sábado, 11 de setembro de 2021

OBESIDADE E COVID-19

 


OBESIDADE E COVID-19, COMO ASSIM?

A obesidade é uma condição crônica inflamatória de baixo grau, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que é acompanhada pelo índice de massa corporal (IMC) elevado. Mas, cuidado: IMC elevado não é sinônimo de obesidade. COMO ASSIM, PROFESSOR? Explicando melhor: um fisiculturista (musculoso) de 1,72 m (estatura) e 130 kg (peso corporal), não poderia ser chamado de obeso, mesmo com IMC elevado. Outros atletas, em diversas categorias esportivas, se enquadram neste exemplo.   

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), através do código E66, reconhece a obesidade como uma doença (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, CID-10. Disponível em: <https://cid10.com.br/>). Agora, sim, a obesidade é uma DOENÇA, onde temos uma condição inflamatória crônica, como acúmulo excessivo de gordura corporal e IMC elevado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade tornou-se um importante problema de saúde pública em todo o mundo, onde o número de pessoas com obesidade atingiu a marca de 700 milhões (www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight). No Brasil, segundo a Agência de Notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br), 25,9% das pessoas são obesas (ou seja, 41,2 milhões de pessoas), sendo mais prevalente em mulheres do que homens (29,5% versus 21,8%, respectivamente). Estes dados são assustadores, pois em 2014, quando consultamos o VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), tinhamos 17,6% de pessoas obesos.

A situação torna-se ainda mais preocupante devido as comorbidades associadas à obesidade, ou seja, o paciente obeso parece ganhar o “pacote completo” de problemas. COMO ASSIM, PROFESSOR? Buenas, observe as comorbidades listadas abaixo:

      Síndrome metabólica

      Hipertensão arterial

      Diabetes mellitus

      Dislipidemia

      Insuficiência cardíaca

      Infarto agudo do miocárdio (IAM)

      Angina pectoris

      Insuficiência vascular periférica

      Insuficiência venosa

      Acidente vascular cerebral (AVC)

      Trombose venosa profunda

      Ateromatose

      Edema

      Arritmias

      Irregularidades menstruais

      Síndrome dos ovários policísticos (SOP)

  Hirsurtismo (que seria o excesso de pilosidade ou distribuição de pêlos em mulheres, provavelmente associado às alterações hormonais)

      Diabetes gestacional

  Pré-eclâmpsia (que são complicações graves durante a gravidez, incluindo aumento da pressão arterial e proteinúria, bem como alterações em alguns órgãos, como fígado e rins)

      Aborto espontâneo

      Ginecomastia

      Hipoandrogenismo

      Úlcera gástrica

      Síndrome do intestino irritável

 Acantose nigricans (que seria uma lesão de pele que provoca espessamento e hiperpigmentação da pele, relacionado as endocrinopatias)

      Dermatites

  Tinea Corporis ou Dermatofitose (que é uma infecção da pele por fungos, provocando irritação e erupções cutâneas)

      Osteoartose

      Hérnia de disco

      Lombociatalgia (que é uma nevralgia ciática lombar dolorosa)

      Síndrome nefrótica

      Gota

      Câncer de cólon

      Câncer de reto

      Câncer de próstata

      Câncer de vesícula biliar

      Câncer de mama

      Câncer de ovário

      Câncer de endométrio

      Câncer de bexiga

      Depressão

      Ansiedade

      Transtornos alimentares

      Apnéia obstrutiva do sono

      Hipoventilação

      Colelitíase (que é a formação de cálculos biliares)

      Esteato-hepatite não alcoólica ou doença hepática gordurosa não alcoólica

      Doença do refluxo gastro esofágico (DRGE)

      Gastrite

Então, SIM, a obesidade é uma condição clínica preocupante, especialmente na pandemia de Covid-19. COMO ASSIM, PROFESSOR? Sim, já existem relatos e estudos relacionando obesidade e Covid-10. Continue lendo e reflita.

Na pandemia de COVID-19, doença respiratória causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), as altas taxas de obesidade têm preocupado as organizações de saúde. Segundo o relatório da Federação Mundial de Obesidade (http://www.worldobesity.org), as altas taxas de obesidade em todo o mundo implicam em um maior risco para infecção e complicações causadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Revisões sistemáticas e metanálises destacam que a obesidade está associada ao maior risco de admissão em unidades de terapia intensiva (UTI), complicações e adoecimento para COVID-19 quando comparado aos pacientes não obesos (Mária Foldi et al. Obesity is a risk factor for developing critical condition in COVID-19 patients: A systematic review and meta-analysis. Obesity Review 21:e13095, 1-9, 2020; Vivek Singh Malik et al. Higher body mass index is an important risk factor in COVID-19 patients: a systematic review and meta-analysis. Environmental Science and Pollution Research 27:42115-42123, 2020). Ainda, o índice de massa corporal (IMC) elevado tem um papel significativo na infecção por COVID-19 e severidade da doença em todas as idades, especialmente na população idosa (Jun Yang, Jiahui Hu e Chunyan Zhu. Obesity aggravates COVID-19: A systematic review and meta-analysis. J Med Virol 93:257-261, 2021).

A obesidade também afeta o setor econômico de qualquer país, especialmente no Brasil. COMO ASSIM, PROFESSOR?

As complicações de saúde da obesidade, em longo prazo, ultrapassam US$ 147 bilhões anuais nos EUA e mais de R$ 3,6 bilhões anuais no Brasil. Ao mesmo tempo, existem custos indiretos da obesidade que podem não estar sendo contabilizados, por exemplo, a redução na qualidade de vida do cidadão, os desajustes sociais e a necessidade de psicoterapia, a perda de produtividade devido absenteísmo do trabalho e a incapacidade física com aposentadoria precoce e, até mesmo, o óbito em idade produtiva (Luciana R. Bahia e Denizar Vianna Araújo. Impacto econômico da obesidade no Brasil. Revista HUPE, Rio de Janeiro 13(1):13-17, 2014).

Então, novamente, a obesidade é uma preocupação em tempos de pandemia, onde as causas da condição clínica é multifatorial. COMO ASSIM, PROFESSOR? De maneira geral, a etiopatogenia (ou seja, as causas da obesidade) tem muitas facetas e não podemos nomear um único culpado. É bem provável que a combinação de vários fatores possam favorecer ao ganho de peso e obesidade. Neste caso, podemos citar (extraído da palestra do meu amigo Dr. Odilon Netto Júnior):

CAUSAS GENÉTICAS E CONGÊNITAS:

Síndrome de Prader-Willi

Síndrome de Down

Bardet-Biedel

Alstrom

Cohen

Carpenter

CAUSAS NEUROENDÓCRINAS:

Síndrome de Cushing

Distúrbios hipotalâmicos

Hipotireoidismo

Síndrome do ovário policístico

Deficiência do hormônio do crescimento (GH)

CAUSAS RELACIONADAS À MÁ ALIMENTAÇÃO:

Dietas hipercalóricas

Baixa qualidade alimentar

Distúrbios alimentares

Síndrome da alimentação noturna

Transtorno de compulsão alimentar

Bulimia nervosa

CAUSAS RELACIONADAS AO USO DE MEDICAMENTOS:

Antipsicóticos: haldol, clorpromazina, risperidona

Antidepressivos: amitriptilina

Antiepiléticos: ácido valpróico, valproato de sódio

Estabilizadores do humor: lítio

Antidiabéticos: sulfoniuréias

Anti-histamínicos

Corticóides

Anti-hipertensivos

Inibidores da protease

Outras causas, contudo, incluem a interrupção do tabagismo e as alterações do gasto energético, incluindo a taxa metabólica de repouso (TMR) e a taxa metabólica basal (TMB), o efeito térmico dos alimentos e o gasto calórico com atividades cotidianas e o esforço físico. Ainda, existem fatores ambientais precoces que não podem ser esquecidos, como o aleitamento materno e a presença de pais obesos com um comportamento alimentar não saudável, favorecendo a obesidade infantil.

Enfim, podemos discutir estratégias “anti-obesidade”, digamos assim, futuramente, mas agora cabe a pergunta: 

POR QUE A POPULAÇÃO ESTÁ CADA VEZ MAIS OBESA E, NA PANDEMIA, O QUE VOCÊ VAI FAZER DE DIFERENTE A PARTIR DE AGORA?