REPOSIÇÃO DE TESTOSTERONA: O QUE SABEMOS DE VERDADE?
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina:
Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Na “Parte 1”
falei sobre as “estratégias mirabolantes” de dieta e
suplementação para aumentar os níveis naturais de testosterona, particularmente
dos estudos (ou melhor, da inexistência de estudos) em relação a pimenta
vermelha, gengibre, castanha de caju, gergelim, linhaça, ostras, salmão e
cafeína. Aliás, existem alimentos que aumentam os níveis naturais de
testosterona em homens e mulheres? Dessa forma, também falei dos estudos sobre
os micronutrientes: magnésio e zinco. Na “Parte 2” falei essencialmente
do colesterol, que é importante para a biossíntese de hormônios esteroides,
incluindo a testosterona. Porém, faltou falar dos ácidos graxos ômega-3 e
antioxidantes, o que nos remete à “Parte 3”. Essa será a última parte,
onde aproveito para falar da importância do sono e do treinamento, bem como da
polêmica Terapia de Reposição Hormonal (TRH). Vamos lá, mas aviso: o texto é
“grande”, mas repleto de estudos.
O SONO TEM IMPACTO SOBRE OS
NÍVEIS DE TESTOSTERONA?
Existe uma ciência chamada cronobiologia, que
estuda as características temporais da matéria viva em todos os níveis de
organização, o que inclui o estudo dos ritmos biológicos. Os ritmos
biológicos são os fenômenos que se repetem de tempos em tempos e, portanto,
de forma cíclica. Enfim, a cronobiologia é um ramo da biologia que estuda os
ritmos fisiológicos naturais dos organismos e, neste caso, o ritmo circadiano
(que se repete ocorre em 24 horas) é de grande interesse. Obviamente, quando se
fala em ritmo de 24 horas, logo pensamos no sono. Todavia, existem os ritmos
infradianos (que ultrapassam 24h, por exemplo, o ciclo menstrual que se
repete a cada 28 dias) e os ritmos ultradianos (que se repetem em um
período menor que 24h, por exemplo, os batimentos cardíacos).
O ciclo sono-vigília (acordar e dormir) é
comum em todas as espécies (leões, ursos, aves, ratos, seres humanos, etc.),
onde alguns se baseiam na luminosidade para sincronizar seu ritmo biológico com
o meio ambiente. Por exemplo, os seres humanos, normalmente, trabalham durante
o dia e dormem durante à noite. Já os ratos, estão mais ativos durante a noite
e dormem durante o dia. Um fenômeno pouco compreendido, mas repleto de
hipóteses, envolvem as aves migratórias, que verdadeiramente migram de uma
região para outra, percorrendo grandes distâncias. Entre as hipóteses, temos
migração na busca por alimentos; busca de temperaturas mais elevadas; para garantir
a sobrevivência da espécie através da reprodução; entre outras. Neste sentido,
uma alteração climática poderia desestabilizar o relógio biológico destas aves
e porque não dizer dos seres humanos?
Onde você quer chegar, professor?
AHHH sim, estou dizendo que as perturbações nos
ritmos biológicos podem afetar a saúde de todas as espécies. Especificamente, a
interrupção na regularidade dos padrões de sono pode confundir o relógio
biológico humano e, dessa forma, impactar negativamente sobre a saúde. Por
exemplo, a falta de sono ou excesso de iluminação na hora de dormir pode
prejudicar a secreção de melatonina (N-acetil-5-metoxitriptamina) pela
glândula pineal. Este “hormônio do sono”, por assim dizer, permite o sono tranquilo
e acolhedor, mas também possui efeitos antioxidantes e imunomoduladores. Além
disso, essas perturbações na qualidade do sono podem afetar os genes CLOCK (clock
controlled genes, relógio controlado por genes) e BMAL1 (brain and muscle Arnt-like protein-1,
proteína-1 cerebral e do músculo ligada ao Arnt), onde a melatonina e
neurotransmissores podem ser afetados. Neste sentido, duas leituras são
sugeridas:
Sandra J. Kuhlman et al. Introduction to
Chronobiology Cite. Cold Spring Harb
Perspect Biol 10: a033613, 2018 (doi: 10.1101/cshperspect.a033613).
Alexandra J. Trott; Jerome S. Menet.
Regulation of circadian clock transcriptional output by CLOCK:BMAL1. PLOS Genetics 1-34, 2018 (doi:
10.1371/journal.pgen.1007156).
Professor, conte-me mais sobre essa perturbação?
CLARO, vamos lá. Outro ponto que devemos considerar
é o efeito “jetlag” ou “jetlag social”. O termo refere-se à experiência
comum entre as pessoas que viajam para lugares com fusos horários diferentes,
quem já não sofreu? Neste exemplo clássico de perturbação do ritmo biológico, a
inadequação do padrão comum de sono deixa o indivíduo lento, preguiçoso, ou
seja, dessincronizado
de seu relógio biológico. Quando ocorre com frequência, existem relatos de irregularidades
menstruais, aumento da irritabilidade, alterações de humor, alterações nos
batimentos cardíacos e dos processos digestórios e fadiga. Existem estudos
neste sentido, onde aconselha-se a leitura:
M. Parsons et al.
Social jetlag, obesity and metabolic disorder: investigation in a cohort study.
International Journal of Obesity 39:
842-848, 2015 (doi: 10.1038/ijo.2014.201).
Conforme estudo supracitado, existe correlação
entre o “jetlag social” e a disfunção metabólica, obesidade e diabetes mellitus
tipo 2 (DM2).
Mas, professor, a privação do sono afeta a testosterona?
SIM, e deixa-me explicar. Um descompasso ou
desequilibro do ritmo biológico, devido “jetlag social” ou privação do sono dos
inúmeros motivos (preocupação e estresse, ansiedade, brigas entre casais, dor
ou desconforto, apneia do sono, refluxo gastroesofágico, excesso de estímulos
visuais, excesso de comida e/ou bebidas alcoólicas, excesso de cafeína, etc.), podem
acarretar consequências negativas à saúde, inclusive sobre os níveis de
testosterona. Para entender melhor, leia o estudo abaixo, que iremos conversar:
Konrad S Jankowski
et al. Chronotype, social jetlag and sleep loss in relation to sex steroids. Psychoneuroendocrinology 108: 87-93,
2019 (doi: 10.1016/j.psyneuen.2019.05.027).
Segundo autores, a perda de sono afeta os
níveis de desidroepiandrosterona (DHEA) que, como sabemos, este é precursor
primário para testosterona em homens e mulheres. Quer dizer, DHEA forma androstenodiol,
que dá origem a testosterona. A testosterona pode aromatizar para formar estradiol.
Lembre-se, ainda, uma grande quantidade de testosterona, nos homens, é produzida
pelas células de Leydig dos testículos. Todavia, em homens e mulheres, uma
pequena quantidade de testosterona é obtida a partir do DHEA na zona reticulosa
do córtex adrenal (glândula suprarrenal). Agora, vamos continuar o estudo
supracitado.
Konrad S Jankowski et al. (2019) mostraram que
perda de sono afeta negativamente os níveis de DHEA (e, consequentemente,
testosterona) em homens, mas não em mulheres. Quer dizer, nas mulheres, não
foram encontradas associações entre cronótipo (predisposição natural que cada
indivíduo tem de sentir picos de energia ou cansaço, de acordo com a hora do
dia) e os níveis hormonais. Aliás, um parêntese na explicação: cronótipo e
ritmo circadiano não são sinônimos. O cronótipo refere-se aos períodos do
dia que você se sente mais capaz, fisicamente e mentalmente, digamos assim.
Algumas pessoas são, portanto, diurnas ou matutinas, enquanto que outras são
mais noturnas ou vespertinas. Já ritmo circadiano, como já visto, envolve os
ritmos (sono, produção de hormônios, reprodução, etc.). No cronótipo (que
depende de cada um), temos uma espécie de sincronização dos ritmos circadianos
(que se repete a cada 24h).
Finalmente, este estudo não mostra alterações
na testosterona produzida a partir das células de Leydig dos testículos, em
homens, que perderam suas “boas noites de sono”. Portanto, vejamos outro
estudo:
Peter Y. Liu e Radha
T. Reddy. Sleep, testosterone and cortisol balance, and ageing men. Review Rev Endocr Metab Disord 24;1-17,
2022 (doi: 10.1007/s11154-022-09755-4).
Já neste estudo, a falta de sono e o
desalinhamento circadiano, generalizado na sociedade moderna, tem impacto no
envelhecimento e desenvolvimento de doenças, com menor produção de testosterona
matinal, vespertina e em 24h. Ao mesmo tempo, observa-se elevação do cortisol
pela manhã e ao longo de 24h. UAU, temos redução da testosterona (que é um
hormônio anabólico) com aumento de cortisol (que é um hormônio catabólico).
Cabe destacar que o cortisol, produzido pelo córtex adrenal (zona fasciculada),
promove gliconeogênese, lipólise e beta-oxidação dos ácidos graxos, bem como
proteólise. Vejamos outro estudo, pois o assunto está interessante:
Gary Wittert. The
relationship between sleep disorders and testosterone in men. Asian J Androl 16(2):262-5, 2014 (doi:
10.4103/1008-682X.122586).
No estudo acima, a testosterona e o hormônio
luteinizante (LH) apresentam variação circadiana, onde um mínimo de 3 horas de
sono são necessários para manter o balanço hormonal normal. Apenas 3h?
Sinceramente, esperava algo em torno de 4 ou 5h ou mais. Segundo autores, a produção
de testosterona pode estar reduzida em pacientes obesos, embora o distúrbio de
apneia do sono (síndrome da apneia obstrutiva do sono, SAOS) não tenha efeito
direto sobre a testosterona. Quer dizer, existe um efeito indireto, onde os
baixos níveis de testosterona são observados em pacientes obesos com SAOS, que
possuem baixa qualidade do sono e, segundo autores, podem requerer reposição
com baixas doses de testosterona. Deixa-me completar o raciocínio com outro
estudo do mesmo autor:
Gary Wittert. The
relationship between sleep disorders and testosterone. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes 21(3):239-43, 2014 (doi:
10.1097/MED.00000000000069).
Para Gary Wittert (2014), a privação do sono
reduz os níveis de testosterona e isso poderia afetar a massa muscular do
indivíduo. Aliás, deixa-me finalizar com um estudo interessante:
Séverine Lamon et
al. The effect of acute sleep deprivation on skeletal muscle protein synthesis
and the hormonal environment. Physiol Rep
9(1): e14660, 2021 (doi: 10.14814/phy2.14660).
Segundo estudo, a privação do sono afeta os
níveis de testosterona e seus baixos níveis afetam a síntese proteica muscular
(MPS). Os autores vão mais longe: a perda crônica do sono é um potencial agente
catabólico, corroborando para a perda de massa muscular. E, por fim, temos
valores impressionantes: a privação do sono reduziu em 18% a MPS, aumentou em 21%
os níveis de cortisol e diminuiu em 24% os níveis de testosterona.
Em conclusão, você deveria se preocupar mais
com suas horas de sono, especialmente se está submetido ao treinamento e dieta
voltados à hipertrofia muscular. Existem outras consequências da falta de sono,
que merece apenas citação: acidentes de trânsito, devido prejuízos na
capacidade de atenção; problemas de aprendizagem e memória; envelhecimento
precoce, incluindo rugas e linhas de expressão; e aumento do peso corporal,
devido inadequações nos horários das refeições, ansiedade e depressão.
O TREINAMENTO TEM IMPACTO
SOBRE OS NÍVEIS DE TESTOSTERONA?
Existem pessoas, professor e pesquisadores, mais
capacitados que eu para falar desta temática, mas deixo aqui minhas breves
considerações. Portanto, vejamos o seguinte estudo:
R. Schwanbeck et al. Effects of Training
With Free Weights Versus Machines on Muscle Mass, Strength, Free Testosterone,
and Free Cortisol Levels. J Strength Cond
Res 34(7):1851-1859, 2020 (doi: 10.1519/JSC.000000000003349).
Trata-se de um estudo randomizado com 46 indivíduos
(20 homens e 26 mulheres, entre 18 e 30 anos, média de 22 anos), que foram organizados
para treinar usando pesos livres ou máquinas. O estudo durou 8 semanas, onde cada
grupo muscular foi treinado 2 a 3 vezes por semanas (3 a 4 séries, 4 a 10
repetições). Obs.: Não falarei do treinamento, portanto, leia o estudo
para maiores detalhes. Continuando: a massa muscular é avaliada antes e
depois do treinamento com o sistema de pletismografia por deslocamento de ar
(BOD POD), que é um dos sistemas de avaliação mais completos do mundo.
Ultrassom também mediu a espessura do bíceps e quadríceps dos voluntários.
Foram coletados a testosterona e cortisol de saliva, sempre antes do treino.
E quais foram os resultados?
Segundo autores, o treinamento com pesos livres ou
máquinas (treinamento de força) aumentaram os níveis de testosterona livre em
homens, mas não em mulheres. Ainda, não há diferença entre pesos livres e
máquinas, pois ambos são eficazes para aumentar os níveis de testosterona livre,
que foi observado somente em homens. As mulheres, portanto, independente do
treino, não apresentam alterações nos níveis de testosterona. Deixa-me apresentar
alguns números:
NOS HOMENS:
Exercício com pesos livres:
testosterona livre passou de 194 para 218 pg/ml após 8 semanas de treinamento
(considerado significativo).
Exercício com máquinas:
testosterona livre passou de 143 para 160 pg/ml após 8 semanas de treinamento (considerado
significativo).
NAS MULHERES:
Exercício com pesos livres:
testosterona livre passou de 75 para 78 pg/ml após 8 semanas de treinamento (considerado
não significativo)
Exercício com máquinas:
testosterona livre passou de 70 para 87 pg/ml após 8 semanas de treinamento (considerado
não significativo).
AHHH, deixa-me trazer alguns valores de referência
para comparação, lembrando que o estudo avaliou a testosterona de saliva em
homens e mulheres com média de 22 anos de idade (portanto, os valores abaixo
são para testosterona livre salivar):
HOMENS:
21 a 30 anos: 47,2 a 136,2 pg/mL
31 a 40 anos: 46,8 a 106,8 pg/mL
41 a 50 anos: 36,5 a 82,7 pg/mL
51 a 60 anos: 19,1 a 89,0 pg/mL
61 a 75 anos: 12,2 a 68,6 pg/mL
MULHERES:
21 a 30 anos: 7,9 a 50,4 pg/mL
31 a 40 anos: Inferior 44,8 pg/mL
41 a 50 anos: Inferior 39,4 pg/mL
51 a 60 anos: Inferior 29,8 pg/mL
61 a 75 anos: Inferior 29,3 pg/mL
Com base nisso, cabe comentar: os
homens deste estudo já partiram de níveis elevados de testosterona salivar (143
a 194 pg/ml), que são valores maiores que a referência para idade do estudo (21
a 30 anos: 47,2 a 136,2 pg/ml). Da mesma forma, as mulheres deste estudo
partiram de valores aumentados de testosterona livre (70 a 75 pg/ml), que são
maiores que a referência para idade (21 a 30 anos: 7,9 a 50,4 pg/ml). A explicação
é simples: os indivíduos deste estudo eram previamente treinados, que é uma
limitação importante do estudo, como falaremos mais adiante (ou seja, gostaria
de ver o impacto do treinamento sobre os níveis de testosterona livre e total em
indivíduos sedentários ou pouco ativos).
Outros resultados mostram que a espessura do bíceps
foi maior e significativa nos homens, tanto em pesos livres, quanto em máquinas,
no período após 8 semanas. Essa diferença não foi observada em mulheres. De forma
similar, a espessura do quadríceps ocorreu de forma significativa apenas em
homens, após 8 semana de treinamento, mas não em mulheres. Embora não
significativo, um discreto aumento da espessura do bíceps e quadríceps em mulheres
mostra que a hipertrofia pode ser alcançada sem aumento correspondente de testosterona
livre, segundo autores (ou, penso eu, a espessura não foi significativa justamente
porque a testosterona livre não aumentou?). Por fim, em ambos os grupos, não
houve diferença quanto ao cortisol salivar.
Contudo, é importante fazer algumas considerações e
salientar algumas limitações do estudo.
Primeiro, um aumento da massa muscular não foi efetivamente
observado entre os grupos (homens e mulheres). Acredita-se que os indivíduos
tinham experiência prévia com treinamento e isso possa ter interferido nos resultados,
ou seja, já estariam próximos do nível máximo de massa corporal magra e/ou o estímulo
proposto (apenas 8 semanas) não foi suficientemente forte para causar
alterações.
Segundo, interessantemente as mulheres aumentaram espessura
do bíceps e quadríceps (discretamente e não significativo do ponto de vista estatístico),
onde sugere-se não existir relação causal entre hipertrofia e níveis de
testosterona, pelo menos em mulheres. Todavia, tenho minhas dúvidas: será que a
espessura não aumentou, em mulheres, justamente porque a testosterona livre não
aumentou com o treinamento de apenas 8 semanas em pessoas previamente treinadas?
Terceiro, foram avaliados a testosterona e cortisol da
saliva, o que pode não representar exatamente os níveis destes hormônios na
corrente sanguínea. Aliás, acredito que essa é a principal limitação do estudo.
Penso eu: usaram BOD POD e ultrassom (que são caros), mas não mensuraram hormônios
no sangue, porquê?
Quarto, o principal achado, portanto, é que o exercício com
pesos livres ou máquinas são igualmente eficazes para aumentar os níveis de
testosterona em homens, o que pode se refletir em aumento da massa muscular em
programas de treinamento mais longos (além de 8 semanas).
Gostou? Respira aí, pois falta a última parte!
O QUE SABEMOS SOBRE A REPOSIÇÃO
DE TESTOSTERONA?
Todos sabemos que o envelhecimento humano é um
processo natural e irreversível, que é acompanhado por alterações
morfofisiológicas que levam a progressiva diminuição da capacidade física e
orgânica, o que torna o indivíduo mais suscetível às doenças. Portanto,
nenhuma novidade até o momento!
Ao mesmo tempo, o processo parece afetar as pessoas
em velocidades diferentes, ou seja, argumenta-se que existir uma distinção
entre a idade cronológica e a idade biológica. Define-se como
idade cronológica a idade do indivíduo, em anos, desde o nascimento que
culminará, inevitavelmente, com sua morte. Em contrapartida, define-se como
idade biológica a queda das funções orgânicas que ocorrem em todas as pessoas,
porém algumas pessoas parecem não exibir o declínio da capacidade física e
orgânica com o passar dos anos, ou seja, parecem envelhecer em velocidades
diferentes. Portanto, parece bastante lógico, afinal conhecemos pessoas com 80
anos que parecem 18 anos, por assim dizer.
Quer dizer, todos nascem, crescem, se tornam
adultos, envelhecem e morrem, sendo essa a única certeza da vida. Porém, neste
processo lento e gradual do envelhecimento, onde alguns parecem envelhecer com
velocidades distintas e, neste sentido, todos querem “envelhecer lentamente”,
não é mesmo? Aliás, queremos viver mais e sem doenças, não é mesmo? Pois bem,
agora podemos falar da Medicina Anti-Aging e da Terapia de Reposição Hormonal
(TRH).
MEDICINA ANTI-AGING
A Medicina Anti-Aging (medicina
antienvelhecimento), uma linha da medicina preventiva e integrativa, diz que
podemos detectar, prevenir e tratar antecipadamente os sinais e sintomas do
envelhecimento humano. Quer dizer, a identificação precoce de possíveis problemas
de saúde ou doenças (ou seja, que não apareceram ainda, mas acredita-se que
possam surgir) podem ser tratados para proporcionar melhor qualidade de vida e
longevidade. Segundo defensores, um dos principais caminhos para se evitar
problemas de saúde, no futuro, é o ajuste do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal.
Dessa forma, vamos falar de TRH.
TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TRH)
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) visa repor os
hormônios que se perdem com o passar dos anos, ou seja, trata-se de uma ação corretiva
que visa normalizar os hormônios deficitários. Todavia, muitos tratamentos de
TRH repõem hormônios que ainda não estão em “queda livre”, cujo argumentação é aumentar
as taxas hormonais, com a utilização isolada ou combinada de hormônios, antes
de um decréscimo potencialmente prejudicial.
O tema, contudo, é polêmico. Por exemplo, o Conselho
Federal de Medicina (CFM) diz que faltam evidências científicas que justifiquem
a prática da chamada Medicina Anti-Aging (antienvelhecimento). Aliás, a medicina
anti-aging não é uma especialidade reconhecida pelo CFM e sua prática por
médicos brasileiros pode sofrer sanções da lei, devido Resolução CFM Nº 1999 de
27/09/2012. Agora que entendemos estes conceitos, ou melhor, entendemos os
pontos de vista dos médicos anti-aging e dos médicos da medicina tradicional ou
convencional, deixa-me passar minha opinião.
Professor, o que você pensa da TRH?
Acredito que a temática envelhecimento é
complexa e, certamente, não totalmente entendida. Parece lógico equilibrar ou corrigir
o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal quando o problema for diagnosticado,
especialmente em adultos e idosos, mas parece charlatanismo querer “repor” algo
que não está deficiente. Existem inúmeros estudos sobre o Climatério e a
Menopausa nas mulheres, bem como o Distúrbio Androgênico do Envelhecimento
Masculino (DAEM) ou, simplesmente, Andropausa nos homens. Neste sentido,
repito: parece lógico corrigir as taxas hormonais se os problemas de saúde
foram identificáveis e incômodos ao paciente. Por outro lado, existe muita
“reposição” em pacientes jovens e adultos sem qualquer justificativa plausível
e, pior, baseado em “falácia lógica” (raciocínio errado, misturado
com fatos verídicos, para enganar as pessoas).
Pois bem, acredito que a terminologia "antienvelhecimento” (e
algumas promessas do TRH) não é adequada. Por exemplo, existem centenários e
supercentenários (pessoas acima dos 110 anos) na Ilha de Okinawa, no Japão, o
que não se deve ao TRH, mas, sim, alimentação e estilo de vida saudável. Além
disso, não existem estudos sobre TRH avaliando biomarcadores, mensuráveis, do
envelhecimento. Portanto, como afirmar que TRH aumentou sua longevidade se não
pode comprovar? TRH pode desacelerar o processo de envelhecimento? Se isso for
um fato, cadê os estudos? Se isso for sua opinião pessoal, qual grau de
confiança devemos depositar em virtude de baixíssimo grau de evidência
científica? Sabemos que a falta de estudos neste campo abriu as portas,
literalmente, para biohackers (hackers
da própria biologia) com seus “laboratórios” de fundo de quintal, manipulando
genes e fazendo experimentos sem qualquer aprovação em Comitê de Ética e
Pesquisa (CEP). Portanto, o que são fatos científicos no campo da reprogramação
metabólica e o que não passam de ficção científica em “mentes extremamente
criativas”?
Por fim, sabemos que muitos buscam TRH não para
viver mais, mas, sim, para se apresentar mais belos, bonitos, esteticamente
atraentes. Já falei isso em outro post, mas pergunto: será que adotar a TRH ou
uso/abuso de esteroides anabólico-androgênicos (EAA) não refletem a insegurança
com a imagem corporal das pessoas, que parecem viver em uma sociedade que
valoriza as aparências?
NOTA: Em outra oportunidade falarei dos ácidos
graxos poli-insaturados ômega-3 e antioxidantes, que merecem matérias próprias.
Nessa ocasião, aproveitarei para retomar o contexto testosterona.
Lembre-se: se gostou pode compartilhar, desde
que citado a fonte: Prof. Joelso Peralta no Blog: https://peraltanutri.blogspot.com.
AHHH, siga-me nas redes sociais (@peraltanutri). O Programa de Mentoria Acadêmica e Escrita Científica e o Curso de Nutrição Esportiva Avançada
está em construção! Lendo minhas matérias neste Blog, poderá perceber a
profundidade do que estou preparando para vocês, mas te conto em breve!