O QUE É CRAVING ALIMENTAR?
JOELSO PERALTA, Nutricionista, Professor, Palestrante, Mestre em Medicina:
Ciências Médicas e Doutorando: PPG Farmacologia e Terapêutica - UFRGS.
Olá pessoal, tudo bem? Hoje quero discutir com vocês o conceito de
craving alimentar (desejo de comer) na obesidade, mas também conceituar outros
elementos. Prometo, como sempre, ser didático. Todavia, prometo, como sempre,
ser demasiadamente crítico, pois só assim podemos expandir os conhecimentos,
expressando nossas opiniões, porém baseado em evidências.
Por que falar de OBESIDADE?
A resposta é óbvia: a obesidade é um importante problema de saúde
pública no Brasil e no mundo. Segundo a Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), a obesidade é uma doença (https://cid10.com.br/), onde temos uma condição
inflamatória crônica com o acúmulo excessivo de gordura corporal e índice de
massa corporal (IMC) elevado (<https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight>).
Deixa-me apresentar alguns números:
De acordo com a Agência de Notícias do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), 25,9% das pessoas adultas são obesas (ou seja,
41,2 milhões de pessoas), enquanto que 60,3% da população adulta apresenta
sobrepeso (ou seja, 96 milhões de pessoas). O sobrepeso e a obesidade são mais
prevalentes em mulheres do que homens, considerando os indivíduos adultos. Aliás,
entre os adolescentes, a prevalência permanece no sexo feminino do que
no masculino. E, por fim, entre os idosos (igual ou maior que 60 anos de
idade), a prevalência para mulheres supera nos homens, novamente (<https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-10/ibge-obesidade-mais-do-que-dobra-na-populacao-com-mais-de-20-anos>).
Portanto, onde vamos
chegar com o excesso de peso?
Mulherada, o que está
acontecendo?
Homens, porque estão acima
do peso?
Crianças e
adolescentes, o que houve?
Idosos, onde vocês
querem chegar com o excesso de peso?
Deixa-me apresentar outros números:
Entre 2003 e 2019, a proporção de pessoas, adultas, com obesidade, de
ambos os sexos, passou de 12,2% para 26,8%. A obesidade feminina, passou
de 14,5% para 30,2% no mesmo período. Quanto aos homens, no mesmo período, passou
de 9,6% para 22,8%. Portanto, a obesidade praticamente dobrou, sendo mais
prevalente em mulheres (<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019>).
Não sei se você entendeu, mas vejam:
Em 1980, tínhamos 487 milhões de pessoas (adultos) com obesidade no
mundo. Em 2013, passamos para 838 milhões de pessoas (adultos) com
obesidade, sendo 2,1 bilhões de pessoas com sobrepeso (<https://abeso.org.br/numero-de-obesos-no-mundo-quase-dobrou-desde-1980>).
ASSUSTADOOOO? Tá, mas não acabou:
Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), temos 700
milhões com obesidade e 2,3 bilhões com sobrepeso. De acordo com
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), mais de 1 bilhão de pessoas são
obesas no mundo, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões são adolescentes e
39 milhões são crianças (<https://gastrovision.com.br/a-oms-preve-que-em-2025-cerca-de-23-bilhoes-de-adultos-estejam-com-sobrepeso-e-mais-de-700-milhoes-obesos-2/>).
E quais são os países recordistas em obesidade?
Boa! Entre os países recordistas em obesidade (entre 1975 a 2014), em
ordem de obesidade, destacam-se: Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Brasil (<https://exame.com/casual/os-paises-com-mais-obesos-no-mundo-brasil-e-um-deles/>).
E na América do Sul, quais são os recordistas?
Boa! Entre os países da América do Sul, no ano de 2016, com obesidade, em
ordem de obesidade, destacam-se: Argentina, Chile, Uruguai, Suriname,
Venezuela, Colômbia, Brasil, Paraguai, Guiana, Bolívia, Equador e Peru (<https://www.indexmundi.com/map/?v=2228&r=sa&l=pt>).
IMPRESSIONADOOO? Só um segundo, vou resumir:
Em 1989, no Brasil, tínhamos 8,8% da população adulta com obesidade
(cerca de 13 milhões de pessoas). Em 2002/2003, passamos para 11% (19
milhões de pessoas). Em 2008/2009, já existia 14,5% (27,5 milhões de
pessoas). Em 2014, observamos 18,2% (36,8 milhões). E, atualmente, são 25,9%
(41,2 milhões de pessoas) de pessoas com obesidade.
Quais são as projeções futuras?
É uma bela pergunta! Segundo as projeções publicadas pela BMJ Global Health, em 2060, teremos 88,1%
da população brasileira com sobrepeso e obesidade, o que resultará em um
impacto econômico de US$ 218,2 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão de reais)
(<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63005525>).
Portanto, porque falar de OBESIDADE?
Além dos números assustadores apresentados, não esqueça: a pessoa com sobrepeso
ou obesidade acumula uma série de comorbidades: síndrome metabólica,
dislipidemia, hipertensão, infarto, derrame, trombose venosa, diabetes, depressão,
ansiedade, hérnia discal, problemas articulares e ligamentares, problemas
dermatológicos, alguns tipos de câncer, entre outros.
O que leva uma pessoa ser OBESA?
As causas são inúmeras, pois a etiologia é multifatorial. Existem causas
genéticas, neuroendócrinas, relacionada aos péssimos hábitos alimentares,
sedentarismo, associados ao uso de alguns medicamentos, de ordem psicológica e
psiquiátrica. Nesta matéria, quero me dedicar ao craving alimentar (desejo de comer).
O que é CRAVING ALIMENTAR?
Craving alimentar pode ser definido
como um desejo alimentar, ou melhor, uma vontade instantânea, persistente e
incontrolável de ingerir um certo tipo de alimento hedônico. Hedônico ou “comer
hedônico” é uma espécie de “comer emocional”, ou seja, as pessoas estariam
se alimentando por estresse, ansiedade, situações emotivas e emocionais,
motivadas por hábitos familiares ou circuito de amizades... enfim, relacionadas
ao mecanismo de recompensa e prazer. Os alimentos selecionados, muitas vezes,
são doces (bolachas recheadas, chocolate, sobremesas, entre outros), mas também
aparecem os salgados e ricos em gordura (batatas fritas, hambúrgueres,
salgadinhos, etc.).
Não quero, nesta matéria, abordar o tratamento, mas apenas estabelecer alguns
conceitos importantes. Por exemplo, fome é uma sensação fisiológica pelo
qual nosso corpo percebe que necessita de alimentos (energia e nutrientes) para
manter suas atividades inerentes à vida. Os pacientes obesos, muitas vezes, não
exigem exatamente fome, mas, sim, vontade de comer. O termo apetite
seria o desejo de comer algo, vontade de comer alguma coisa, alimentar-se por
preferência. Quer dizer, o apetite implica o desejo por certos tipos de
alimentos, o que podem ser bons ou ruins, dependendo da seleção frequente
destes alimentos preferidos. Os pacientes obesos, muitas vezes, fazem escolhas
ruins de alimentação, baseada em fast
food (“comida rápida”) e junk foods
(“comida lixo”). Em outras palavras, a seleção de alimentos é altamente
palatável e calórica, pobre em fibras, vitaminas e minerais.
O termo saciedade seria o estado de satisfação completa em
relação aos alimentos, plena satisfação do apetite ou, para alguns, o contrário
da fome. Os pacientes obesos, muitas vezes, não se sentem saciados, onde distúrbios
endócrinos e neurobiológicos podem estar envolvidos. Um grande complicador,
digamos assim, é a vivencia e convivência em ambientes obesogênicos. Ambientes
obesogênicos são todos os fatores que contribuem para obesidade em um
determinado ambiente: acesso fácil aos fast
foods e junk foods (que estão associadas
as estratégias de marketing que incentivam a adesão de alimentos inadequados,
por exemplo, anúncios, embalagens e rótulos atrativos); contexto escolar e
educacional (crianças e adolescentes que ingerem lanches inadequados, adultos na
graduação e pós-graduação que não possuem tempo adequada para a seleção correta
de alimentos e estudantes que passam muitas horas em ambientes virtual e aulas online); funcionários de uma empresa que
passam horas e horas sentados na frente do computador (muitas vezes em trabalho
home office).
Para maiores detalhes, leiam:
Hisham Ziauddeen et al. Obesity and the neurocognitive basis of food
reward and the control of intake. Adv
Nutr 15;6(4):474-86, 2015 (<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26178031/>).
Michelle A Joyner et al. Food craving as a mediator between
addictive-like eating and problematic eating outcomes. Eat Behav 19:98-101, 2015 (doi: 10.1016/j.eatbeh.2015.07.005).
Phong Ching Lee, John B Dixon. Food for thought: reward mechanisms and
hedonic overeating in obesity. Curr Obes
Rep 6(4):353-361, 2017 (<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29052153/>).
Wendy Sun e Hedy Kober. Regulating Food Craving: From Mechanisms to
Interventions. Physiol Behav. 1; 222:
112878, 2020 (doi: 10.1016/j.physbeh.2020.112878).
Enfim, é óbvio que existem fatores neurobiológicos envolvidos, onde os centros
de fome e saciedade do hipotálamo merecem destaque (aliás, já discutido neste
blog). Meu objetivo, contudo, foi estabelecer uma reflexão sobre estes conceitos,
afinal o desejo de comer (craving alimentar) acompanha o ser humano há séculos.
Todavia, nunca vivemos em um ambiente obesogênico tão “tóxico”, impulsionados
pelas mídias sociais e vias de comunicação em massa. A reflexão, portanto,
faz-se necessária.
Lembre-se:
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