quinta-feira, 8 de setembro de 2022

VOCÊ SABE ESCREVER UM ARTIGO CIENTÍFICO? (Parte 1)

 

VOCÊ SABE ESCREVER UM ARTIGO CIENTÍFICO?

(Parte 1)

 

JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina: Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.

 


Olá pessoal, tudo bem? Estou com dois projetos em mente, sendo que um deles é montar um “Programa de Mentoria Acadêmica e Escrita Científica”, ou seja, uma mentoria acadêmica a fim de auxiliar e, verdadeiramente, alavancar sua carreira profissional. Em breve, passarei maiores detalhes. No momento, contudo, quero exemplificar um dos itens dessa mentoria, referente aos procedimentos para escrever um artigo científico, que pode ser útil no desenvolvimento e publicação de seu trabalho de conclusão de curso (TCC), sua dissertação de mestrado e, até mesmo, sua tese de doutorado. Claro, já passei por todo esse processo, além de ter sido professor de graduação e pós-graduação nos últimos 14 anos. Neste período, orientei 60 TCCs que seguiam as características da escrita científica. Em outras palavras, você poderia aprender com seus próprios erros, mas isso seria cansativo, demorado, irritante. Então, não seria melhor aprender com quem já errou e passou por situações similares, ou melhor, aprender com quem já passou por tudo isso e pode auxiliar, facilitar, simplificar, enfim, descomplicar sua vida acadêmica e profissional? Neste sentido, elaborei um Artigo Científico Fake, ou seja, um artigo científico falso, que não foi realizado, que não foi revisado, que não foi publicado. O objetivo é mostrar alguns passos da construção de um artigo científico. Então, vamos lá?

 

TUDO COMEÇA POR UM BOM TÍTULO

O título de seu artigo científico é peça fundamental para prender a atenção do leitor e público-alvo e, dessa forma, ele precisa ser FORTE, CLARO E CURTO. “Forte” porque precisa, obviamente, atrair a atenção do leitor. Ninguém vai querer ler, durante a busca por estudos científicos, um título demasiadamente grande e confuso. Portanto, em nosso Artigo Científico Fake, que é direcionado aos estudantes e profissionais das áreas de saúde, “inventei” o seguinte título: “Efeito antinociceptivo e analgésico do dibenzalacetona em modelo de dor crônica em ratos Wistar”. Dibenzalacetona é um análogo sintético da curcumina que, por sua vez, é um polifenol encontrado no açafrão da Índia (Curcuma longa). Com base nisso, seguem algumas dicas:

Primeiro, aconselha-se não usar abreviaturas no título, embora dibenzalacetona seria melhor pronunciado com a sigla DBA. Por outro lado, você encontrará estudos com abreviaturas no título. Sendo assim, é importante observar se existem regras predeterminadas na revista que se pretende publicar. De qualquer forma, minha dica seria: coerência. Não vejo problemas em uma ou outra sigla (desde que conhecida na literatura e/ou que possa facilitar a leitura), mas todo excesso de abreviaturas deve ser evitado.

Segundo, nosso título Fake é CLARO, CONCISO, CONCRETO e, portanto, CURTO. Em outras palavras, o título deve expressar o conteúdo do artigo científico de forma SUCINTA, BREVE, RESUMIDA.

Terceiro, seu título deve se diferenciar de outros títulos já publicados, evitando o plágio. Para tanto, faça uma pesquisa do Google, veja se existem títulos iguais ou similares. Em seguida, faça uma pesquisa em alguns bancos de dados: Scielo, Lilacs, PubMed, etc. Por exemplo, coloque seu título no PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov), passando para a língua estrangeira, geralmente inglês. Em nosso exemplo ficaria: “Antinociceptive and analgesic effect of dibenzalacetone in chronic pain model in Wistar rats”. Se não encontrou nada (e não encontrei), então podem continuar.  

E, quarto, vou lhe dar uma dica importante para elaboração do título de seu artigo científico, que poderá aplicar em seu TCC, dissertação de mestrado ou tese de doutorado. Essa dica aprendi em uma disciplina do doutorado, justamente sobre elaboração de artigo científico. Quer dizer, faça mentalmente a seguinte pergunta: QUEM FAZ O QUÊ EM QUEM? É estranho, não? Calma, é uma ótima dica, vejam só:

 

QUEM? Dibenzalacetona.

FAZ O QUÊ? Promove um efeito antinociceptivo e analgésico.

EM QUEM? Ratos Wistar.

 

Perceberam, agora, como tudo fica mais fácil?

 

TODOS OS AUTORES SÃO IMPORTANTES

Após elaborar o título de seu artigo científico (que não será definitivo, pois poderá adaptá-lo futuramente), precisa identificar todos os autores/coautores/participantes/pesquisadores/orientadores do presente trabalho. Neste exemplo de Artigo Científico Fake, obviamente, temos apenas um autor: EU. Mas, vou “inventar” mais três pesquisadores para exemplificar a construção de nosso artigo. Sendo assim, seguem algumas dicas:

O primeiro indivíduo é o autor principal do estudo. Os demais indivíduos participaram e contribuíram para a elaboração do mesmo, portanto, são coautores. Todos os envolvidos merecem ser citados. Todos os indivíduos são importantes e, portanto, devem ser valorizados. Por isso, vemos alguns estudos publicados com inúmeros autores, pois todos tiveram (alguns mais, outros menos) participação da elaboração do paper (pequeno artigo científico, que apresenta um determinado assunto ou temática). O último indivíduo (autor) é orientador ou financiador do estudo, geralmente chefe do departamento ou laboratório.

Vejam, por exemplo, essa publicação na Atherosclerosis, em 2007, que participei ativamente:

 

Paulo Ivo Homem de Bittencourt Jr.; Denise J. Lagranha; Alexandre Maslinkiewicz; Sueli M. Senna; Angela M.V. Tavares; Lisiane P. Baldissera; Daiane R. Janner; Joelso dos Santos Peralta; Patrícia M. Bock; Lucila L.P. Gutierrez; Gustavo Scola; Thiago G. Heck; Maurício S. Krause; Lavínia A. Cruz; Dulcinéia S.P. Abdall; Cláudia J. Lagranha; Thais Lima; Rui Curi. LipoCardium: Endothelium-directed cyclopentenone prostaglandina based lipossome formulation that competely reverse atherosclerotic lesions. Atherosclerosis (Amsterdam), 1: 245-258, 2007.

Como pode observar, aqui temos dezoito (18) pessoas que participaram e contribuíram para a elaboração e publicação deste estudo. Na época, fui Bolsista de Iniciação Científica, entre 2001 e 2005, do Laboratório de Fisiologia Celular (FisCel) do Departamento de Fisiologia da UFRGS, sob orientação do Prof. Dr. Paulo Ivo Homem de Bittencourt Júnior (que é um verdadeiro gênio!). Em 2007, nossa equipe foi agraciada pela publicação em uma revista internacional. Enfim, Paulo Ivo é o primeiro autor, enquanto que Rui Curi foi o orientador e fonte financiadora. Os demais, foram coautores. 

 

Vejamos, agora, como ficou nosso estudo Fake? AHHH, lembre-se: inventei mais três pesquisadores para exemplificar a construção de nosso artigo.

 

Efeito antinociceptivo e analgésico do dibenzalacetona em modelo de dor crônica em ratos Wistar.

Joelso Peralta1, Fulano Physical Educator2, Sicrano Bioquimiques3, Beltrana Farmacol4.

1 - Nutricionista, Mestre em Ciências Médicas: Medicina e Doutorando junto ao Programa de Pós-graduação em Farmacologia e Terapêutica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

2 - Profissional de Educação Física, Mestre e Doutor em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS.

3 - Farmacêutico-Bioquímico, Mestre e Doutor em Ciências Biológicas: Bioquímica pela UFRGS, Professor do Departamento de Farmacologia da UFRGS.

4 - Farmacêutica, PhD em Neurociências e Farmacologia da Dor pela Harvard University, Professora do Departamento de Farmacologia-UFRGS e Professora Titular da Faculdade de Medicina da UFRGS.

Endereço para correspondência: Joelso Peralta – peraltanutri@gmail.com 

 

É óbvio que são nomes fictícios (rs), exceto EU. Da mesma forma, exceto EU, os demais currículos são fictícios (que criatividade, rs). Todavia, meu objetivo está sendo alcançado: exemplificar o passo a passo quanto a elaboração de um artigo científico. Portanto, vamos a última dica deste capítulo:

Observem que deve ser informado o nome de cada autor/coautor com uma breve descrição de seu currículo. Para tanto, vocês poderão usar números (1, 2, 3, etc.) ou letras (a, b, c, etc.) para identificá-los (geralmente os números ou letras são subscritos).

AHHH, não esqueçam de informar um endereço para correspondência (normalmente coloca-se do(a) orientador(a), mas coloquei o meu nome e endereço, devido caráter Fake de nosso artigo).

 

AGORA VEM O RESUMO E ABSTRACT

Nesta etapa, partiremos para a elaboração do resumo do Artigo Científico Fake. Confesso que faço apenas um esboço deste resumo, pois sua finalização só ocorrerá após o término do artigo, onde teríamos maior noção sobre os resultados, a discussão e a conclusão. OK, vamos às dicas:

Primeiro, as revistas limitam o número de caracteres ou palavras no resumo (2000, 2500, 3000), portanto, respeite. Seu documento do Word poderá lhe ajudar na contagem de palavras (siga: aba Revisão > Contar Palavras, que também poderá ser exibido no canto inferior esquerdo de seu computador/desktop ou notebook).

Segundo, o resumo é um texto INFORMATIVO E CURTO, onde devem constar os objetivos, os métodos (ou metodologia ou materiais e métodos), os resultados (os mais importantes, pois podem ser muitos) e a conclusão. A regra, contudo, é simples: siga as instruções da revista que deseja publicar seu estudo (falaremos das revistas na Parte 2).

Terceiro, devemos ou não usar siglas no resumo? Bem, alguns orientadores preferem que seus alunos não usem siglas no resumo (até para não extrapolar o número de caracteres previstos), enquanto que outros não se importam (pois até facilita a leitura). O fato é: precisa observar e respeitar as regras das revistas. Em nosso exemplo, partindo de um tema complexo e experimental, usei siglas no resumo, que facilitam a leitura. Portanto, tudo depende das características do estudo, onde poderá avaliar a necessidade ou não de siglas, mas respeite a contagem de palavras estabelecida pela revista.

Quarto, devemos ou não citar as referências bibliográficas no resumo? É resposta é curta e grossa: NÃO. Todavia, guarde adequadamente, de forma organizada, seus artigos e livros de consulta, pois certamente será cobrado por seu orientador no corpo do trabalho. Quer dizer, na introdução e na discussão, mas também na metodologia, resultados e, até mesmo, na conclusão, as referências costumam aparecer. Portanto, é um erro bastante comum que nós, professores/orientadores, nos deparamos com os alunos. Quer dizer, muitos alunos saem escrevendo sem citar a fonte/referência e depois surgem as perguntas: Quem disse isso? Quem disso aquilo? De onde você tirou essa informação? Como pode comprovar essa frase? Enfim, voltaremos a falar disso mais adiante.  

E, quinto, existem basicamente dois modelos básicos de resumo: estruturado e não estruturado.  

 

MODELO ESTRUTURADO DE RESUMO:

No resumo estruturado, como exemplo abaixo, o autor responde basicamente quatro elementos: objetivos, métodos, resultados e conclusão. Estes, são organizados em sessões e devidamente identificados no texto (por exemplo, em negrito). Vejam o exemplo em nosso estudo Fake:

 

Efeito antinociceptivo e analgésico do dibenzalacetona em modelo de dor crônica em ratos Wistar.

Resumo.

Objetivo: avaliar o efeito da suplementação de dibenzalacetona (DBA), um análogo sintético da curcumina, no alívio da dor crônica em ratos Wistar. Métodos: o modelo de dor crônica foi induzido pela injeção do Adjuvante Composto de Freund (CFA, 200 µg) no músculo gastrocnêmio dos animais. Os animais (n=12) foram randomizados em 2 grupos: CFA (animais sedentários e dor crônica); e CFA+DBA (animais sedentários, com dor crônica e suplementação de DBA). O DBA em lipossomas (100 mg/kg/dia) foi administrado por gavagem. O teste do limiar de dor foi realizado através da alodinia mecânica com filamentos de von Frey. Foi avaliado a expressão de interleucina-1b (IL-1b). Resultados: Com o filamento de von Frey, observou-se diferença significativa entre os grupos, onde os animais do grupo CFA+DBA apresentam aumento do limiar nociceptivo. Houve diferença significativa nos níveis de IL-1b entre os grupos. Conclusão: o tratamento com DBA foi eficaz para reduzir a dor crônica e a inflamação.

Palavras-chaves:

Dor crônica, curcumina, dibenzalacetona, interleucina-1b.

 

MODELO NÃO ESTRUTURADO DE RESUMO:

No resumo não estruturado, exemplificado abaixo, o autor não deixará de responder os quatro elementos básicos (objetivos, métodos, resultados e conclusão), porém não há necessidade de divisões ou sessões no texto. Quer dizer, o autor simplesmente escreve um único parágrafo, sem citar referências (mas não deixe de guardá-las adequadamente, pois vai precisar). Vejam o exemplo deste estudo Fake:

 

Efeito antinociceptivo e analgésico do dibenzalacetona em modelo de dor crônica em ratos Wistar.

Resumo.

Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito da suplementação de dibenzalacetona (DBA), um análogo sintético da curcumina, no alívio da dor crônica em ratos Wistar. Para tanto, o modelo de dor crônica foi induzido pela injeção do Adjuvante Composto de Freund (CFA, 200 µg) no músculo gastrocnêmio dos animais. Os animais (n=12) foram randomizados em 2 grupos: CFA (animais sedentários e dor crônica); e CFA+DBA (animais sedentários, com dor crônica e suplementação de DBA). O DBA em lipossomas (100 mg/kg/dia) foi administrado por gavagem. O teste do limiar de dor foi realizado através da alodinia mecânica com filamentos de von Frey. Foi avaliado a expressão de interleucina-1b (IL-1b). Nossos resultados mostram diferenças significativas entre os grupos com o filamento de von Frey, onde os animais do grupo CFA+DBA apresentam aumento do limiar nociceptivo. Também houve diferença significativa nos níveis de IL-1b entre os grupos. Enfim, concluímos que o tratamento com DBA foi eficaz para reduzir a dor crônica e a inflamação.

Palavras-chaves:

Dor crônica, curcumina, dibenzalacetona, interleucina-1b.

 

Ao final do resumo é importante destacar as palavras-chaves, geralmente 3, 6 ou até 10 palavras, dependendo das orientações das revistas. A justificativa para seu uso é simples: ajudar o leitor a encontrar ou identificar as temáticas de pesquisa que tem interesse, sem ter que ler o texto completo. É semelhante as letras e números que você encontra em uma biblioteca, onde esse código facilita a localização do livro. Já estamos acostumados com palavras-chaves, por exemplo, nas redes sociais geralmente usamos “tags” e “hashtags” para encontrar pessoas e serviços. Por vezes, as palavras-chaves são chamadas de descritores, o que não muda seu significado, tão pouco seu objetivo.

AHHH, importante: use palavras-chaves que não aparecem no título, pois estas já são palavras indexadoras que encaminham ao artigo científico. Claro, usei dibenzalacetona (DBA) no título e como palavra-chave, pois precisava orientar corretamente o foco de pesquisa, que é algo muito específico, diferenciado, inovador, desconhecido pela maioria das pessoas.  

Caso use siglas em seu resumo, limita-se apenas aquelas mais corriqueiras (ou seja, não invente sigla que só você usa e conhece). Como já disse, muitos autores não gostam de usar siglas no resumo, enquanto outros não enxergam problemas. Nas ciências biológicas e da saúde, contudo, o uso de siglas é bastante comum. Vejam, é muito mais simples usar a sigla DBA do que o termo “dibenzalacetona” em todo o corpo do trabalho, inclusive resumo. Claro, aquela regra básica sempre se mantém: uma vez usado uma sigla, não precisa ficar citando o termo e sua respectiva sigla o tempo todo. Em outras palavras, use a sigla na primeira vez que aparecer a palavra e, depois, use apenas a sigla até o final do artigo científico.

 

Além disso, você sabia que existem diferenças entre sigla e abreviatura?

 

Sim, essa é uma confusão bastante comum. Portanto, vamos esclarecer:

Na sigla, que é bastante comum em artigos científicos, todas as letras devem ser escritas com letra maiúscula. Por exemplo:

OMS (Organização Mundial de Saúde);

CEP (Código de Endereçamento Postal);

MEC (Ministério da Educação e Cultura);

CDC (Centers for Disease Control and Prevention; cujo tradução seria Centro de Controle e Prevenção de Doenças);

DBA (dibenzalacetona).

 

Observe que, geralmente, são apenas 3 letras maiúsculas, mas aceita-se até 4 letras, por exemplo:

IASP (International Association for the Study of Pain, ou seja, Associação Internacional para o Estudo da Dor).

 

Todavia, existem siglas com mais de 3 ou 4 letras e, neste caso, somente a letra inicial é maiúscula. Exemplos:

Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);

Detran (Departamento Estadual de Trânsito);

Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, ou seja, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

 

abreviatura é totalmente diferente, quer dizer, busca abreviar uma palavra. Por exemplo:

S.A. (sociedade anônima);

a.C. (antes de Cristo);

m (metros);

apto (apartamento).

 

Eu, como professor/orientador, aceito apenas que meus alunos usem siglas nos TCCs ou artigos científicos e, raramente, recorremos as abreviaturas (exceto as mais corriqueiras: m, metros; cm, centímetros; ml, mililitros; kg, quilogramas; etc.)

 

Por fim, uma grande parte das revistas também pedem uma versão do resumo em língua estrangeira (comumente no inglês, ou seja, Abstract). Portanto, vejamos como ficaria nosso abstract, modelo estruturado, na versão estrangeira:

 

Antinociceptive and analgesic effect of dibenzalacetone in chronic pain model in Wistar rats

Abstract

Objective: to evaluate the effect of the supplementation of dibenzalacetone (DBA), a synthetic analogue of curcumin, in the relief of chronic pain in Wistar rats. Methods: the chronic pain model was induced by the injection of Freund's Compound Adjuvant (CFA, 200 µg) in the gastrocnemius muscle of the animals. The animals (n=12) were randomized into 2 groups: CFA group (sedentary animals and chronic pain); and CFA+DBA group (sedentary animals, with chronic pain and DBA supplementation). DBA in liposomes (100 mg/kg/day) was administered by gavage. The pain threshold test was performed through mechanical allodynia with von Frey filaments. The expression of the interleukin-1b (IL-1b) were evaluated. Results: with the von Frey filament, a significant difference was observed between the groups, where the animals in the CFA+DBA group showed an increase in the nociceptive threshold. There was a significant difference in IL-1b levels between the groups. There was a significant difference in IL-1b levels between the groups. Conclusion: DBA treatment was effective in reducing chronic pain and inflammation.

Keywords:

Chronic pain, curcumin, dibenzalacetone, interleukin-1b.

 

ENFIM, CHEGAMOS NA INTRODUÇÃO

A introdução, segundo muitos alunos, é a parte difícil e apavorante do trabalho. De acordo com os alunos, o “grande problema é começar”. Após orientar 60 TCCs, entre graduação e pós-graduação, entendo perfeitamente esse temor. Para tanto, tenho três dicas importantes:

Primeira dica: aluno que lê bastante, escreve melhor! Aliás, não é qualquer leitura, mas leitura de livros técnicos e artigos científicos.

Segunda dica: simplesmente, comece! Não se preocupe, neste momento, se o texto está perfeito, atraente, agradável, apenas comece. Você precisa romper essa barreira, esse obstáculo, perdendo o medo de escrever. Lembre-se: FEITO é melhor que PERFEITO, neste momento.

Terceira dica: embora não existam regras para ser um bom escritor científico, existem algumas etapas que podem otimizar sua escrita, deixando seu texto (artigo) fantástico. Portanto, em minha experiência como professor e orientador, comece generalizando o assunto, o que deve render seu primeiro parágrafo. Em seguida, compare sua generalização com fatos já conhecidos de todos, o que deve gerar seu segundo parágrafo. Apresente, agora, fatos inéditos, desconhecidos, que permeiam sua pesquisa. Estes fatos inovadores, que todos gostariam de conhecer, deve render seu terceiro parágrafo. Por fim, lance um objetivo ou pergunta que precisa ser respondido em sua pesquisa, rendendo seu quarto e último parágrafo. Isso mesmo, sua introdução, em seu artigo científico, deve ter 4 (e no máximo 5) parágrafos.

AHHH, eu disse que voltaríamos a falar das referências bibliográficas que, agora, são fundamentais. Então, sendo curto e grosso: SIM, use referências na introdução. Desculpem-me a repetição, mas você não pode sair escrevendo sua introdução sem citar as fontes que se baseiam sua escrita. Caso contrário, surgiram, inevitavelmente, as perguntas do(a) orientador(a): Quem disse isso? Quem disso aquilo? De onde você tirou essa informação? Como pode comprovar essa frase?

Beleza, vou exemplificar a introdução em nosso Artigo Científico Fake e estabelecer os devidos comentários esclarecedores.

 

INTRODUÇÃO

PRIMEIRO PARÁGRAFO:

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, International Association for the Study of Pain) define dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial, podendo ser aguda ou crônica (IASP, 2022). O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, Centers for Disease Control and Prevention), estimou que 20,4% dos adultos americanos (50 milhões de pessoas) apresentavam dor crônica e 8,0% dos adultos americanos (19,6 milhões de pessoas) apresentavam dor crônica de alto impacto, caracterizada por uma dor severa capaz de incapacitar o indivíduo, com maior prevalência associada ao avanço da idade (DAHLHAMER et al., 2018). A prevalência de dor crônica no mundo oscila de 10,1 a 55,5% e, no Brasil, os estudos epidemiológicos são escassos não permitindo uma estimativa precisa (VASCONCELOS & ARAÚJO, 2018).

 

COMENTÁRIOS: Observe que apresentei a definição de dor e citei uma referência. Em seguida, generalizei o assunto, ou seja, relatei a importância do assunto de forma globalizada, mundial. Em todas as situações, especialmente quando são apresentados dados epidemiológicos, deve citar as referências. Aliás, use referências atuais, ou melhor, com defasagem de 5 anos. Por exemplo, seu artigo é de 2022? Então, pode opte por referências a partir de 2017. Claro, existem exceções: quando está referindo um estudo que deu origem a uma descoberta; ou na metodologia do artigo, que frequentemente citará protocolos técnicos descobertos no passado e usados até os dias atuais.

 

SEGUNDO PARÁGRAFO:

A dor é considerada um problema de saúde pública, pois conduz ao absenteísmo do trabalho, a incapacidade temporária ou permanente do indivíduo, a morbidade e elevados custos ao sistema de saúde, além de causar distúrbios do sono, ansiedade e depressão (YONG, MULLINS & BHATTACHARYYA, 2022). O alívio da dor crônica se dá por terapias farmacológicas (opióides; analgésicos não-opióides; corticoides e anti-inflamatórios não esteroides, AINES) e não farmacológicos (estimulação elétrica transcraniana repetitiva, rTMS; estimulação elétrica transcraniana por corrente contínua, TDCS; tratamento biopsicológico e terapia cognitivo comportamental, TCC) (HYLANDS-WHITE, DUARTE & RAPHAEL, 2017).

 

COMENTÁRIOS: Observe, agora, que eu trouxe o óbvio, o conhecido, o senso comum. O leitor precisa enxergar que sentir dor é um problema para ele e sua família, bem como para uma região ou país. Ao mesmo tempo, precisa saber que existe tratamentos disponíveis, mas que você pretende apresentar uma novidade, uma inovação no tratamento da dor, que estará no próximo parágrafo. AHHH, não deixe de citar as referências.


TERCEIRO PARÁGRAFO:

Novas estratégias terapêuticas devem ser estudadas no alívio da dor crônica, incluindo o exercício físico e o uso de nutracêuticos. O exercício físico é uma estratégia de baixo custo, segura e eficaz para promover a hipoalgesia induzida pelo exercício (KAMI, TAJIMA & SENBA, 2017). Além disso, o uso de nutracêuticos tem interesse no alívio da dor crônica. Nutracêuticos são compostos químicos específicos, extraídos de alimentos, cujo substância natural bioativa pode ser apresentada na forma de comprimidos, cápsulas, pós e líquidos, que podem prevenir e tratar doenças, bem como favorecer o bom funcionamento do organismo, embora sejam frequentemente confundidos com alimentos funcionais (ARONSON, 2017), que são consumidos como parte da dieta usual e sem necessidade de supervisão médica (ANVISA, 2022). Os nutracêuticos têm sido estudados no tratamento de várias doenças, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas (SACHDEVA, ROY & BHARADVAJA, 2020; JAIN et al., 2018). Entre os nutracêuticos, destaca-se a curcumina, que é o principal polifenol encontrado no açafrão da Índia (Curcuma longa), pertencente à família Zingiberaceae, uma planta perene herbácea nativa do Sudeste Asiático (KOTHA & LUTHRIA, 2019). As bioatividades atribuídas ao polifenol são inúmeras: antibacteriana, antifúngica, antiviral, antioxidante, anti-inflamatória, antidiabetes, neuroprotetora, cardioprotetora e hepatoprotetora (KOTHA & LUTHRIA, 2019; HEWLINGS & KALMAN, 2017; KUNNUMAKKARA et al., 2017). Entretanto, apesar das inúmeras bioatividades, a administração oral de curcumina possui limitações em decorrência da reduzida absorção intestinal e metabolização hepática, o que reduz sua forma ativa na circulação sistêmica, onde se recorre à administração de análogos sintéticos da curcumina, como o dibenzalacetona (DBA) (KOTHA & LUTHRIA, 2019).

 

COMENTÁRIOS: Com certeza o leitor ficou interessado, pois você trouxe algo inovador, inédito, desconhecido: uma nova terapêutica para o alívio da dor. Observe que o terceiro parágrafo, totalmente referenciado, é mais encorpado que os anteriores, pois você precisa convencer o leitor de sua terapêutica inovadora. Bem, agora torna-se fácil estabelecer o quarto e último parágrafo.

 

QUARTO PARÁGRAFO:

Neste estudo, propomos um experimento com animais suplementados com DBA. Nossa hipótese, portanto, é que DBA promove um efeito antinoceptivo e analgésico em modelo de dor crônica em ratos Wistar. 

 

COMENTÁRIOS: Por fim, finalize sua introdução apontando uma hipótese. A hipótese, em sua pesquisa, nada mais é que aquilo que o pesquisador está buscando responder. Ou, ainda, a hipótese é uma tentativa de expor um novo conhecimento dentro do campo de estudo, que deverá ser devidamente comprovado ou negado através da pesquisa.  Dessa forma, preste atenção: a hipótese não deve afirmar ou negar, mas, basicamente, lançar suas ideias, suas expectativas, suas hipóteses, que devem ser respondidas no corpo do trabalho.

  

E aí, gostou dessa “Parte 1” – VOCÊ SABE ESCREVER UM ARTIGO CIENTÍFICO? Como dito previamente, esse texto faz parte de um “Programa de Mentoria Acadêmica e Escrita Científica” que estou elaborando, cujo objetivo é ajudar VOCÊ (estudante das áreas de saúde, nível graduação, especialização e pós-graduação) quanto a escrita científica e elaboração de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Além disso, essa mentoria busca ajudar VOCÊ (recém graduado e profissional de saúde), que busca ingressar em um mestrado ou doutorado e, dessa forma, defender seu projeto e publicar seus estudos. Em breve, apresento a “Parte 2” e passarei maiores detalhes do programa de mentoria e escrita científica. Qualquer dúvida e para maiores informações pode me contatar pelo e-mail (jperaltanutri@gmail.com). Lembre-se: se gostou pode compartilhar, desde que citado a fonte: Prof. Joelso Peralta no Blog: https://peraltanutri.blogspot.com. AHHH, siga-me nas redes sociais (FACE: Joelso Peralta; Instagram: @peraltanutri).


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