou” (“jumping”) de primatas para seres humanos, onde sofreu mutação gênica,
evoluindo para o HIV atualmente conhecido (AIDS e sua origem. Editorial.
Revista de Saúde Pública 27(3): 1993;
https://doi.org/10.1590/S0034-89101993000300001; Origem da epidemia de HIV.
Brasil Escola; https://brasilescola.uol.com.br/doencas/origem-epidemia-de-hiv.htm).
NOTA: Os linfócitos são células brancas (leucócitos), agranulócitos (sem
grânulos), que atuam na linha de defesa contra infecção viral ou surgimento de
tumores. Existem vários tipos de linfócitos, onde se destacam os linfócitos B e
linfócitos T. Os linfócitos B são responsáveis pela produção de anticorpos. Os
linfócitos T podem ser classificados em linfócitos T-auxiliares (também
chamados de CD4+) e linfócitos T-citotóxicos (também chamados de CD8+). Os
linfócitos CD4+ coordenam a resposta imunológica do organismo e estimulam as
ações dos linfócitos B, enquanto que os linfócitos CD8+ reconhecem patógenos
através de receptores específicos e destroem células infectadas (induzem a
apoptose, que seria a “morte celular programada”). Os linfócitos B e T fazem
parte da Imunidade Adquirida ou Adaptativa. Os demais leucócitos (monócitos,
neutrófilos, eosinófilos e basófilos) participam da Imunidade Inata ou Natural.
01 de
fevereiro de 1983 (Mundo)
A equipe do Instituto Pasteur, na França, chefiada por Luc Montaigner
(1932-2022) e Françoise Barre-Sinoussi (nascida em 1947, hoje com 75 anos),
identificam o vírus causador da doença, batizando-o de Vírus Associado a Linfadenopatia
(LAV). Os pesquisadores isolaram o vírus do gânglio linfático de um paciente,
um jovem homossexual francês com AIDS, que apresentava ínguas pelo corpo. Todavia,
o pesquisador americano Robert Gallo, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, foi
quem primeiro publicou a descoberta do vírus, chamando-o de vírus T-linfotrópico
humano tipo III (HTLV-III), ou seja, pertencente à família de vírus que atacam
o sistema imunológico, particularmente os linfócitos T (https://drauziovarella.uol.com.br/infectologia/a-descoberta-do-virus-da-aids-artigo/). Quer dizer, antes
de ser conhecido como HIV, o vírus foi chamado de LAV (Vírus Associado a Linfadenopatia)
e, até mesmo, de HTLV-III (Vírus T-linfotrópico Humano Tipo III).
NOTA: Hoje sabe-se que HTLV e HIV, embora sejam retrovírus (vírus de
RNA), não são iguais. HTLV, que também é transmitido por relação sexual
desprotegida ou sangue contaminado (transfusão e compartilhamento de seringas e
agulhas), não causa AIDS. O HTLV-I está associado as doenças neurológicas e
degenerativas (paraparesia espástica tropical) e hematológicas, incluindo a
leucemia e o linfoma de células T humana do adulto (ATL). O HTLV-II não é
completamente entendido, mas sugere-se que HTLV-I invade linfócitos T CD4+ e
HTLV-II invade linfócitos T CD8+. Enfim, o termo HTLV-III foi substituído por
HIV, onde o termo “oficial” foi consolidado somente em 1986.
04 de junho
de 1983 (Brasil)
Morre, em Nova York, aos 31 anos, por complicações da AIDS, o estilista
e figurinista mineiro Markito (Marcus Vinícius Resende Gonçalves, 1952-1983), conhecido
como o “costureiro das atrizes de televisão e socialites”. Ele foi a
primeira pessoa pública brasileira a falecer por causa da doença, o que gerou
grande repercussão e medo. O dermatologista Paulo Roberto Teixeira inaugura o
primeiro programa de prevenção à AIDS como parte do Instituto de Saúde da
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (https://www.douradosnews.com.br/dourados/doutor-paulo-roberto-teixeira-e-personalidade-do-dourados-news-80ac0e2/215387/). Ao mesmo tempo, as
mulheres começam a apresentar AIDS, conferindo que a doença não se limitado aos
homens homossexuais (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). Cresce a
preocupação: o HIV pode passar para a criança durante a gravidez ou logo após o
parto? O HIV pode passar de pessoa-pessoa em atividades domésticas de contato
diário?
25 de junho de 1984
O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) morre aos 58 anos, em
Paris, em consequência da AIDS. Em outubro, o laboratório americano Abbot
começa a testar o primeiro teste sorológico para detectar a presença do vírus
no organismo, o Eliza (Enzima Imuno Ensaio). Pesquisadores americanos
consideram o comissário de bordo canadense Gaetan Dugas (1952-1984), falecido
aos 34 anos, o “paciente zero da AIDS”, cujo alegação foi desconsiderada e
considerada incorreta em 2016 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ga%C3%ABtan_Dugas).
1984 (Brasil)
A travesti Brenda Lee (Cícero Caetano Leonardo, 1948-1996) passa a
frequentar os corredores do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, exigindo um
tratamento digno para os doentes de AIDS. Neste ano, foi criada a “Casa de
Apoio Brenda Lee”, instituição particular para doentes de AIDS. Em 28 de maio
de 1996, aos 52 anos, Brenda Lee foi brutalmente assassinada, com um tiro na
boca e outro no peito, e teve seu corpo abandonado em um terreno baldio. Entre
1984 e 1985, o Brasil (e outros países) viveram uma espécie de “Histeria da
AIDS”, inclusive com perseguição e morte de gays e pessoas contaminas pelo HIV
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Brenda_Lee).
NOTA: Travesti se vestem com roupas femininas, tem desejo pelo sexo
oposto, mas mantém o órgão genital masculino. Já transexual nascem homem, mas não
se sentem como tal e, portanto, realizam a cirurgia de mudança de sexo.
1985 (Brasil)
Morre o ator norte-americano Rock Hudson (1925-1985), considerado um
galã dos anos 1950 e 1960. Segundo seus colegas, contudo, a homossexualidade de
Hudson era conhecida em Hollywood. Sua morte por AIDS causou grande
repercussão, especialmente porque Hudson deixou uma certa fortuna para a
financiar as pesquisas relacionadas à AIDS através da Fundação Americana para a
Pesquisa da Aids (amfAR) (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
1987 (Brasil)
Os pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, no Brasil, isolaram o HIV pela
primeira vez. Ao mesmo tempo, o medicamento Zidovudina (AZT), usado
inicialmente no câncer, é usado para o tratamento da AIDS (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
NOTA: Zidovudina (AZT), sintetizado em 1964, foi a primeira droga
aprovada para o tratamento da infecção do HIV/AIDS. Inicialmente, AZT foi elaborado
para o tratamento do câncer, mas em 1974 havia indícios de seu uso antiviral,
devido experimentos in vitro com cultura de retrovírus de ratos. Em 1987, a FDA
(Food and Drug Administration),
agência reguladora dos EUA, aprova o AZT para uso no HIV/AIDS (https://pt.wikipedia.org/wiki/Zidovudina).
1988 (Mundo)
Food and Drug
Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, libera o uso de algumas drogas,
ainda em fase de estudos clínicos, para tratamento de pessoa com AIDS. Ao mesmo
tempo, cientistas descobrem que o vírus (HIV) circula no sangue, atacando e reduzindo
a imunidade, muito antes do aparecimento dos sintomas da AIDS. O tratamento,
portanto, se baseiam em manter a contagem dos linfócitos T circulantes. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece 1º de dezembro como o Dia Mundial
de Combate à AIDS, celebrada anualmente desde 1988 (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
09 de julho de 1990 (Brasil)
Morre aos 32 anos, no Rio de Janeiro, no dia 07 de julho de 1990, o
cantor, compositor e poeta brasileiro Cazuza (Agenor de Miranda Araújo Neto,
1958-1990), vítima da AIDS (https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/morre-o-cantor-e-compositor-cazuza).
NOTA: Cazuza, junto com a banda Barão Vermelho, deixou músicas
inesquecíveis no cenário musical: “Todo Amor que Houver Nessa Vida”; “Pro Dia
Nascer Feliz”; “Maior Abandonado”; “Bete Balanço”; e “Bilhetinho Azul”. Na sua carreira
solo, deixou outras tantas músicas imortais: “Exagerado”; “Codinome Beija-Flor”;
“Ideologia”; “Brasil”; “Faz Parte do meu Show”; “O Tempo não Para”; e “O Nosso
Amor a Gente Inventa”.
1991-1992 (Mundo e Brasil)
O laço vermelho torna-se um símbolo da consciência sobre a AIDS. O
atleta de basquetebol, estrela do Los Angeles Lakers, Earvin “Magic” Johnson
anuncia que é portador do vírus do HIV, bem como anuncia sua aposentadoria
imediata. Sua esposa e filho testaram negativo para HIV. Magic Johnson relatou
que iria combater a “doença mortal” e criou o Magic Johnson Foundation. O
ex-atleta dizia que as pessoas heterossexuais também estavam em risco. Em 24 de
novembro de 1991 morre o cantor, pianista e compositor Freddie Mercury
(1946-1991), da banda Queen, aos 45 anos, outra vítima da AIDS (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
Surgem
os primeiros testes rápidos para detectar o HIV, enquanto que no Brasil, AZT (zidovudina
ou azidotimidina) é usado no Sistema Único de Saúde (SUS).
1993-1994 (Mundo e Brasil)
O Presidente Bill Clinton (William Jefferson "Bill"
Clinton, nascido em 1946, atualmente com 76 anos) lança o Escritório de
Política Nacional de AIDS da Casa Branca (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). As propagandas
anunciam o uso de preservativos (camisinhas descartáveis de látex) como forma
de prevenção da transmissão do HIV. Com isso, também se evita as doenças
sexualmente transmissíveis (DST). O AZT (zidovudina ou azidotimidina) começa a
ser produzido no Brasil.
NOTA: Algumas pessoas eram resistentes ao uso de camisinha, na época, alegando
ser um “limitador da qualidade do ato sexual”. Essa teoria fantasiosa foi
vencida pela educação sexual e preocupação em não se contaminar com HIV. Aliás,
cabe uma dica de filme: o ator Tom Hanks interpretando Andrew Beckett, no filme
Filadélfia, de 1993. O filme é fantástico, onde Andrew Beckett é um promissor
advogado, que trabalha em um escritório na Filadélfia, quando descobre ser portador
do vírus (HIV). A partir daí, Andrew é demitido da empresa e contrata os
serviços do advogado Joe Miller (interpretado pelo ator Denzel Washington), que
se mostra inicialmente homofóbico e/ou preconceituoso. Durante o julgamento e
desenrolar do filme, Joe Miller (o advogado) enfrenta seus próprios medos e
preconceitos e, peraí, assistam ao filme.
1996-1997 (Mundo e Brasil)
A ciência avançou no estudo do HIV/AIDS, onde surgem os primeiros
coquetéis (AZT, zidovudina + Didanosina, ambos inibidores da transcriptase
reversa, TR). O coquetel foi capaz de reduzir a taxa viral para níveis quase
indetectáveis no sangue, reduzindo em 40% as mortes por HIV/AIDS (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). As terapias
antirretrovirais (ARV) prometiam reduzir as cargas virais do HIV para níveis
indetectáveis, eliminando o vírus do corpo. Essa hipótese para os ARV não
estava completamente correta, pois descobriu-se que o vírus se “escondia” ou
ficava “dormente” em células do sistema imune e sistema linfático. Em 09 de
agosto de 1997 morre, aos 62 anos, o sociólogo brasileiro Herbert de Souza
(1935-1997), mais conhecido como Betinho. Betinho foi acometido pelo HIV após
uma transfusão de sangue.
1998-2000 (Mundo)
Os antirretrovirais (ARV),
medicamentos utilizados para o tratamento de infecções causadas por retrovírus,
especialmente HIV/AIDS ganham força, mas o relato de efeitos colaterais, alguns
graves, também são documentados. Os pesquisadores confirmam: essas drogas não
curam a AIDS. Surgem, também, os ARV capazes de inibidores de protease do
vírus, além dos ARV tradicionalmente inibidores da transcriptase reversa (TR).
NOTA: O Dogma Central da Biologia Molecular, proposto com Francis Crick
em 1958, diz: “O DNA dirige a sua própria replicação e sua transcrição para
produzir RNA, o qual dirige a sua tradução para formação de proteínas”. Em
outras palavras, nosso DNA (ácido desoxirribonucleico) pode se replicar numa
reação catalisada pela DNA polimerase para dar origem a novas moléculas de DNA
e pode ser transcrito para RNA (ácido ribonucleico) pela RNA polimerase, isto
é, ocorre transferência de informações codificadas do DNA ao RNA. O RNA, por
sua vez, traduz o código genético em proteínas específicas. Neste sentido, a
transcrição gênica é um processo nuclear (onde as informações do DNA são
repassadas ao RNA) e a tradução gênica é um processo citoplasmático (onde as
informações do RNA dão origem as proteínas específicas recém-sintetizadas). O
processo dessa reação pode ser resumido: DNA >>> RNA >>>
proteínas. Todavia, os retrovírus (vírus de RNA) possuem uma enzima chamada
transcriptase reversa (TR), que consegue realizar a transcrição inversa da
reação mencionada, ou seja, produzindo DNA a partir de RNA. Esse é um mecanismo
fascinante, porém igualmente preocupante, pois o RNA viral consegue ser usado
de molde para a fabricação do DNA em nossas células, permitindo a reproduzir e
multiplicação do vírus HIV, por exemplo. Neste sentido, muitos antirretrovirais
buscam, justamente, inibir a transcriptase reversa (TR), enzima presente em
retrovírus e não em seres humanos.
2001-2002 (Mundo)
A AIDS se torna a principal causa
de morte em todo o mundo, o que foi anunciado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
2003 (Mundo)
O Presidente George Walker Bush
ou, simplesmente, Bush, anuncia o Plano de Emergência do Presidente, destinando
bilhões de dólares para o tratamento da AIDS (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
2006-2007 (Mundo)
O alto investimento para o tratamento da AIDS surtiu efeitos positivos,
pois as pessoas que conviviam com HIV/AIDS relatavam maior qualidade de vida e
expectativa de vida (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). Surgem algumas pesquisas no sentido de combater a AIDS através da
criação de vacinas. Em 2006, Timothy Ray Brown, conhecido como “Paciente de
Berlim”, é considerado a primeira pessoa a ser “curada” da infecção do HIV/AIDS
no mundo. Timothy, que tinha HIV, também teve o diagnóstico de leucemia. De
maneira inédita, Timothy recebeu um transplante de um paciente com resistência
natural ao HIV, em 207, onde o vírus (HIV) sumiu, enquanto que a leucemia
permaneceu (https://www.cnnbrasil.com.br/saude/paciente-de-berlim-primeiro-homem-curado-do-hiv-enfrenta-cancer-terminal/). Em julho de 2012, Timothy fundou a Fundação Timothy Ray Brown, em
Washington, para combate ao HIV/AIDS e faleceu em 29 de setembro de 2020 (aos 54
anos), devido complicações da leucemia (https://en.wikipedia.org/wiki/Timothy_Ray_Brown).
NOTA: Leucemia é um tipo de câncer, “doenças dos glóbulos brancos” ou
“câncer de leucócitos”, onde ocorre acúmulo de células imunes doentes na medula
óssea e no sangue. Os valores normais de leucócitos oscilam entre 4.000 e
11.000 células/mL, enquanto que na leucemia podem atingir 50.000 células/mL ou
mais. O número aumentado de leucócitos chama-se leucocitose.
2008 (Mundo)
O CDC, dos EUA, relatou que o HIV estava altamente difundido na América
(1,1 milhão de infectados), ou seja, observou-se um aumento de 11% em relação
aos 5 anos anteriores. Neste ano, Luc Montagnier e Françoise Barre-Sinoussi
(mencionados anteriormente) finalmente ganharam o Prêmio Nobel de Medicina pela
descoberta do HIV (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
2012-2013 (Mundo e Brasil)
FDA (Food and Drug Administration)
aprova o uso de Tenofovir/Entricitabina como profilaxia pré-exposição ao HIV
(PrEP), que são associações de medicamentos para o tratamento e prevenção do HIV,
cujo objetivo é prevenir novas infeções em pessoas de alto risco. A PrEP
prometia reduzir o risco de contrair o HIV, pela relação sexual, em cerca de
99%; e reduzir o risco de contrair as injeções em cerca de 74% (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). A Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), do Brasil, libera o uso do Truvada
(combinação de Tenofovir + Entricitabina) para profilaxia do HIV/AIDS. CDC, dos
EUA, define que pessoas com “Carga Viral Indetectável” não transmite o HIV.
NOTA: A carga viral é um exame que mede a quantidade de vírus presente
em um certo volume de sangue. Neste sentido, quanto maior o valor da carga
viral, maior é a quantidade de vírus (HIV). O exame de carga viral, portanto, é
fundamental para avaliar a adesão e a eficiência do tratamento antirretroviral
(ARV). Em março de 2013, o primeiro caso bem documentado de uma criança
infectada pelo HIV que parece estar curada do HIV se torna público, embora
pesquisadores alertam para análises de longa data para confirmação (https://br.rbth.com/ciencia/2013/03/04/cura_de_crianca_com_hiv_requer_anos_de_analise_dizem_medicos_17923). Esse assunto foi
explorado em outra matéria, onde a criança – apelidada de “O Bebê do
Mississipi” –, filho de uma mãe HIV soropositivo, não mostrou sinais de
contaminação pelo HIV. Para tanto, o tratamento antirretroviral (ARV) começou
logo ao nascer (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective). Alguns anos depois
(cerca de 2 anos, embora a informação é controversa), o vírus retornou na
criança, que havia mudado de estado e equipe médica, mostrando que o HIV pode
se comportar diferentes entre bebês, crianças, adultos e idosos.
2016-2017 (Mundo e Brasil)
Em 2016, o CDC, dos EUA, atualiza as recomendações de tratamento para
profilaxia pós-exposição ao HIV e fortalece os conceitos de grupo de risco.
Novos e promissores medicamentos surgem. Em 2017, a Fundação Bill e Melinda
Gates investe pesado para o desenvolvimento de um implante, que poderiam
fornecer de forma constante os medicamentos PrEP (profilaxia pré-exposição ao
HIV) para pessoas com HIV (https://www.webmd.com/hiv-aids/ss/slideshow-aids-retrospective).
2019 (Mundo)
Em 2019, um
doador HIV soropositivo consegue doar um rim para um receptor HIV soropositivo
nos Estados Unidos. Nina Martinez, 35 anos, tornou-se a primeira pessoa com HIV
a doar um órgão (receptor não teve sua identidade divulgada), o que ocorreu no Johns Hopkins Hospital,
em Maryland, Estados Unidos (https://www.virgula.com.br/saude/conheca-nina-martinez-a-primeira-doadora-de-orgaos-viva-com-hiv/). Este fato tira todo
um estigma sobre os pacientes com HIV, ou seja, a doença não é mais uma
“sentença de morte” e muitas pessoas com HIV vivem normalmente por longos anos.
Martinez e o receptor anônimo mantém os medicamentos ARV, bem como monitoram as
condições de saúde.
2020 (Mundo)
Em 2020, um homem, conhecido como “Paciente de Londres”, é anunciado
como o 2º caso de “cura” da AIDS. O paciente foi “curado” da doença após
receber um transplante de medula óssea de um homem que possuía uma mutação
genética, tornando-o resistente ao vírus (https://super.abril.com.br/ciencia/quem-e-o-segundo-paciente-curado-de-infeccao-por-hiv/).
2021-2022 (Mundo)
Em 2022, uma mulher com HIV recebeu um transplante de células-tronco e
noticiários dizem que é o 3º caso de remissão da AIDS. Quer dizer, a mulher não
apresentou níveis detectáveis do vírus nos últimos 14 meses, embora mantenha a
terapia antirretroviral (TARV) (https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2022/02/cientistas-relatam-3-caso-de-remissao-do-hiv-com-celulas-tronco.html). Também em 2022, um paciente
de 66 anos, diagnosticado com HIV, foi considerado curado após receber
transplante com células-tronco para tratar leucemia. Quer dizer, o paciente
recebeu transplante para curar a leucemia, mas curiosamente acabou se curando
da AIDS. O paciente mantinha, por mais de 30 anos, a terapia antirretroviral
(ARV). Os pesquisadores, contudo, pedem cautela em usar o termo “cura da AIDS”,
pois os pacientes precisam ser monitorados. De qualquer forma, o paciente está
17 meses com carga viral indetectável. Este é considerado o 4º caso de “cura”
da AIDS (https://veja.abril.com.br/saude/medicos-anunciam-novo-caso-de-cura-da-aids/).
NOTA: Relembrando, os quatro casos de “cura” da AIDS foram: 2006 –
“Paciente de Berlim” (Timothy Ray Brown); 2020 – “Paciente de Londres”
(identidade divulgada posteriormente: Adam Castillejo); 2022 – Mulher que
recebeu transplante de células-tronco (nome não divulgado); e 2022 – Home que
recebeu transplante com células-tronco (nome não divulgado). Ainda em 2022,
recentemente, foi divulgado uma quinta pessoa curada da AIDS, conhecida como “Paciente
do City of Hope” (nome não divulgado), na Califórnia, EUA. O paciente teria
recebido um transplante de medula óssea.
SITUAÇÃO
GLOBAL
Atualmente, 38,4 milhões de
pessoas estão vivendo com o HIV, o vírus causador da AIDS, segundo dados
estatísticos do Relatório Global 2022 do UNAIDS (https://unaids.org.br/estatisticas/). Calcula-se
que 36,7 milhões são pessoas adultas e 1,7 milhões são crianças. Ainda, 54% de
todas as pessoas vivendo com HIV são mulheres e meninas. Além disso, 1,5 milhão
de pessoas se tornaram recém-infectadas pelo HIV em 2021, onde 650 mil pessoas
morreram por doenças relacionadas à AIDS no mesmo ano. O pico de infeção parece
ter ocorrido em 1996, onde foram 32 milhões de pessoas recém-infectadas. Estima-se
que 85% de todas as pessoas vivendo com HIV sabiam de sua contaminação, mas 5,9
milhões de pessoas não sabiam que viviam com o HIV em 2021. Por fim, segundo UNAIDS,
US$ 21,4 bilhões estavam disponíveis para a resposta contra a AIDS em países de
baixa e média rendas, mas estima-se que são necessários US$ 29 bilhões até
2025. Portanto, precisamos, SIM, continuar falando de HIV/AIDS.