IVERMECTINA: ESTUDOS FRAUDULENTOS?
É engraçado como algumas coisas são divulgadas pelos
"doutores" defensores do tratamento precoce e DESinfluenciadores digitais
e outras são, simplesmente, ignoradas. Por exemplo, recentemente (dia
22/09/2021) saiu uma carta ao editor, publicada na Nature Medicine, que diz
respeito à lição aprendida com o uso da ivermectina: meta-análises baseadas
apenas em dados agregados são inerentemente não confiáveis, que foi totalmente ignorada.
O que isso quer dizer?
Bah tchê, quer dizer muita coisa, por exemplo:
O estudo randomizado do Dr. Ahmed Elgazzar et al.
(Efficacy and safety of ivermectin for tretment and prophylaxis of Covid-19
pandemic, 2020), na forma de preprint, sobre ivermectina, que apontou uma
redução de mortalidade de 90% no grupo tratado com medicamento para piolho é
uma fraude. Este estudo foi compartilhado nas mídias sociais (tantas vezes que perdi
a conta), mas para quem não lembra (ou disfarça que não lembra), o estudo está
sob investigação e foi retirado do ar devido "preocupações éticas".
Bah tchê, também quer dizer:
O Dr. Elgazzar não está sozinho neste "barco furado". Outro estudo
(Andrew Hill et al. Meta-analysis of randomized trials of ivermectin to treat
SARS-CoV-2 Infection. Open Forum Infectious Disease, 2021) declarou que vai
reanalisar e republicar seus dados. De acordo com Nature Medicine (2021),
outros estudos com o antiparasitário contém dados preocupantes e impossíveis de
serem replicados, que são incompatíveis com os dados registrados no estudos.
Existem, também, inúmeros estudos observacionais (que não estabelecem
causalidade) e preprints (talvez jamais publicados) preocupantes, ou seja,
muitos estudos que apoiam a ivermectina serão retirados do ar nos próximos
meses, segundo Nature Medicine.
Bah tchê, outra coisa que podemos dizer:
Claro que a carta da Nature Medicine (2021) é totalmente ignorada pelos
amantes do medicamento para piolho, assim como também é ignorado uma revisão
sistemática com meta-análise de ensaios clínicos randomizados, publicado em
2021, na Clinical Infecfions Diseases, que diz: a ivermectina não reduz
mortalidade, não melhora a clínica do paciente ou sua necessidade de ventilação
mecânica e não é uma opção viável para o tratamento da Covid (Ivermectin for
the treatment of coronavirus disease 2019: a systematic review and
meta-analysis of randimized controlled trials. Clinical Infectious Diseases,
2021).
Bah tchê, e qual a lição disso tudo?
Para mim, que não tenho preocupação em agradar Gregos e Troianos, mas
apenas trazer a verdade, mantendo minha sanidade mental e sono tranquilo à
noite, diria:
Primeiro, os estudos de baixa qualidade metodológica, questionáveis ou
fraudulentos, incluindo preprints, não deveriam ser divulgados em mídias
sociais por profissionais de saúde, pois, afinal, são profissionais de saúde.
Segundo, o estrago já foi feito, pois dados falsos, mentirosos e
fraudados se espalham rapidamente e dão a população uma falsa noção de
segurança na pandemia. O leigo, portanto, não consegue discernir o FATO do FAKE.
Terceiro, se estamos, ainda hoje, discutindo ivermectina na Covid-19 é
porque o estrago não foi grande, mas, sim, abissal, estratosférico, colossal,
descomunal. Quando "alguém diz" (que governante vocês acham?):
"Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Não entendemos porque
muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o
tratamento inicial", percebe-se, claramente, que estamos perdendo a
racionalidade, além de tempo e dinheiro.
Enfim, a fraude na ciência não é uma novidade, mas foi exacerbada na
pandemia de Covid-19. Quais são os motivos? Bah tchê, essa deixo para o caro
leitor refletir. Por outro lado, isso não significa que você deve desacreditar
na ciência, mas, sim, selecionar melhor o que lê, o que compartilha e que você
segue nas mídias sociais.