QUAL DIFERENÇA ENTRE COMPULSÃO ALIMENTAR E FOOD CRAVING?
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina: Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Estava saindo de minha pesquisa de doutorado, que é um estudo randomizado duplo-cego, intitulado “Efeitos da Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (rEMT) sobre os sinais subjetivos de fome e saciedade na obesidade”, e pensei após algumas entrevistas:
Os pacientes sabem as diferenças entre Compulsão
Alimentar Periódica (Binge Eating,
BES) e Desejo Alimentar (Food Craving)?
Quer dizer, observei pacientes relatando “tenho compulsão alimentar”,
mas durante a entrevista exibem “desejos” por determinados alimentos (doces ou salgados,
por exemplo). Já outros pacientes dizem “tenho desejo por doces”, mas na realidade
exibem “compulsão” por comida, beirando ao exagero completo. Portanto, essa
matéria pretende elucidar BES e food craving.
Compulsão Alimentar Periódica?
Em primeiro lugar, o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódico (TCAP)
não é a mesma coisa que a Compulsão Alimentar Periódica (CAP, também referido
como Binge Eating, BES).
COMO ASSIM?
KEEP CALM (mantenha a calma) e continue a leitura. O Transtorno da
Compulsão Alimentar Periódico (TCAP) é uma doença, devidamente categorizada no Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). Aliás, minha pesquisa
de doutorado envolve pacientes obesos e a frequência de TCAP, segundo a literatura,
ocorre em 30% dos pacientes com obesidade. Todavia, muitas pessoas, incluindo algumas
pessoas com sobrepeso e obesidade, possuem compulsão alimentar periódica (CAP)
e não TCAP.
CONFUSO? PERAÍ.
Os conceitos são semelhantes, mas existem diferenças sutis. CAP (BES) é
caracterizada pelo consumo exagerados de alimentos em um curto intervalo de
tempo (até 2 horas), seguido pelo sentimento de culpa e perda de controle sobre
o que ou quanto se come. Muitas pessoas podem exibir esse comportamento de
forma eventual, ou seja, qualquer pessoa pode ter um ou mais episódios de CAP. Talvez
você teve um episódio de CAP no ano passado. Talvez você teve um episódio dentro
de 60 ou 90 dias. Esses episódios ocorrem em pessoas eutróficas, com sobrepeso
ou com obesidade, quer dizer, qualquer pessoa pode ter CAP. Entretanto, se
esses episódios ocorrem com frequência, por exemplo, pelo menos uma (01) vez
por semana, durante três (03) meses consecutivos, então o paciente possui TCAP,
que é uma doença, descrita no DSM-V.
VOCÊ SABIA DESSA DIFERENÇA?
Com base nisso, a baixa adesão ao tratamento dietético ou dietoterápico pode
ser decorrência do CAP ou TCAP, o que precisa ser criteriosamente investigado. Existem
algumas ferramentas para avaliar CAP (realizado por qualquer profissional de
saúde) e TCAP (realizado pelo médico, geralmente psicólogo ou psiquiatra). Por exemplo,
para avaliar CAP podemos usar a Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP),
também chamada de Binge Eating Scale
(BES), proposta por Gorally J. et al. (1982) e validada e traduzida para a
língua portuguesa por Silva Freitas et al. (Tradução e adaptação para o
português da Escala de Compulsão Alimentar Periódica. Revista Brasileira de Psiquiatria
23(4): 215-20, 2001).
O ECAP é um questionário, que pode ser autoaplicável, composto por 16 perguntas
e 62 afirmativas. Destas, 8 itens referem-se as manifestações comportamentais e
8 itens descrevem sentimentos e cognições. Resumidamente, cada afirmativa
possui um critério de pontuação, que permite avaliar o grau de compulsão
alimentar. Claro, a doença (TCAP) deve ser avaliada pelo clínico (médico psiquiatra),
ou seja, a escala CAP não substitui o diagnóstico médico.
Food Craving (desejo alimentar)?
Agora que você entendeu a diferença entre CAP e TCAP, vamos elucidar
outro conceito: food craving (craving
alimentar ou desejo alimentar). Food craving é o desejo por determinados alimentos,
geralmente hiperpalatáveis. Muitos pacientes relatam uma vontade instantânea,
persistente e, até mesmo, incontrolável de ingerir um alimento em particular
(doce, salgado, saboroso, açucarado, gorduroso). Neste sentido, muitos pacientes
com obesidade, que é o foco de minha pesquisa, apresentam “desejo por
determinados alimentos” e, mesmo comendo este em excesso, não caracteriza CAP
ou TCAP.
O desejo de comer tem muitas origens, onde se discute fortemente o “comer
hedônico”, que podemos traduzir como um “comer emocional”.
COMER EMOCIONAL, COMO ASSIM?
Pessoal, isso é muito comum, especialmente em nossa sociedade conectado à
internet e com a “bunda quadrada” de trabalhos em home office. Deixa-me explicar melhor:
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão estressadas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão ansiosas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão depressivas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão emotivas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando acabam relacionamentos
amorosos;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando começam
relacionamentos amorosos;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando são demitidas,
desempregas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando conseguem um emprego
novo;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão felizes;
Algumas pessoas comem determinados alimentos quando estão irritadas;
Algumas pessoas comem determinados alimentos (...);
Algumas pessoas comem (...);
Algumas pessoas (...);
Algumas (...).
Quer dizer, a lista do “comer emocional” pode ser GIGANTE, pois os seres
humanos verdadeiramente buscam e ingerem alimentos por mecanismos de recompensa
e prazer (NOTA: existem explicações neurobioquímicas neste processo, mas que
deixarei para outra matéria).
O fato é que (...):
Algumas pessoas comem doces e alimentos ricos em açúcares: bolachas,
biscoitos, chocolates, sorvetes, bolos, sobremesas em geral;
Algumas pessoas comem alimentos salgados e ricos em gordura: batatas fritas,
hambúrgueres, salgadinhos, folhados de padaria, entre outros.
O fato é que (...):
Uma grande parte destes alimentos não passam de escolhas ruins, ou seja,
fast food (“comida rápida”) e junk foods (“comida lixo”).
Qual resultado das péssimas escolhas?
O resultado das péssimas escolhas não poderia ser diferente: dietas
altamente calóricas que favorecem o sobrepeso e obesidade; dietas pobres em
fibras, vitaminas, minerais, fitoquímicos e antioxidantes, que favorecem a
instalação e progressão da doença.
BAHHH, e existe uma solução?
Claro, sempre existe uma saída, existe uma solução! Para tanto, você
deve procurar um profissional de saúde, devidamente capacitado, experiente em
atender e tratar pessoas com compulsão alimentar e desejo alimentar.
LEMBRE-SE:
Se
gostou pode compartilhar, desde que citado a fonte: Prof. Nutricionista Joelso Peralta no Blog: https://peraltanutri.blogspot.com.
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