OBESIDADE E COVID-19, COMO ASSIM?
A obesidade
é uma condição crônica inflamatória de baixo grau, caracterizada pelo acúmulo
excessivo de gordura corporal, que é acompanhada pelo índice de massa corporal
(IMC) elevado. Mas, cuidado: IMC elevado não é sinônimo de obesidade. COMO
ASSIM, PROFESSOR? Explicando melhor: um fisiculturista (musculoso) de 1,72 m (estatura) e 130 kg (peso corporal), não poderia
ser chamado de obeso, mesmo com IMC elevado. Outros atletas, em diversas
categorias esportivas, se enquadram neste exemplo.
A Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10),
através do código E66, reconhece a obesidade como uma doença (Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde, CID-10. Disponível em: <https://cid10.com.br/>).
Agora, sim, a obesidade é uma DOENÇA, onde temos uma condição inflamatória crônica,
como acúmulo excessivo de gordura corporal e IMC elevado.
Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), a obesidade tornou-se um importante problema de saúde
pública em todo o mundo, onde o número de pessoas com obesidade atingiu a marca
de 700 milhões (www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight).
No Brasil, segundo a Agência de Notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br), 25,9% das pessoas são obesas (ou seja, 41,2
milhões de pessoas), sendo mais prevalente em mulheres do que homens (29,5% versus
21,8%, respectivamente). Estes dados são assustadores, pois em 2014,
quando consultamos o VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), tinhamos 17,6% de pessoas obesos.
A situação torna-se ainda
mais preocupante devido as comorbidades associadas à obesidade, ou seja, o paciente obeso parece
ganhar o “pacote completo” de problemas. COMO
ASSIM, PROFESSOR? Buenas, observe as comorbidades listadas abaixo:
•
Síndrome metabólica
•
Hipertensão arterial
•
Diabetes mellitus
•
Dislipidemia
•
Insuficiência cardíaca
•
Infarto agudo do miocárdio (IAM)
•
Angina pectoris
•
Insuficiência vascular periférica
•
Insuficiência venosa
•
Acidente vascular cerebral (AVC)
•
Trombose venosa profunda
•
Ateromatose
•
Edema
•
Arritmias
•
Irregularidades menstruais
•
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
• Hirsurtismo (que seria o excesso de pilosidade ou distribuição de pêlos
em mulheres, provavelmente associado às alterações hormonais)
•
Diabetes gestacional
• Pré-eclâmpsia (que são complicações graves durante a gravidez, incluindo
aumento da pressão arterial e proteinúria, bem como alterações em alguns
órgãos, como fígado e rins)
•
Aborto espontâneo
•
Ginecomastia
•
Hipoandrogenismo
•
Úlcera gástrica
•
Síndrome do intestino irritável
• Acantose nigricans (que seria uma lesão de pele que provoca espessamento
e hiperpigmentação da pele, relacionado as endocrinopatias)
•
Dermatites
• Tinea Corporis ou Dermatofitose (que é uma infecção da pele por fungos,
provocando irritação e erupções cutâneas)
•
Osteoartose
•
Hérnia de disco
•
Lombociatalgia (que é uma nevralgia ciática lombar dolorosa)
•
Síndrome nefrótica
•
Gota
•
Câncer de cólon
•
Câncer de reto
•
Câncer de próstata
•
Câncer de vesícula biliar
•
Câncer de mama
•
Câncer de ovário
•
Câncer de endométrio
•
Câncer de bexiga
•
Depressão
•
Ansiedade
•
Transtornos alimentares
•
Apnéia obstrutiva do sono
•
Hipoventilação
•
Colelitíase (que é a formação de cálculos biliares)
•
Esteato-hepatite não alcoólica ou doença hepática gordurosa não alcoólica
•
Doença do refluxo gastro esofágico (DRGE)
•
Gastrite
Então, SIM, a obesidade é uma condição clínica
preocupante, especialmente na pandemia de Covid-19. COMO ASSIM, PROFESSOR? Sim,
já existem relatos e estudos relacionando obesidade e Covid-10. Continue lendo
e reflita.
Na pandemia de COVID-19, doença
respiratória causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave
(SARS-CoV-2), as altas taxas de obesidade têm preocupado as organizações de
saúde. Segundo o relatório da Federação Mundial de Obesidade (http://www.worldobesity.org), as altas taxas de
obesidade em todo o mundo implicam em um maior risco para infecção e
complicações causadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Revisões sistemáticas
e metanálises destacam que a obesidade está associada ao maior risco de
admissão em unidades de terapia intensiva (UTI), complicações e adoecimento
para COVID-19 quando comparado aos pacientes não obesos (Mária Foldi et al. Obesity is a risk factor for developing critical
condition in COVID-19 patients: A systematic review and meta-analysis. Obesity
Review 21:e13095, 1-9, 2020; Vivek Singh Malik et al. Higher body mass index is
an important risk factor in COVID-19 patients: a systematic review and
meta-analysis. Environmental Science and Pollution Research 27:42115-42123,
2020). Ainda, o índice de massa corporal (IMC) elevado tem um papel
significativo na infecção por COVID-19 e severidade da doença em todas as
idades, especialmente na população idosa (Jun Yang,
Jiahui Hu e Chunyan Zhu. Obesity aggravates COVID-19: A systematic review and
meta-analysis. J Med Virol 93:257-261, 2021).
A obesidade também afeta o
setor econômico de qualquer país, especialmente no Brasil. COMO ASSIM,
PROFESSOR?
As complicações de saúde da
obesidade, em longo prazo, ultrapassam US$ 147 bilhões anuais nos EUA e mais de
R$ 3,6 bilhões anuais no Brasil. Ao mesmo tempo, existem custos indiretos da
obesidade que podem não estar sendo contabilizados, por exemplo, a redução na
qualidade de vida do cidadão, os desajustes sociais e a necessidade de
psicoterapia, a perda de produtividade devido absenteísmo do trabalho e a incapacidade
física com aposentadoria precoce e, até mesmo, o óbito em idade produtiva (Luciana R. Bahia e Denizar Vianna Araújo. Impacto
econômico da obesidade no Brasil. Revista HUPE, Rio de Janeiro 13(1):13-17, 2014).
Então, novamente, a obesidade é uma preocupação em tempos de pandemia, onde as causas da condição clínica é multifatorial. COMO ASSIM, PROFESSOR? De maneira geral, a etiopatogenia (ou seja, as causas da obesidade) tem muitas facetas e não podemos nomear um único culpado. É bem provável que a combinação de vários fatores possam favorecer ao ganho de peso e obesidade. Neste caso, podemos citar (extraído da palestra do meu amigo Dr. Odilon Netto Júnior):
CAUSAS GENÉTICAS E CONGÊNITAS:
Síndrome de Prader-Willi
Síndrome de Down
Bardet-Biedel
Alstrom
Cohen
Carpenter
CAUSAS NEUROENDÓCRINAS:
Síndrome de Cushing
Distúrbios hipotalâmicos
Hipotireoidismo
Síndrome do ovário policístico
Deficiência do hormônio do
crescimento (GH)
CAUSAS RELACIONADAS À MÁ ALIMENTAÇÃO:
Dietas hipercalóricas
Baixa qualidade alimentar
Distúrbios alimentares
Síndrome da alimentação
noturna
Transtorno de compulsão
alimentar
Bulimia nervosa
CAUSAS RELACIONADAS AO USO DE MEDICAMENTOS:
Antipsicóticos: haldol,
clorpromazina, risperidona
Antidepressivos: amitriptilina
Antiepiléticos: ácido
valpróico, valproato de sódio
Estabilizadores do humor:
lítio
Antidiabéticos: sulfoniuréias
Anti-histamínicos
Corticóides
Anti-hipertensivos
Inibidores da protease
Outras causas, contudo, incluem
a interrupção do tabagismo e as alterações do gasto energético, incluindo a taxa
metabólica de repouso (TMR) e a taxa metabólica basal (TMB), o efeito térmico
dos alimentos e o gasto calórico com atividades cotidianas e o esforço físico. Ainda,
existem fatores ambientais precoces que não podem ser esquecidos, como o
aleitamento materno e a presença de pais obesos com um comportamento alimentar
não saudável, favorecendo a obesidade infantil.
Enfim, podemos discutir estratégias “anti-obesidade”, digamos assim, futuramente, mas agora cabe a pergunta:
POR QUE A POPULAÇÃO ESTÁ CADA VEZ MAIS OBESA E, NA PANDEMIA, O QUE VOCÊ VAI FAZER DE DIFERENTE A PARTIR DE AGORA?